Rússia faz reajustes em sua política comercial externa

anto o premiê como o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Aleksei Uliukaiev, deram a entender que as sanções impostas pelo Ocidente não afetarão a política comercial externa da Rússia Foto: RIA Nóvosti

anto o premiê como o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Aleksei Uliukaiev, deram a entender que as sanções impostas pelo Ocidente não afetarão a política comercial externa da Rússia Foto: RIA Nóvosti

País planeja expandir as exportações de bens industrializados e deve estreitar os laços comerciais com nações em desenvolvimento.

A Rússia continua concentrando esforços em uma cooperação com a Europa, região que irá permanecer ainda por muito tempo como um importante parceiro comercial, apesar dos eventos em torno da Ucrânia, disse na última quarta-feira (23) o primeiro-ministro russo, Dmítri Medvedev, durante um encontro em Moscou com representantes comerciais russos. Tanto o premiê como o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Aleksei Uliukaiev, deram a entender que as sanções impostas pelo Ocidente não afetarão a política comercial externa da Rússia.

Medvedev chamou a atenção dos representantes comerciais para o aumento do protecionismo que se disfarça sob a forma de sanções. Pouco antes do encontro, os Estados Unidos anunciaram um novo aumento da lista de sanções que atinge uma série de grandes empresas do complexo militar-industrial russo. Na mesma semana, o Reino Unido se recusou a conceder vistos a parte da delegação russa que viajaria para a Feira de Aviação de Farnborough.

O premiê falou aos representantes comerciais da importância de se adaptar às novas condições, ser proativo e se esforçar para prever a influência de fatores políticos nas relações comerciais. Ele também listou os três objetivos principais das missões comerciais russas: aumentar as exportações de produtos industrializados, defender os interesses das empresas russas e ampliar os esforços para atrair investimentos estrangeiros para o país.

O ministro Uliukaiev sugeriu aumentar as exportações russas do setor secundário através da cooperação com os países em desenvolvimento e mercados em crescimento. Quanto aos países desenvolvidos, os representantes comerciais devem promover a transferência de tecnologia, investimento e localização de indústrias modernas de alta tecnologia para a Rússia.

"É claro que não há possiblidade de a política externa da Rússia não mudar [após as sanções do Ocidente, nota da redação]", disse o vice-ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Aleksêi Likhatchev a Gazeta Russa. Segundo ele, estamos assistindo agora a um deslocamento de interesses dos exportadores russos para outros mercados. "Isso está realmente acontecendo, dá para ver pelas estatísticas, especialmente nas exportações do setor secundário. Estamos com um ritmo muito maior de crescimento das trocas comerciais bilaterais com os países dos BRICS (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e da ASEAN (Associação de Nações doSudeste Asiático), especialmente no que se refere às nossas exportações deste ano", disse ele.

Em seu discurso, o premiê da Rússia deu especial destaque ao desenvolvimento da cooperação com os países do Círculo do Pacífico. "Essa é agora uma prioridade para nós. É preciso avançar para lá", disse Medvedev aos representantes comerciais.

Relações com o Brasil

O Brasil também se encontra na lista de prioridades da política comercial russa. Recentemente, a Rússia organizou uma missão comercial no país, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento das relações bilaterais para que se aumente a participação russa no mercado brasileiro de alta tecnologia. De acordo com vários estudos realizados por empresas russas, há um entendimento geral de que a produção industrial russa é competitiva perante a demanda dos vários setores do mercado brasileiro. No entanto, há a necessidade de se desenvolver uma abordagem mais profunda das necessidades do país, considerando principalmente as exigências da legislação local.

Os setores prioritários da economia brasileira em que os empresários russos estão focando são: energia (incluindo energia nuclear), uso do espaço para fins pacíficos, construção ferroviária, petróleo e gás, cooperação técnico-militar, construção naval e serviços médicos. Percebe-se, portanto, que o foco aqui é justamente aquelas áreas onde as empresas russas têm realizado progressos e avançado técnica e cientificamente.

Empresas ligadas à TI (tecnologia da informação) já exercem uma presença ativa no Brasil. Recentemente, foi manifestado o interesse de criação de uma joint-venture russa-brasileira para projetos de investimento mútuos. Num futuro próximo, espera-se um crescimento considerável no volume dos negócios entre a Rússia e o Brasil, através da implementação de projetos na área de TI com características bastante inovadoras, capazes de atrair novos investimentos.

Durante o primeiro semestre de 2014, o comércio russo-brasileiro aumentou em 13%, totalizando US$ 2,99 bilhões. Em 2013, durante o mesmo período, a soma se limitou a US$ 2,6 bilhões. As exportaçãoes brasileiras para a Rússia chegaram a US$ 1,3 bilhão, o que representa 17,5% a mais do que no mesmo período de 2013 (US$ 1,1 bilhão). Já a Rússia exportou para o Brasil US$ 1,6 bilhão, 9,4% a mais do que no primeiro semestre de 2013.

Observa-se, dessa forma, que o esfriamento das relações entre a Rússia e o Ocidente não afetou a dinâmica comercial com o Brasil. De abril a junho de 2014, o comércio entre as nações cresceu consideravelmente e não há expectativas de diminuição do volume exportado pelos dois países. As empresas brasileiras não reagiram às sanções ocidentais e os órgãos estatais brasileiros não estabeleceram quaisquer restrições às companhias russas no mercado do país.

Segundo dados dos primeiros cinco meses de 2014, o volume de negócio do comércio exterior da Rússia diminuiu 0,7%. Isso aconteceu, principalmente, devido à drástica redução das importações em 5,1%. Por outro lado, as exportações russas aumentaram 2% (dados do Rosstat, serviço federal de estatísticas da Rússia).

O ministro Uliukaiev acredita que esse crescimento aconteceu devido às exportações do setor secundário. No entanto, de acordo com Medvedev, a contribuição da Rússia para o volume global do comércio nesse setor continua a ser baixa – na ordem de 1,5%. O governo russo tem o ambicioso objetivo de aumentar essa porcentagem até no mínimo 6%.

Reforma bem-sucedida

A reforma das missões comerciais russas foi iniciada há quase dois anos e seu sucesso resultou em um aumento do número de projetos realizados na área da cooperação comercial e econômica. Atualmente estão sendo implementados dezenas de projetos com o apoio de missões comerciais no exterior. Este ano, serão adicionadas às ferramentas de apoio à exportação russa também recursos financeiros.

Com base em duas subsidiárias do banco Vnechekonombank (banco para o desenvolvimento e comércio externo), está sendo criado um instituto único de apoio a créditos e a seguros para as exportações, que deverá começar a funcionar a partir de novembro e oferecerá produtos para atender às necessidades das pequenas e médias empresas. "Esperamos que estes elementos contribuam em certa medida para substituir os financiamentos suspensos [devido às sanções – nota da redação]", disse Likhatchev a Gazeta Russa. A Rússia também deposita esperanças no banco conjunto dos BRICS, que se tornará um elemento de financiamento de grandes acordos comerciais.

Atualmente, por seu número de missões comerciais, a Rússia está bem atrás dos líderes do comércio mundial e se encontra no nível da Coreia do Sul. No futuro, o país planeja criar novas missões comerciais e otimizar aquelas já existentes. Está prevista a criação de missões comerciais nos Emirados Árabes Unidos, Singapura, Venezuela, Peru, Equador, Letônia, Mianmar, Mongólia, Etiópia e Nigéria, bem como a melhoria das missões na Escandinávia e nos países do Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo).

 

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