Autoridades russas e brasileiras discutem abertura recíproca dos mercados de peixe

Com adesão à OMS, Rússia está à beira de uma grande reforma no setor Foto: Alamy/Legion Media

Com adesão à OMS, Rússia está à beira de uma grande reforma no setor Foto: Alamy/Legion Media

Produtores querem acabar com a mediação de revendedores portugueses. Apesar das perspectivas favoráveis, concorrência com a Noruega podem dificultar o sucesso das medidas.

O representante Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária (Rosselkhoznadzor), Aleksêi Alekseienko, que esteve no Brasil em meados de maio, confirmou à Gazeta Russa sobre a possibilidade de abertura dos mercados. Durante a visita, reuniu-se com representantes do Ministério da Agricultura e da Pesca brasileiro, bem como com funcionários da Agência para Proteção dos Produtos Agrícolas do Paraná e empresários do ramo da pesca.

“As empresas russas estão prontas para fornecer volumes significativos para o Brasil de produtos manufaturados, como o bacalhau seco”, disse Alekseienko, ao falar sobre o crescente interesse em se aumentar o comércio bilateral nesse setor.

Por enquanto, nenhuma empresa brasileira está ainda certificada para o abastecimento do mercado russo de peixes, assim como nenhuma empresa russa possui alvará de venda de seus produtos no mercado brasileiro. Toda a produção dos dois países é vendida por terceiros, como, por exemplo, Portugal, que revende o excedente de peixe russo ao Brasil.

No mercado russo, o interesse pelos peixes brasileiros tem seu ponto alto na aquicultura de tilápia, cujo principal fornecedor atualmente é a China. A futura substituição é possível já que os russos não estão satisfeitos com o alto teor de esmaltes nos produtos e a da poluição do meio ambiente no país fornecedor.

A Rosselkhoznadzor continuará as negociações com o lado brasileiro sobre os mecanismos de segurança e certificação sanitária dos produtos de pesca marítima e aquicultura paralelamente à Sessão Geral da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), no final de maio. Haverá também, em breve, uma reunião com o chefe do Serviço de Inspeção Veterinária do Brasil.

“Os dois países primeiramente assinarão um documento sobre segurança alimentar do fornecimento de peixe e outros frutos do mar e depois passarão às tratativas sobre o formato em que se dará a abertura do mercado um ao outro, bem como se haverá inspeções in loco das empresas nos dois países ou se eles irão confiar nos serviços nacionais veterinários”, explicou Alekseienko.

Como resultado das negociações, espera-se abrir as portas para as empresas brasileiras fornecerem à Rússia atum, lagosta, peixe-espada, cavala, polvo, camarão e linguado.

OMC e lobby

Segundo o analista Iúri Tsgusha, do Grupo FIBO, a indústria de pesca russa tem todos os recursos para aumentar sua oferta ao Brasil. As recomendações sobre a pesca de recursos biológicos no litoral é de 55.000 toneladas por ano, porém, atualmente, apenas 16.000 toneladas estão sendo exploradas. “Além do bacalhau, a Rússia pode oferecer ao Brasil salmão, arenque e bacalhau de pollock”, diz o especialista.

Em 2013, a Rússia exportou quase 790.000 toneladas de escamudo, 24.500 toneladas de caranguejo e 77.000 toneladas de salmão. Dados do Instituto de Estatística da Rússia (Rostata) demonstram que a exportação de peixes e frutos do mar aumentaram 37% nos últimos anos, sendo que a maior parte das encomendas é feita por países da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec).

A própria Rússia agora está à beira de uma grande reforma do setor. Sob os termos da adesão à OMC (Organização Mundial do Comércio), o país está obrigado a cancelar os tributos para exportação de peixes – o que vem causando insatisfação entre os produtores nacionais.

Uma recente reunião entre o primeiro-ministro Dmítri Medvedev com os representantes da indústria da pesca em Magadan evidenciou o interesse em investir no desenvolvimento de instalações de processamento de peixe. Especula-se, assim, a abertura do mercado brasileiro à empresas russas tenha sofrido lobby dos processadores de peixe, pois seus produtos possuem valor agregado, vendendo melhor do que bacalhau cru.

Perspectiva incerta

De acordo com informações do Sindicato dos Pescadores da Rússia, o bacalhau nacional chega ao Brasil através de Portugal, que revende seu excedente. No entanto, a Noruega, que pesca o mesmo tipo de bacalhau (a Rússia e o país nórdico dividem este recurso biológico comum), vende diretamente ao Brasil cerca de 10.000 toneladas por ano.

“Será improvável que a Rússia entregue ao Brasil uma quantidade de bacalhau semelhante à Noruega, embora isso dependerá da economia russa. Quando tivermos um mercado do porte brasileiro aberto, será possível ampliar a capacidade industrial na região de Murmansk. Onde a Noruega estiver vendendo seus peixes, a Rússia também poderá apresentar seus processados prontos para competir diretamente”, diz o representante do sindicato.

No caso da assinatura dos documentos necessários que autorizem a exportação e importação de produtos de pesca entre os dois países, acredita-se que o comércio se dará de forma direta entre os dois países. “Este seria um caminho mais rentável”, aponta o analista da Investkafe, Roman Grinchenko. “Mas não acho que a importação pela Rússia de produtos da pesca brasileiros possa crescer significativamente, uma vez que os compradores russos já estabeleceram suas conexões com produtores locais, e os noruegueses já ocupam uma parte significativa das importações.”

 

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