Fornecimento russo dispara com ameaça de “guerra do gás”

Oficialmente, o gás russo entra na Europa através do território ucraniano Foto: Reuters

Oficialmente, o gás russo entra na Europa através do território ucraniano Foto: Reuters

Europa e Naftogaz intensificaram importações após agravamento das relações russo-ucranianas. Apesar de especialistas negarem corte de fornecimento, desdobramentos negativos podem comprometer abastecimento da Europa no próximo inverno.

Desde sábado passado (1), o fornecimento de gás russo para além das fronteiras da ex-União Soviética sofreu um aumento de 8%, saltando para os 476,5 milhões de metros cúbicos por dia. A seleção de gás importado pela Naftogaz da Ucrânia duplicou para os 45 milhões de metros cúbicos por dia.

O analista russo e diretor-geral do Fundo Nacional de Segurança Energética, Konstantin Simonov, não descarta que o aumento dos volumes do bombeamento de gás para os depósitos de armazenamento europeus pode estar relacionado com a crise ucraniana, “pois os europeus entendem ao que é que isso tudo pode levar”.

“A Europa está se preparando para perder o fornecimento de gás russo que chega através da Ucrânia, enquanto Kiev se prepara para o desligamento total do gás russo", acrescenta o diretor da consultoria East European Gas Analysis, Mikhail Kortchemkin.

Em teoria, há vários fatores que motivam a chamada “guerra do gás”. Entre os cenários possíveis, destaca-se a recusa da Rússia em fornecer gás à Ucrânia, a recusa da própria Ucrânia em adquirir gás russo a 400 dólares por mil metros cúbicos, ou à eventual destruição do gasoduto ucraniano.

Mas, apesar dos prognósticos negativos, os especialistas não esperam nenhum conflito ou corte no fornecimento de gás à Ucrânia. A primeira a ser prejudicada com a iniciativa seria a própria Rússia, e a Gazprom perderia em torno de US$ 10 bilhões - ou um terço de suas receitas de exportação. ”As sanções financeiras dos EUA complicam a obtenção de empréstimos bancários para as empresas estatais russas, e a Gazprom simplesmente não teria dinheiro para construir o South Stream”, garante Kortchemkin. 

A Ucrânia e a Europa, por sua vez, seriam capazes de aguentar apenas até o próximo inverno, no final deste ano. Os países da Europa Ocidental recebem gás não apenas através da Ucrânia, mas também pelo Nord Stream. “Se o trânsito ucraniano for totalmente interrompido e o Nord Stream for sobrecarregado, a Europa receberá cerca de dois terços dos volumes contratados”, calcula o diretor da consultoria.

Inverno à vista

“No segundo semestre do ano, a questão do gás será novamente agravada pela necessidade de bombear gás nos reservatórios subterrâneos da Ucrânia para que haja gás suficiente, tanto para a Ucrânia como para a própria Europa, em mais uma estação fria de inverno”, indica Simonov. 

Oficialmente, o gás russo entra na Europa através do território ucraniano - mas o que acontece na prática é bem diferente. No inverno, a Ucrânia fornece à Europa o gás que está em seus reservatórios nas fronteiras ocidentais, e o gás seria supostamente deslocado da Rússia para a Europa é desviado para uso próprio.

Se a Ucrânia não bombear gás suficiente para os seus depósitos subterrâneo, isso significará uma ameaça para o gás de passagem para a Europa e o não cumprimento por parte de Kiev das suas obrigações. “O bombeamento para os depósitos deve ser iniciado ainda no final do verão. Temo que as forças revolucionárias agora no poder ignorem por absoluto essa questão e, nesse caso, podemos prever com grande certeza uma grave crise de gás”, explica Simonov.

 

Publicado originalmente pelo Vzgliad

 

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