Milionários russos provocam boom no mercado de arte

“Igreja em Alupka”, de Aristakh Lentulov Foto: Rex Features/Fotodom

“Igreja em Alupka”, de Aristakh Lentulov Foto: Rex Features/Fotodom

No passado, o principal produto no mercado de pinturas russas eram as obras do século 19, a era dourada do realismo na Rússia. Agora, os compradores prestam mais atenção às obras do século 20.

Em 2004, o bilionário russo, Víktor Vekselberg, adquiriu os nove lendários ovos de Páscoa imperiais de Fabergé da coleção Forbes por mais de US$ 100 milhões. De acordo com o chefe do departamento de objetos russos de Sotheby’s, Darin Bloomquist, isso multiplicou a participação russa das leilões no Reino Unido.

Durante os últimos dez anos, a Casa Sotheby’s vendeu quase US$ 1 bilhão de arte russa. Durante os últimos cinco anos, o número de licitantes quase duplicou. O boom de arte russa também alcança outros leilões: na última década, as vendas de arte russa na Chistie’s cresceram 35% a cada ano.

O diretor da sociedade de leilão MacDougall’s, William Macdougall, afirma que a principal razão para esse crescimento é a “nova riqueza na Rússia”.

Regresso à casa

Durante a era revolucionária, os Fabergés e outras obras de arte foram exportadas da Rússia em segredo, um êxodo do patrimônio cultural do país que continuou durante o período soviético. Hoje, a maioria da arte russa sai de coleções ocidentais privadas, onde foi preservada durante os últimos 70 anos, e é vendida em Londres aos colecionadores russos que voltam esse patrimônio para a Rússia.

“Trinta anos atrás os ocidentais adquiriram obras russas, mas agora os russos têm mais dinheiro. Os preços eram relativamente baratos, os russos começaram a comprar e os preços começaram a crescer”, disse MacDougall.

“Madonna Laboris” Foto: Rex Features/Fotodom

Em 2013, em Londres, o leilão Bonham’s estabeleceu um recorde: o preço da pintura russa “Madonna Laboris”, de Nikolai Roerch, de 1931, ultrapassou 7,9 milhões de libras. Recentemente, a Casa Sotheby’s vendeu um retrato de família do mestre de vanguarda Pitor Kontchalóvski por 4,67 milhões de libras.

Gosto moderno

No passado, o principal produto no mercado de pinturas russas eram as obras do século 19, a era dourada do realismo na Rússia. Agora, no entanto, os compradores prestam mais atenção às obras do século 20. "Parece que o mercado está se movendo em direção às obras modernistas, se afastando das pinturas mais canônicas e tradicionais de Wanderers e Iliá Répin ", diz Sophie Lei, da Casa de Bonham.

A diretora do departamento de arte russo da Casa Chisties’s , Sarah Manfield, diz que entre cinco e dez anos atrás as obras do século 19 eram os mais populares. “No entanto, recentemente, a Casa Christie’s conseguiu vender obras inovadoras dos vanguardistas russos por preços fantásticos”, diz Manfield.

“Natureza Morta com Frutas” Foto: AP

Entre eles estão “Natureza Morta com Frutas”, de Iliá Machkov, que foi vendida na Casa Chistie’s por 4,77 milhões de libras, e “Igreja em Alupka”, de Aristakh Lentulov, cujo preço ultrapassou 2,1 milhões de libras.

Realismo

Talvez o mais surpreendente é o crescente interesse na arte realista soviética, que cada vez está  melhor representada nos leilões e nas exposições.

Um dos pintores soviéticos mais populares hoje é Aleksandr Deneika, que aplicou um desenho às representações idealizadas de trabalhadores e atletas.

O “Jovem Desenhista”, de Deineka, é a estrela do próximo leilão na Semana de Arte Russa da Sotheby’s. Os organizadores planjam vender a obra por algo entre 2 e 3 milhões de libras.

A crescente popularidade dos temas soviéticos também se estende à porcelana, com uma figura da era de Stálin, "Pioneiro com Tambor”, com preço que deverá alcança 35 mil libras.

Um dos pintores soviéticos mais populares hoje é Aleksandr Deneika, que aplicou um desenho às representações idealizadas de trabalhadores e atletas Foto: RIA Nóvosti

“Fabergé e outros objetos únicos continuam a ser populares, mas agora os compradores são mais sábios, prestam mais atenção à qualidade", diz Helen Culver Smith, do departamento de arte russa na Christie’s, em Londres.

"Os colecionadores são exigentes e procuram obras de proveniência aristocrática real ou imperial", diz Smith.

Na Casa Sotheby’s, um leilão de objetos que pertenciam a grã-duquesa Maria Pávlovna, alcançou 7 milhões de libras em vendas, sete vezes mais do que se esperava.

De acordo com especialistas, a maioria dos que compram pinturas e porcelana russas no Reino Unido são russos, enquanto os ocidentais geralmente estão mais interessados no mundialmente famoso Fabergé.

"Quando falamos de vanguardistas russos, é preciso sublinhar que artistas como Natália Gontcharova, El Lissítski e Vassíli Kandínski atraem tanto os compradores ocidentais como russos", diz o diretor do departamento de pinturas russas da Casa Sotheby’s, Frances Asquith.

Embora a economia russa tenha sofrido uma crise nesta primavera, as casas de leilão e os compradores afirmam que isso terá pouco impacto sobre os próximos leilões. "Os russos investem na sua cultura nacional", diz MacDougall. "A tradição dos grandes colecionadores está de volta", completou. 

 

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