Rússia perdoa 90% de dívida norte-coreana da época da URSS

A Rússia continua a conceder empréstimos a outros países, geralmente aos Estados mais próximos Foto: Konstantin Zavrájin/RG

A Rússia continua a conceder empréstimos a outros países, geralmente aos Estados mais próximos Foto: Konstantin Zavrájin/RG

Reestruturação da dívida norte-coreana segue modelo da de outros países do antigo bloco socialista. "Esses tipos de créditos foram concedidos durante a época soviética, geralmente por razões políticas, em condições muito favoráveis, independentemente da possibilidade dos devedores de pagarem a dívida no prazo previsto” explica o especialista do banco BCS Premier, Anton Chabanov.

O governo da Rússia apresentou à Duma (câmara baixa do parlamento russo) um projeto de lei para ratificar um acordo entre a Federação Russa e a República Popular Democrática da Coreia sobre a regularização de uma dívida da época soviética.

A dívida, que foi expressa em rublos soviéticos, foi convertida em dólares norte-americanos à taxa do Banco do Estado da URSS (0,6 rublos por US$ 1). Os US$ 10,96 bilhões devidos pelos norte-coreanos foram diminuídos em 90%. O restante da dívida, de US$ 1 bilhão, deverá ser pago ao longo de 20 anos através do banco Vnesheconombank e do Banco de Comercio Exterior da RPDC.

No entanto, esse dinheiro não chegará ao orçamento russo. Segundo o acordo assinado, o dinheiro será destinado “ao financiamento de projetos de saúde, educação e energia no território da Coreia do Norte.”

Condições favoráveis

Segundo Elena Plákhova, membro da direção do Corum Group, de acordo com estimativas, durante os últimos 13 anos, a Rússia perdoou as dívidas dos países do antigo bloco socialista, cujo valor total ultrapassa US$ 100 bilhões. A da Coréia do Norte é a última.

"A regularização das dívidas é praticamente o último passo para se livrar das práticas conflitantes de investimento estrangeiro da URSS", diz o analista de Investcafe, Timur Nigmatúllin.

A maior dívida perdoada pela Rússia foi a de Cuba: US$ 29 bilhões.

Esta reestruturação da dívida cubana foi realizada no ano passado, usando praticamente a mesma fórmula: 90% da dívida foi perdoada, e os restantes US$ 3,2 bilhões devendo ser pagos ao longo de 20 anos.

Entre os devedores da Rússia se encontravam o Afeganistão e o Irã, cujos dívidas ultrapassaram US$ 11 bilhões. Outros US$ 11 bilhões foram perdoadas à Mongólia. A Rússia também reestruturou as dívidas da Síria e do Vietnã (US$ 9,8 bilhões e US$ 9,4 bilhões, respectivamente).

Débitos de Etiópia, Argélia, Líbia, Angola e Nicarágua (de US$ 3,5 bilhões a US$ 4,8 bilhões) também já foram reestruturados.

"Esses tipos de créditos foram concedidos durante a época soviética, geralmente por razões políticas, em condições muito favoráveis, independentemente da possibilidade dos devedores pagarem a dívida em prazo previsto” explica o especialista do banco BCS Premier, Anton Chabanov. “Precisamente por isso apareceu a necessidade de reestruturar as dívidas”, completou Chabanov.

“Normalmente, esses empréstimos foram concedidos junto com armamento para apoiar o regime”, diz Nigmatullin.

De acordo com Chabanov, é preciso entender que não se trata de um perdão absoluto das dívidas, mas de uma reformulação para obter um reembolso parcial. A perda de rendimento é sempre compensada por outros acordos econômicos.

"Além da reestruturação das dívidas, os países sempre assinam acordos paralelos. Por exemplo, quando a Rússia perdoou a dívida cubana, Cuba abriu o acesso à extração de petróleo”, explica.

Depois da reestruturação da dívida da Líbia, o país africano assinou vários contratos com a Rússia sobre construção de estradas, extração de petróleo e fornecimento de armamento.

E a Coreia do Norte é um mercado perfeito para o fornecimento de diferentes tipos de armamento e mercadoria. “Se a Rússia não tivesse reestruturado a dívida, o orçamento do país não receberia nada, tinha de se escolher de dois males o menor”, diz Chabanov.

Continuando a emprestar

A Rússia continua a conceder empréstimos a outros países, geralmente aos Estados mais próximos. Entre os principais devedores da Rússia se encontram a Ucrânia (US$ 15 bilhões), a Bielorrúsia (US$ 2 bilhões), o Chipre (US$ 5 bilhões), o Vietnã (US$ 8 bilhões), a Venezuela (US$ 4 bilhões), a Islândia (US$ 5,7 bilhões) e muitos outros.

"Até os Estados Unidos devem dinheiro para a Rússia. A dívida desse país com a Rússia equivale a cerca de 3% de toda a dívida pública dos Estados Unidos (cerca de US$ 150 bilhões). A Rússia ocupa a 8ª posição na lista de credores dos Estados Unidos", diz Chabanov.

No entanto, no mundo contemporâneo, o mercado de dívidas governamentais tem sólidos mecanismos de proteção. A compra de títulos ucranianos não é uma ajuda gratuita, mas um crédito com específicas condições de pagamento.

De acordo com o analista de Investcafe, Timur Nigmatúllin, a Ucrânia depende significativamente do fornecimento de gás russo e não está interessada em romper as condições do empréstimo.

 

Publicado originalmente pelo jornal Vzgliad

 

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