De acordo com a análise da CAF, empresas de petróleo e gás são as que dependem mais da boa vontade do Estado na esfera da beneficência Foto: ITAR-TASS
No Rating Mundial de Ações Beneficentes para 2013, elaborado pela fundação britânica Charities Aid Foundation (CAF), a Rússia subiu quatro posições –pulou do 127º lugar para o 123º. A principal contribuição para este crescimento, apesar da crise, continua sendo o setor corporativo. Mas, ao contrário de anos anteriores, as empresas começaram a abordar a doação de modo mais consciente.
Caridade: questão corporativa
A beneficência russa é hoje, na sua maior parte, um negócio entregue às empresas. Segundo estimativas da Câmara Pública da Federação Russa, 59% dos fundos doados este ano para beneficência vieram precisamente de estruturas comerciais. Quase todo grande negócio –93% das empresas– está periodicamente envolvido em ações de caridade. As médias empresas contribuem em 83% para organizações de caridade e as pequenas empresas têm uma participação menor, de 60%. Mas o fato de a caridade na Rússia de hoje ser em grande parte uma questão de patrocinadores e grandes empresas é confirmado não apenas pelos números, mas também pelas atitudes.
Segundo a última contagem do Centro de Pesquisa de Opinião Pública de Toda a Rússia (VTSiOM, na sigla em russo), os russos depositam mais esperanças nas grandes corporações e nos mecenas ricos. Assim, 89% das pessoas questionadas acreditam que as grandes empresas devem se ocupar de ações de beneficência, enquanto 77% atribuem essa responsabilidade às pessoas ricas.
A filantropia empresarial na Rússia é principalmente uma filantropia "de resposta". Em 56% dos casos, as empresas fazem doações em resposta a pedidos específicos de indivíduos ou organizações. Em apenas 18% dos casos as empresas fizeram doações por iniciativa própria. Mas esta tendência começou a mudar. As organizações estão começando a ter políticas de beneficência bem estruturadas, coisa que não existia antes.
Os projetos que as empresas russas patrocinam vão aumentando de escala e isso já é notado pelas próprias empresas e instituições de caridade. As corporações fazem hoje doações com maior facilidade do que antes, doam dinheiro para apoiar atividades de programa de ONGs, diz a diretora do fundo de assistência a crianças órfãs Aqui e Agora (Zdes i Sitchas), Tatiana Tultchinskaia. As empresas estão dispostas a reservar fundos para apoiar serviços sociais, tais como programas de reabilitação para crianças com deficiências múltiplas ou para o acompanhamento profissional de crianças adotadas.
No final de 2013, foi realizado, em parceria com o jornal “Vedomosti”, um estudo sobre o estado da filantropia empresarial na Rússia. O estudo englobou empresas russas e estrangeiras com volume de negócios total superior a 100 milhões de rublos em 2012 e com ação de beneficência no território da Rússia. Os pesquisadores descobriram que, no geral, o montante total de fundos que 63 empresas dispensaram para atividades de beneficência e caridade em 2012-2013 totalizaram 13,4 bilhões de rublos (mais de US$ 400 milhões). Esta lista inclui 34 empresas russas, que representam um pouco mais de 12 bilhões de rublos (US$ 367 milhões).
Quem ajuda quem
Em média, as empresas russas e estrangeiras são iguais em generosidade e gastam, em média, 1% dos seus lucros anuais em caridade.
Segundo os cálculos da CAF, diferentes setores da economia escolhem diferentes beneficiários como receptores das suas doações.
Como exemplo, a banca russa canaliza fundos para a caridade infantil. Em 2011, os 50 maiores bancos na Rússia gastaram 6,8 bilhões de rublos com caridade (US$ 200 milhões).
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As montadoras de automóveis, logicamente, canalizam a maior parte dos fundos para beneficência com a proteção ambiental. De acordo com a análise da CAF, empresas de petróleo e gás são as que dependem mais da boa vontade do Estado na esfera da beneficência. E isso não é de admirar, já que esta indústria é hoje controlada pelo Estado.
Os principais beneficiários de ações beneficentes das empresas de petróleo e gás são famílias de baixa renda, veteranos de guerra e deficientes, que mais estão na mira da atenção do Estado. E as expectativas das gerências das empresas petrolíferas são plenamente justificadas.
Em 2011, a Rosneft gastou com "patrocínios" 12,66 bilhões de rublos (US$ 387 milhões), a Transneft, 6,7 bilhões de rublos (US$ 205 milhões) e a Gazprom, 6,1 bilhões de rublos ($ 187 milhões).
O Estado tem interesse no crescimento da filantropia corporativa e isso se reflete nas indulgências legislativas. Hoje, na Rússia, já há uma série de isenções no IVA (Imposto sobre o Valor Acrescentado), no imposto de renda para pessoa física e para empresas benfeitoras. Por exemplo, em São Petersburgo, existe uma lei de benefícios para o aluguel de imóveis urbanos e até mesmo a possibilidade de disponibilizar instalações gratuitamente a empresas que estejam envolvidas em ações de beneficência. Mas o processo não fica por aqui –as autoridades continuam a considerar alterações à lei com o objetivo de incentivar as empresas nesta esfera.
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