Venda de participação na Uralkáli intensifica disputa por potássio

Uralkali é o maior produtor de fertilizante potássico do mundo Foto: Reuters

Uralkali é o maior produtor de fertilizante potássico do mundo Foto: Reuters

A última reviravolta na história em torno do maior produtor de fertilizante potássico do mundo, a Uralkáli, levou a um brusco aumento dos preços dos fertilizantes em todo o mundo e provocou rumores segundo os quais a empresa pode vir a se unir de novo à Belaruskáli.

Na semana passada, foi anunciado que o empresário Suleiman Kerimov, atual detentor da 19ª posição no ranking dos executivos mais ricos da Rússia e financiador do times daguestanês FC Anji, está vendendo a sua participação de 21,75% na Uralkáli, a principal produtora de fertilizantes potássicos.

Após a divulgação da notícia, as ações de vários produtores de potássio norte-americanos e europeus subiram acentuadamente em meio a rumores de que a venda das ações poderia ser o início de uma junção com a bielorrussa Belaruskáli. Antes da joint-venture delas ter caído por terra, em julho passado, as duas empresas controlavam juntas 40% da produção mundial de fertilizantes de potássio.

 

A petrolífera estatal Rosneft, que detém as maiores reservas de petróleo do mundo, e o ex-oficial e banqueiro do círculo próximo de Vladímir Pútin, Vladímir Kogan, foram dois dos nomes que surgiram entre os potenciais compradores. Enquanto isso, na Bielorrússia, o diretor-geral da Uralkáli, Vladislav Baumgertner, foi levado sob custódia em agosto passado, supostamente por motivos políticos.

“Isso se parece um pouco a uma telenovela que fizeram para ganhar tempo e terminar o jogo”, declarou à agência Reuters o analista da Paradigm Capital, Spencer Cherchill.

Motivos para disputa

A primeira desavença em torno do potássio entre russos e seus vizinhos da Bielorrússia começou no final de julho, quando a Uralkáli anunciou o fim da joint-venture com Belaruskáli e, principalmente, o fim das vendas conjuntas de fertilizante por meio da Empresa Bielorrussa de Potássio (Belarus Potash Company – BPC).

Disputa de potássio

O mercado de potássio durante os últimos anos é estável, não muda quase em nada, por haver poucos participantes. Quatro países – Rússia, Bielorrússia, Alemanha e Canadá – possuem as essenciais reservas de cloreto de potássio, que tanto pode ser usado na qualidade de produto final como na de parte integrante de adubos compostos (nomeadamente, no adubo composto NPK). As bacias de potássio Verkhnekámski, na Rússia, e a de Saskatchewan, no Canadá, são maiores do mundo e concentram 82,2% de reservas mundiais de cloreto de potássio registradas. O consumo mundial de potássio, em 2012, foi de 52 milhões de toneladas; a sua procura aumenta aproximadamente 3 a 4% por ano e se satisfaz, em cerca de 70%, por dois consórcios: a produtora russo-bielorrussa BKK e a canadiana Cantopex que engloba a Potash Corporation e Agrium, de Canadá, bem como a Mosaic dos EUA.

A Uralkáli alterou por completo toda a sua estratégia de marketing. Antes, a empresa, que exportava fertilizantes pelo princípio “o preço acima do volume” e que preferia trabalhar abaixo de suas capacidades máximas a ter que fazer desconto aos consumidores, anunciava agora o aumento da exploração até os 100% da sua capacidade e previa a queda dos preços mundiais até os US$ 300 por tonelada – valor que está quase US$ 100 abaixo do preço praticado no final de julho.

 

O fato de a empresa, quase imediatamente após o anúncio do rompimento das relações comerciais com a Bielorrússia, assinar um contrato para abastecer a China com 500 toneladas de potássio até o final do ano, botou mais lenha na fogueira. Nesse mesmo momento, a Belaruskáli, que é uma das principais fontes de rendimento do orçamento do Estado, começou a ter problemas com suas vendas.

Primeiras vitórias

O mercado logo reagiu à diligência da Uralkáli. De acordo com a Reuters, “todos os fornecedores de potássio concordaram em fazer descontos nos contratos em curso”. Em um dos maiores segmentos do mercado de potássio, o Brasil, os preços spot desabaram de US$450 para US$ 370 por tonelada e, segundo a agência de notícias, o país ainda espera nova queda.

“Os importadores chineses estão fazendo pressão sobre a Canpotex na esperança de chegar aos US$ 320 por tonelada”, garantem os analistas. “Importadores da Malásia e Indonésia acompanham os acontecimentos na China e esperam conseguir cerca de US$ 330-340 por tonelada, ante um preço de US$ 400-420 antes do colapso da BPC”, completam.

A Uralkáli também estaria atualmente em negociações para abastecer a China a US$ 325 a tonelada e a Índia a um preço um pouco mais elevado. Mas, embora esse nível pareça aceitável para a Uralkáli, com os seus baixos custos de produção, para um variado número de concorrentes europeias, assim como para a própria Bieloruskáli, que têm custos de produção mais elevados, esse valor já está perto do crítico.

Resultado inesperado

No final de agosto passado, o diretor-geral da Uralkáli, Vladislav Baumgertner, que chegou ao país supostamente para conversações a convite pessoal do primeiro-ministro da Bielorrússia, Mikhail Mioasnikovitch, acabou sendo detido e preso em Minsk. Segundo o Comitê de Investigação da Bielorrússia, Baumgertner estaria sendo acusado de abuso de poder.

Depois disso, a guerra local do potássio passou para o nível político e começou de repente a se desenvolver de modo algum favorável à Uralkáli. Uma série de funcionários e empresários russos, incluindo o ex-vice-primeiro-ministro e chefe da Rosneft, Ígor Sétchin, assim como o diretor do Sberbank, Guerman Gref, visitaram Minsk em sinal de apoio ao aliado estratégico da Rússia. A posterior alienação das ações da Uralkáli por Suleiman Kerimov pode levar à sua junção com a Belaruskáli e ao retorno parcial da estratégia da joint-venture.

Konstantin Iuminov, do Raiffeisenbank, também concorda que o novo investidor “estará mais aberto ao diálogo construtivo com a Bielorrússia”. No entanto, Narek Avakian, da empresa financeira Aforex, acredita que será difícil aos ex-parceiros voltarem ao mesmo escopo e grau de entrosamento de trabalho que tinham anteriormente.

 

Até há pouco tempo, ambos os players se mantinham fieis ao princípio da manutenção do preço alto em prejuízo do volume. Eram eles que determinavam o preço de venda do potássio no mundo, uma vez que este não é negociado nas bolsas de mercadoria. O preço do potássio é determinado exclusivamente por meio de acordos feitos entre fornecedores e consumidores, que se baseiam nos princípios da modalidade de entrega FOB (free on board) nas principais regiões exportadoras e CFR (cost and freight) nas principais regiões importadoras. Apenas dois grandes consumidores celebram contratos "longos": a China e a Índia (semestral e anual, respectivamente).

Fontes do jornal “Kommersant” no setor afirmam que foi precisamente a intenção da Bielorrússia em partir sozinha para o mercado que provocou preocupação por parte da Canpotex, a qual, devido a isto, foi a primeira, em 2013, a baixar em 15% o preço do fornecimento, forçando a BPC (Belarus Potash Company) a ir pelo mesmo caminho.

No final, e após seis meses de negociações, a empresa assinou contratos para o fornecimento de um milhão de toneladas de potássio à China no primeiro semestre do ano por US$ 400 por tonelada (volume – 700 mil toneladas mais 300 mil por opções). Em seguida, a Uralkáli tentou até onde pôde manter o preço antigo, mas, ante a inexistência de um contrato com a China e a Índia, foi forçada a cortar drasticamente na capacidade, reduzindo em 2012 a produção em 16%.

Um outro motivo para a redução da produção foi a desvalorização da moeda nacional da Índia. Os importadores, que devido à falta de fundos não conseguiram adquirir a tempo todo o fertilizante em 2011, ficaram com grandes estoques de potássio para 2012, devido ao que pararam de comprar. Assim, dos volumes contratado ainda em agosto de 2011 para março de 2012, foram escolhidos apenas metade, o que atrasou o recebimento de fundos (cerca de US$ 300-350 milhões) e a assinatura de novos acordos com importadores indianos. 

 

Com materiais dos veículos Kommersant e The Moscow Times

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