Sanções suíças e crise na Ucrânia provocam queda no mercado de ações russo

A queda do mercado russo tem menos a ver com os acontecimentos na Ucrânia, do que com os acontecimentos na Europa Foto: Serguêi Kuznetsov/RIA Nóvosti

A queda do mercado russo tem menos a ver com os acontecimentos na Ucrânia, do que com os acontecimentos na Europa Foto: Serguêi Kuznetsov/RIA Nóvosti

De acordo com os resultados da semana, o índice MICEX caiu 3,17%, após uma subida de 2% na semana anterior.

A intensificação dos combates no leste da Ucrânia no final de agosto se refletiu no valor dos ativos russos: em uma semana, os índices russos caíram 3%. Só no dia 28 de agosto os índices RTS e MICEX caíram 1,7 e 3,3%, respectivamente, enquanto o dólar se aproximou do seu valor máximo histórico na Bolsa de Moscou. Foi nesse dia que o presidente da Ucrânia, Petrô Porochenko, anunciou a presença de tropas russas no sudeste do país e a Suíça aderiu às sanções contra a Rússia.

"A queda foi bastante sentida e foi também desagradável o fato de ela ter dado um sinal técnico negativo bem definido, tendo feito com que, em parte, a descida continuasse também na sexta-feira", disse o principal analista da empresa de investimenros UFS IC, Iliá Balákirev. Segundo ele, a situação do mercado de câmbio está particularmente ruim, com o rublo alcançando valores mínimos históricos em relação ao dólar e ao euro. Depois, perto do final da semana, as vendas de ações a preços baixos estagnaram, apesar do contexto geopolítico ainda tenso.

As razões da descida

Especialistas associam as principais causas da queda dos índices russos ao agravamento dos acontecimentos na Ucrânia e à introdução de sanções contra a Rússia por parte da Suíça. "A detenção dos paraquedistas russos no território da Ucrânia deu aos políticos do país a possibilidade de passar para uma invasão em grande escala", disse o analista da holding de investimentos Finam Anton Soroko. Segundo ele, o presidente da Ucrânia, Petrô Porochenko, anunciou que as tropas russas invadiram o território do seu país e o primeiro-ministro, Arséni Iatseniuk, reconheceu as sanções ocidentais como ineficazes e apelou para uma nova rodada de pressão sobre as autoridades russas. Em particular, ele propôs congelar todos os ativos russos sob a jurisdição dos Estados Unidos e da UE. "Os investidores temem novas sanções contra a Rússia", acrescentou Soroko.

"A queda do mercado russo tem menos a ver com os acontecimentos na Ucrânia, do que com os acontecimentos na Europa. Em primeiro lugar, teve a ver com a adoção de sanções contra a Rússia por parte da Suíça", disse Aleksandr Archávski, professor assistente do Departamento de Finanças Corporativas, Planejamento de Investimentos e Avaliação da Academia Presidencial Russa de Economia Nacional e da Administração Pública [RANKHiGS na sigla russa]. Segundo ele, se até então a Suíça tinha tentado se manter neutra, agora ela decidiu tomar partido. "O mercado financeiro suíço é extremamente importante para a Rússia. Por mais que o governo estimule o retorno do capital para o país, nas contas anônimas dos bancos suíços permanece até agora muito dinheiro russo", disse Archávski. Como parte das sanções, as autoridades desse país fecharam o acesso dos bancos estatais russos aos mercados de capitais suíços e aos instrumentos de dívida.

Previsões para o futuro

De acordo com especialistas, o desenrolar dos acontecimentos dependerá muito da situação na Ucrânia. "Os eventos ucranianos afetam seriamente os índices russos e o mercado irá se definir em grande parte por esses eventos e pela reação do Ocidente a eles", disse Archávski. O professor explicou que o mercado de ações russo é, por sua natureza, volátil e especulativo e começa a saltar mesmo com pequenas notícias, boas ou más. Em segundo lugar, já antes desses acontecimentos o próprio mercado se encontrava em uma situação indefinida e bastaria um pequeno sinal ruim para ele tomar uma tendência negativa.

No geral, desenham-se dois cenários possíveis para o desenvolvimento futuro dos acontecimentos, acredita o gestor de ativos do fundo de investimentos UK Fond Maguta, Platon Maguta. Segundo ele, os investidores podem começar a registrar lucros em grande escala, uma vez que o principal motor do crescimento em agosto, que antecedeu a queda, foi a perspetiva de paz no Donbass como resultado da reunião em Minsk, o que acabou não se verificando. "Ou, num  futuro próximo, o índice MICEX pode ficar fixado entre 1400 e 1500 pontos, uma vez que ainda não existe uma atmosfera particularmente negativa", acrescenta ele.

No entanto, de acordo com Iliá Balákirev, por outro lado, os acontecimentos do final de agosto não podem ser chamados de colapso absoluto: o mercado já se acostumou a essas notícias e reage a elas com naturalidade. "Tradicionalmente, são os bancos – o Sberbank e o VTB -, assim como outros ativos líquidos, que reagem com maior intensidade ao agravamento do enquadramento externo. Já as ações com forte base corporativa interna parecem estar bem", disse ele. De acordo com os dados do UK Fond Magusta, a maior procura se verificou por títulos de emissores do setor metalúrgico (1,2%), energético (0,8%) e da engenharia mecânica (0,6%).

 

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