De acordo com o WGC, em seis meses a Rússia aumentou as suas reservas em 54 toneladas – o maior aumento entre todos os países Foto: Getty Images/Fotobank
A Rússia passou a ocupar o sexto lugar do mundo em reservas de ouro, com um volume total que chega a 1,09 milhão de toneladas, apontou um estudo do World Gold Council (WGC). Como resultado, o país conseguiu ultrapassar a China, cujas reservas de ouro se mantiveram no nível do trimestre anterior – 1,05 milhão de toneladas.
"As causas que levam o Banco da Rússia a aumentar as reservas de ouro são óbvias: o regulador russo reduz assim os riscos resultantes de possíveis sanções e diversifica os seus investimentos", diz Pavel Simonenko, diretor de vendas da Dukascopy Bank SA para os países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes). Segundo ele, devido ao risco de possíveis sanções em operações com dólares e euros, o Banco Central continuará diversificando os seus ativos e, já no final do ano, a parcela de ouro nas reservas totais poderá chegar a 15%.
"Desse modo, o Banco Central quer proteger as suas reservas em caso de deterioração da situação política e, além disso, o ouro é um ativo defensivo e, num contexto de expectativa cada vez maior de uma segunda onda de crise global, o investimento em tais instrumentos é bastante comum", explica o especialista.
De acordo com o WGC, em seis meses a Rússia aumentou as suas reservas em 54 toneladas – o maior aumento entre todos os países. Para efeito de comparação, durante o mesmo período, o Cazaquistão comprou 12 toneladas de ouro, o México adquiriu 0,8 tonelada e as Filipinas, 0,2 tonelada. Por sua vez, os campeões em reservas de ouro – os Estados Unidos, a Alemanha, a Itália, a França e a Espanha – não adquiriram mais ouro. A Alemanha, inclusive, vendeu 2,9 toneladas de ouro em seis meses.
Como resultado, e de acordo com os dados oficiais do Banco Central da Rússia, a cota das reservas em moeda estrangeira diminuiu em seis meses de 90% para 87,5%. "O aumento das reservas de ouro da Rússia, em nossa opinião, se deve à alteração estrutural das reservas internacionais (em ouro e papel-moeda). A Federação Russa está reduzindo o valor dos investimentos em títulos americanos, dólares e euros", diz o analista-chefe da empresa de investimentos UFS IC, Aleksei Kozlov.
Além disso, em sua opinião, em um momento em que o Banco Central Europeu e o Sistema de Reserva Federal dos EUA assumem uma política monetária extrassuave, ou seja, reduzem o preço de suas moedas nacionais, e os riscos geopolíticos são elevados, é lógico que aumente a proporção de ouro nas reservas internacionais.
Tendência geral
Em geral, de acordo com especialistas, a tendência de crescimento das reservas de ouro no total das reservas internacionais dos países tem aumentado nos últimos anos. "Isso se deve à alta volatilidade dos mercados de câmbio e à política monetária liberal que predomina nos principais países emissores de moeda", diz Dmítri Bedenkov, chefe do departamento de análise da empresa IK Russ-Invest.
Segundo ele, nos países em desenvolvimento com forte orientação para a exportação, as reservas internacionais são constituídas principalmente por ativos em moeda estrangeira. Por exemplo, na China a proporção de ouro é de apenas 1%, na Índia – 7%, na Rússia –10%, no Japão – 3%, na Arábia Saudita – 2% e no Brasil – menos de 1%. "No outro extremo estão os países em que a proporção de ouro é grande ou dominante. É o caso dos Estados Unidos, onde a cota de ouro nas reservas é de 72%, da Alemanha - 68% e da França - 65%", diz Bedenkov. Por isso, ainda segundo ele, o crescimento das reservas de ouro é uma tendência positiva em termos de crescimento da diversificação da estrutura das reservas e sua confiabilidade.
Além do aumento do ouro na estrutura das reservas dos países em desenvolvimento, os especialistas notam a reorientação global da economia russa do dólar para ativos alternativos. "O processo de recusa da moeda norte-americana está ganhando gradualmente força na Rússia. Isso dá para ver também pelas decisões políticas e pelas atuações dos maiores agentes econômicos", diz o analista da holding de investimentos Finam, Anton Soroko.
Por exemplo, de acordo com ele, a operadora móvel russa Megafone e a maior produtora mundial de níquel, a Norilsk Nickel, já converteram os seus meios operacionais para o dólar de Hong Kong. "Este processo vai continuar, e o próximo passo do regulador russo pode muito bem ser uma retirada gradual dos títulos do Tesouro norte-americano e a redistribuição de meios liberados fora da jurisdição dos países europeus", sugere o especialista. No entanto, e ainda segundo Soroko, esta etapa só fará sentido se a atual crise na Ucrânia continuar a esquentar e as relações entre a Rússia e a União Europeia e Estados Unidos não melhorarem.
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