A Rússia precisa de privatizações?

O ministro Uliukaiev é a favor de uma privatização cuidadosa Foto: ITAR-TASS

O ministro Uliukaiev é a favor de uma privatização cuidadosa Foto: ITAR-TASS

A Rússia precisa de um processo de privatização, já que gerir eficazmente um número tão grande de ativos é simplesmente impossível, reconhece o ministro do Desenvolvimento Econômico, Aleksêi Uliukaiev, advertindo que isso deve ser feito com cuidado. Analistas acreditam que o governo precisa vender metade de seus ativos para realizar uma boa administração.

Efeitos da privatização

"Conseguiremos gerenciar de fato os nossos ativos quando tivermos 200, 300 ou 400 empresas, por isso devemos efetuar um saneamento para então depois conseguirmos traçar uma linha correta de gestão. Enquanto a discussão da gerência estatal efetiva não incluir a questão da privatização, ela não trará quaisquer resultados", disse o ministro do Desenvolvimento Econômico da Rússia, Aleksêi Uliukaiev.

Ele reconhece que o sistema de gestão existente talvez não seja o ideal, mas funciona e permite às autoridades interagirem de forma produtiva na gestão dos ativos. "A questão é que os ativos são muitos e de naturezas muito diferentes, e por isso fica difícil administrá-los de modo eficaz", disse o ministro.

A participação do setor público na economia russa é avaliada de diferentes maneiras. A maioria dos analistas concorda que o Estado deve controlar cerca de metade da economia. O vice-primeiro-ministro da Rússia, Ígor Chuvalov, declarou em meados de janeiro que deveria haver um esforço para reduzir a participação do setor público na economia russa de 50% para 25% até 2018. Esse número é o indicador médio da participação estatal em outras economias mundiais.

Por outro lado, segundo especialistas, a principal razão para a ineficiência da administração pública não está tanto no grande número de ativos na balança do Estado, mas na falta de concorrência.

"As empresas privadas irão competir por participação no mercado e talvez cheguemos a assistir a uma mudança de líderes em alguns setores. Quanto ao Estado, é improvável que ele permita que isso aconteça com suas empresas. Basta o Sberbank [n.t. banco do Estado similar à Caixa Econômica Federal no Brasil] reclamar de uma abundância de credores de qualidade duvidosa no mercado para em menos de um mês assistirmos a uma limpeza no setor. O Estado vai estar sempre em posição privilegiada, já que ele pode ajustar as regras do jogo como melhor lhe convém. Este jogo é a priori injusto", explica o analista financeiro da FxPro, Aleksandr Kuptsikevitch, ao jornal “Vzgliad”.

No entanto, a privatização nem sempre é a solução para uma melhor gestão da empresa. "Um exemplo de experiência de gestão danosa pode ser o Reino Unido, que há alguns anos vendeu a sua participação nas ferrovias nacionais. Alguns anos depois dessa venda, os proprietários anunciaram perdas significativas e o governo foi obrigado a, mais uma vez, intervir das atividades da empresa", disse a vice-presidente do Clube Russo de Diretores Financeiros, Tatiana Kassianova.

 O que será vendido

O ministro Uliukaiev é a favor de uma privatização cuidadosa. Segundoele, em 2014 podem ser privatizadaos o banco VTB, a companhia áerea Aeroflot, a empresa marítima Sovkomflota, o porto marítimo comercial Novorossíski, 5% das ações da empresa ferroviária russa RJD e 19% da petrolífera Rosneft. "Todos esses negócios são perfeitamente plausíveis", disse o chefe do Ministério do Desenvolvimento Econômico, que, no entanto, não exclui a transferência da privatização de certos ativos dessas empresas estatais para datas posteriores.

O Estado não quer vender seus ativos por uma ninharia, por isso está pronto para esperar por uma situação mais oportuna no mercado para a venda de sua participação em empresas estatais.

2014 poderá ser visto como ano "estéril" em operações de privatização, tal como o ano passado. "Temo que a conjuntura do mercado seja tal que o Estado não consiga atingir os seus objetivos futuros, uma vez que o país continua enfrentando uma grave perda de interesse por parte dos investidores", diz Kuptsikevitch.

A transação mais esperada em 2014 é o reforço do orçamento russo com a venda de títulos da empresa Rostelecom. Em 2015, o principal objeto de privatização pode se tornar as ações do banco VTB e em 2016 a participação na RJD.

De acordo com o novo plano de privatizações para o perído de 2014-2016, em três anos o governo pretende embolsar 1,7 trilhões de rublos com as privatizações (cerca de US$ 49 bilhões). Isso corresponde a 13% das receitas do orçamento federal de 2013. No entanto, o governo vai receber menos do que isso porque parte do dinheiro (cerca US$ 20 milhões ou 700 milhões de rublos) da venda das ações de empresas estratégicas deve ser investido no desenvolvimento das próprias empresas e no aumento do seu capital. 

 

Publicado originalmente pelo Vzgliad

 

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