União Europeia reconhece dívida ucraniana à Gazprom

De acordo com a avaliação da Gazprom, durante o pico de consumo de gás no inverno ucraniano, o deficit poderá oscilar entre 140 e 220 milhões de metros cúbicos por dia Foto: Reuters

De acordo com a avaliação da Gazprom, durante o pico de consumo de gás no inverno ucraniano, o deficit poderá oscilar entre 140 e 220 milhões de metros cúbicos por dia Foto: Reuters

De acordo com analistas, a aproximação do outono e o aumento da demanda por aquecimento tornam urgente a resolução do conflito.

Durante as negociações entre a ucraniana Naftogaz, a russa Gazprom e a União Europeia, realizadas em 29 de agosto em Moscou, ficou decidido que a Comissão Europeia irá propor em breve à Ucrânia um cronograma de amortização da dívida referente ao fornecimento de gás russo ao país. Segundo informou a agência de notícias russa Itar-Tass, o comissário europeu para a Energia, Günther Oettinger, disse esperar que a Naftogaz comece a pagar a dívida já nos próximos meses. "A dívida da Naftogaz com a Gazprom é ‘indiscutível’", disse o comissário.

Segundo dados da estatal russa Gazprom, o total da dívida da Ucrânia chega a US$ 5,3 bilhões. Como afirmou depois das conversações o presidente do grupo Gazprom, Aleksêi Miller, para a retomada do fornecimento de gás, a Ucrânia terá primeiro que saldar a dívida de US$ 1,45 bilhão pelo consumo de novembro e dezembro de 2013 e depois, então, negociar o parcelamento da dívida e o pagamento parcial pelos fornecimentos de abril, maio e junho de 2014.

Proximidade do outono

Como explicou o principal analista da empresa de investimentos UFS IC, Iliá Balakirev, quando mais se aproxima o frio, mais persistente fica a parte europeia nas negociações. "Na verdade, nas circunstâncias atuais, é precisamente a UE a parte mais vulnerável. A Rússia pode se dar ao luxo de esperar, uma vez que o tempo joga a favor da Gazprom. A Ucrânia já demonstrou que é capaz dos atos mais inesperados e até mesmo ‘suicidas’. Nesse contexto, é a União Europeia que se vê como parte mais interessada na resolução rápida do conflito", disse o analista.

"É evidente que a atual situação da dívida ucraniana, da transferência para o sistema de pré-pagamento do gás e da retoma do fornecimento à Ucrânia é tema de comércio internacional", disse o vice-chefe do Departamento de Regulação Estatal da Economia da Academia Presidencial Russa de Economia Nacional e da Administração Pública (RANKHiGS), Ivan Kapitonov. Segundo ele, até agora, as autoridades ucranianas assumiram uma posição bastante confiante, afirmando que o país conseguiria ficar sem o fornecimento de gás russo. "Para fazer isso o país entrou em modo de poupança: parte das caldeiras foram adaptadas ao biogás, a água quente foi cortada em Kiev e recomendações foram dadas aos moradores para se manterem aquecidos", acrescentou. Kapitonov acredita que a mudança da estação, que apressou o processo de negociação, juntamente com a falta de alternativas, irá possivelmente levar a Ucrânia a adotar a única decisão correta, que é a de pagar a dívida e a de concordar no fornecimento de gás ao preço proposto de US$ 385 por mil metros cúbicos.

Apesar da aproximação do início do outono, a parte ucraniana mais uma vez rejeitou o preço do gás e o método de cálculo proposto pela Rússia. Segundo declarou o ministro ucraniano da Energia, Iúri Prodan, o preço de US$ 385 por mil metros cúbicos proposto pela Gazprom é discriminatório. "Mais uma vez escutamos o preço de US$ 385 resultante de um suposto desconto de US$ 100 feito sobre o preço original de US$ 485, à custa da eliminação das taxas. Ou seja, na opinião da parte russa, o preço de US$ 485 é um preço justo e de mercado", diz um comunicado publicado no site do Ministério de Energia da Ucrânia. Anteriormente, em 22 de agosto, o primeiro-ministro ucraniano, Arsêni Iatseniuk, disse que Kiev continuava não concordando com o preço do gás estabelecido pela Rússia, mas que espera comprar da Gazprom não menos do que 5 bilhões de metros cúbicos de gás. Ainda de acordo com o primeiro-ministro, o Banco Nacional da Ucrânia já reservou US$ 3,1 bilhões para a compra.

Risco de instabilidade

De acordo com a avaliação da Gazprom, durante o pico de consumo de gás no inverno ucraniano, o deficit poderá oscilar entre 140 e 220 milhões de metros cúbicos por dia. Por isso Kiev precisa bombear antes da chegada do frio 10 bilhões de metros cúbicos para os depósitos subterrâneos. No entanto, devido à falta de pagamento crônica por parte da Naftogaz, a Gazprom se viu obrigada a transferir a Ucrânia para o sistema de fornecimento de gás pré-pago desde o dia 16 de junho, data em que foi interrompido o fornecimento direto ao país.

Apesar da medida, não se verificaram por enquanto interrupções no fornecimento de gás à Europa através da Ucrânia, por onde passa cerca de 50% do gás russo para o mercado europeu – cerca de 80 bilhões de metros cúbicos.

“O risco de surgimento de problemas com o trânsito do gás é elevado”, diz o analista da financeira Investkafe, Grigóri Birg. Segundo ele, no final de julho havia nos depósitos ucranianos apenas 14 bilhões de metros cúbicos de gás, sendo que para garantir o aquecimento durante o outono e inverno o país necessita de mais de 18 bilhões de metros cúbicos.

"É encorajadora a notícia de que as partes estão negociando, que foram capazes de superar os ressentimentos mútuos e entender que têm que negociar", disse Dmítri Baránov, analista-chefe da empresa UK Finam Management. Segundo ele, a aproximação da temporada de aquecimento obriga as partes a intensificarem as conversações. "A Rússia, a Ucrânia e UE têm tudo para negociar entre elas, só resta esperar que isso aconteça."

 

Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies