Foto: RIA Nóvosti
Cabines de controle de passaporte estão fechadas na zona de chegada em Simferopol, como que lembrando que os russos recém chegados estão no seu país. Mas a julgar pelas redes móveis exibidas na tela do telefone celular, ainda estou na Ucrânia. Na Criméia, as redes de telefonia celular são mantidas por operadoras ucranianas e a tarifação de telefonemas de linhas russas é de roaming internacional. Hoje, a Criméia parece estar toda costurada com tais colisões. “Nós não trabalhamos mais por banco, mas, cada um por si, por licença do governo da Criméia. — dizem numa das casas de câmbio no aeroporto. Não há bancos, — diz perplexo o cambista. —No aeroporto, o senhor também não pode sacar com cartão. Nenhum caixa eletrônico está funcionando”.
De fato, nenhum caixa eletrônico funciona. Alguns estão simplesmente desligados, outros esperançosamente brilham, até mesmo engolem o cartão, mas não dão dinheiro e o cospem de volta.
Inicialmente, bancos ucranianos interromperam suas atividades na ilha de fato e depois oficialmente. Funcionar na Criméia lhes foi proibido desde 6 de maio, de acordo com a carta do Banco Nacional da Ucrânia (BNU). Além disso, como disse ao Dengi o ex-diretor da filial da Criméia de um dos maiores bancos ucranianos, pela lei, os moradores da Criméia, que agoram se tornaram estrangeiros, não podem, sem quaisquer condições adicionais, ao que parece, autorização de permanência, servir-se de bancos ucranianos. Por suas palavras, o BNU proibiu quaisquer pagamentos aos moradores da Criméia e quaisquer acertos de contas com a Criméia. Como resultado, o saldo nas contas dos clientes da Criméia estão congelados. Os bancos não tem direito de devolvê-los. As pessoas que, ao contrário, querem pagar empréstimos ao banco, também não podem fazer depósitos a partir da Criméia. A referida fonte, em estimativa aproximada, diz que os bancos ucranianos devem aos crimeanos aproximadamente 50 trilhões de rublos ($1,5 trilhão) e os crimeanos devem aos bancos aproximadamente o mesmo em empréstimos.
Em primeira mão.
Mikhail Andrianov de Eupatória e sua esposa pouparam quatro anos para comprar um apartamento, depositavam parte do salário em sua conta corrente no PrivatBank. Pouparam 260 mil grívnias (cerca de $26.000,00). Eles planejavam comprar a moradia já neste ano, mas em março sua conta foi bloqueada. O banco informou a Mikhail que podem devolver a quantia por completo se ele vier para o território da Ucrânia e se cadastrar no Ministério de Política Social, onde lhe fornecerão o certificado de “migrante temporário”. “Para mim isso não é opção. Eu moro na Criméia e não pretendo me mudar para lugar algum” — disse Mikhail perplexo.
Andrei Zotov, cidadão de Simferopol, tinha uma conta em dólar ($5 mil) no banco "Kredi Agrikol". "Foi ao banco uma semana antes do referendo, — conta ele, — e disseram: nós também trabalhamos na Rússia. Depois de um mês, chegou uma mensagem SMS no telefone avisando que o banco não planejava mais trabalhar na Criméia. Fechar a conta e receber o dinheiro foi possível, mas devolveram em grívnia, por uma taxa de câmbio baixa e em quantias pequenas, menos de $1,5 mil por dia. Por seu depósito, teve que enfrentar horas de fila todos os dias durante uma semana. Naquele momento, ao banco só restou uma agência para toda a Criméia.
Oleg Skvorstov, no fim de fevereiro, sacou uma pequena quantia do seu cartão de crédito emitido pelo PrivatBank. Em março, pretendia pagar o empréstimo, mas bloquearam o cartão e todas as agências do banco na Criméia fecharam. Mas o PrivatBank regularmente cobra comissão pela utilização do crédito. "Acumulou mais de 300 grívinias (pouco menos de $25), — conta Oleg. — Na última vez, quando telefonou ao "Privat", uma moça educada lhe informou que estão tentando negociar com a Rússia para trabalhar aqui, mas por enquanto sem resultado. Na pergunta, será ou não retirada a comissão cobrada, não respondeu. Foi algo do tipo: "Tentaremos resolver a questão em seu favor". Afinal, é ou não preciso devolver esse crédito?
Esperança de compensação.
Até 6 de maio, alguns bancos, via de regra, filiais ucranianas de instituições de crédito estrangeiras, pagavam alguma coisa, ainda que com certa dificuldade. Me contaram como sacaram dinheiro do cartão OTP Bank (filial do banco húngaro) no caixa eletrônico instalado num barco em Sevastópol. E mesmo o Banco da Rússia, independentemente do BNU, começou a emitir decisões formais sobre a interrupção das atividades das agências de bancos no território da Criméia. Com fundamento nessa decisão, a Agência de Seguro de Depósitos (ACB) tem que tomar para si as obrigações ante aos clientes — compensar até 700 mil rublos ($20 mil). A ACB na Criméia é um fundo especial, criado para proteção dos clientes. Por enquanto, a lista de bancos com cujos clientes trabalha o fundo só tem 10 posições, mas a lista será ampliada. Segundo declarações do primeiro vice-premiê do governo da Criméia, Rustam Temirgaliev, já foram feitas mais de 75 mil petições ao fundo, das quais já foram satisfeitas 6,5 mil, num total de 880 milhões de rublos ($25,3 milhões).
Aliás, dos quais que eu tive contato na península, os únicos caixas eletrônicos que deram dinheiro com cartões russos e até mesmo americanos, pertencem a um banco do Krai de Krasnodar – a região da Rússia mais próxima da Criméia, separada da península pelo Estreito de Kerch.
O autor expressa agradecimento a Vadim Nikiforov pela ajuda na preparação do material.
Publicado originalmente pelo Kommersant
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