Desvalorização do rublo e sanções provocam crescimento da indústria na Rússia

De acordo com a pesquisa, as primeiras empresas a melhorar seus indicadores foram as companhias de engenharia e metalurgia Foto: Press Photo

De acordo com a pesquisa, as primeiras empresas a melhorar seus indicadores foram as companhias de engenharia e metalurgia Foto: Press Photo

Proibições da União Europeia e dos EUA estimularam programa de substituição das importações anunciado por Moscou.

Apesar da estagnação do PIB, observa-se na Rússia um aumento incomum da atividade industrial. De acordo com uma pesquisa realizada pelo banco HSBC e pelo Instituto de Política Econômica Egor Gaidar, foi registrado no país pelo terceiro mês seguido o aumento na produção industrial. “A atuação da indústria é muito natural para a demanda atual e apesar da situação econômica geral e das previsões de especialistas, mantém uma dinâmica positiva em termos de produção", diz o estudo.

De acordo com a pesquisa, as primeiras empresas a melhorar seus indicadores foram as companhias de engenharia e metalurgia que, em resultado da proibição das exportações da Ucrânia, receberam uma parcela adicional do mercado interno. Além disso, em agosto de 2014 a indústria orientada para o consumo doméstico teve bons resultados, inclusive a de alimentos, que também conta com a substituição de parte dos produtos importados. No entanto, de acordo com analistas, a substituição de importações não poderia ter começado a partir de junho de 2014, portanto o crescimento industrial é uma consequência dos acontecimentos de fevereiro e março de 2014, ou seja, da leve desvalorização do rublo que ocorreu no início do ano.

Segundo o principal analista da empresa de investimentos UFS IC, Aleksêi Kozlov, de acordo com os resultados do último mês do verão russo, o crescimento da produção industrial no país deve-se a vários motivos. "Em primeiro lugar está o aumento da demanda para os produtos da indústria metalúrgica devido à substituição de produtos importados da Ucrânia", disse. Para o analista, a demanda por aço e outros produtos metalúrgicos está associada à implementação de projetos de construção de gasodutos, em particular o South Stream, na Europa, e o Forças da Sibéria, na China.

"Em segundo lugar, está o aumento de projetos estatais no complexo militar-industrial", continuou Kozlov. No terceiro lugar ele coloca o crescimento da produção alimentar e agrícola, devido à necessidade de substituição das importações.

De acordo com o chefe do departamento de análise da financeira Russ-Invest, Dmítri Bedenkov, o crescimento está ligado às indústrias manufatureiras. "Nos sete primeiros meses de 2014 o crescimento nesses setores atingiu 2,6% em comparação com 0,8% no setor de mineração", disse o especialista.

Anton Soroko, analista da empresa de investimentos Finam, disse que a principal contribuição para o crescimento das indústrias manufatureiras foi a desvalorização do rublo ocorrida no início do ano, bem como o aumento da demanda da China. “Neste momento, os produtores de alimentos estão recebendo lucros exorbitantes devido a uma rápida limitação da oferta dos produtos importados equivalentes que antes podiam vencer a concorrência local em vários critérios", acrescentou Soroko. O analista acredita que de qualquer maneira o confronto com os países ocidentais afetará o crescimento da economia russa no curto prazo.

Crescimento constante

No total, o índice da produção industrial no período de janeiro a julho de 2014 foi 101,5% maior que em comparação com o mesmo período do ano passado, informou Olga Izryadnova, uma dos principais pesquisadoras do Centro de Pesquisa Macroeconômica da Academia Russa de Economia Nacional e Administração Pública. Segundo ela, a produção de bens de consumo no mesmo período cresceu 3,3%, de vagões de passageiros 5,7% e de caminhões 12,7%. A fabricação de produtos têxteis e itens de vestuário aumentou em 6%, enquanto a produção de equipamentos eletrônicos de comunicações subiu 17,6%.

No entanto, nem todos os setores da economia russa tiveram crescimento. "Entre os setores mais atrasados​​, que não permitiram que o PIB crescesse no segundo trimestre de 2014, estão o setor de serviços e o financeiro. A retirada em massa de licenças de bancos, a instabilidade do rublo e o aumento dos riscos geopolíticos teve impacto negativo sobre as instituições financeiras", disse Aleksêi Kozlov.

De acordo com Olga Izriádnova, a redução do consumo de hidrocarbonetos da Rússia também teve um impacto negativo sobre o crescimento da economia. "A queda da dinâmica de exportação de matérias-primas tradicionais e seus derivados, bem como a redução do volume no complexo de construção e de investimento teve impacto negativo para a dinâmica de indicadores gerais econômicos", disse ela. Além disso, a produção de automóveis no período de janeiro a julho de 2014 caiu 0,7%, e a de caminhões 21,1%.

Apesar disso, os especialistas dizem que, caso o crescimento da produção industrial continue, no final do ano deverá ultrapassar até as previsões do Ministério da Economia - 1,7% por ano. De acordo com um estudo do instituto Gaidar, em um cenário positivo, a indústria russa poderá continuar crescendo até o primeiro ou segundo trimestre de 2015, quando haverá maior efeito da substituição de importações na área de produção de alimentos, devido à proibição da importação de alimentos da União Europeia e dos Estados Unidos. Assim, a economia russa poderia sair da estagnação. 

 

Confira outros destaques da Gazeta Russa na nossa página no Facebook

Todos os direitos reservados por Rossiyskaya Gazeta.

Este site utiliza cookies. Clique aqui para saber mais.

Aceitar cookies