De acordo com os dados, apenas 7% dos russos participam de sorteios Foto: PhotoXPress
Resultados de auditoria recente realizada pela primeira vez nos últimos 20 anos demonstraram a improdutividade da empresa pública OAO Loterias Russas. A falta de confiança por parte da população está entre os motivos, apontam especialistas.
Apesar de quase 20 anos de existência, a companhia não contribuiu para o crescimento do número de milionários no país, assim como não virou um grande filantropo, seguindo o exemplo dos países ocidentais.
Serguêi Agaptsov, representante da Câmara de Auditoria, afirmou que "a maior parte dos investimentos do governo no capital social da empresa não poderá ser recuperada".
Os dados confirmam a chegada dos tempos difíceis para as organizações atuantes no mercado de sorteios, que começaram a enfrentar certas dificuldades nos últimos anos. A empresa em questão foi fundada em 1995. Suas atividades, no entanto, consistiam apenas na venda de bilhetes lotéricos, já que a organização dos próprios sorteios não era de sua responsabilidade. No final de 2011, a empresa conseguiu lucrar apenas 61 mil rublos (cerca de US$ 2.000), mas no final de 2012 o seu lucro caiu para 40 mil (cerca de US$ 1.500).
Na opinião de alguns especialistas, a auditoria integra iniciativa do vice-primeiro-ministro russo, Igor Chuvalov, referente às reformas no setor, que preveem a introdução de alterações na legislação sobre as loterias destinadas a manter apenas as empresas administradas pelo governo organizando os sorteios promocionais. Neste caso, no mercado permanecerão apenas duas companhias, a Gosloto, mantida pelo Ministério do Esporte, e a Sportloto, controlada pelo Ministério de Finanças.
Na opinião de alguns representantes do mercado lotérico, os principais problemas enfrentados pelas empresas do setor são a ausência de legislação adequada, assim como a falta de interesse por parte da população. Segundo os dados da La Fleur 2013 World Lottery Almanac, pesquisa realizada com ênfase nos Estados Unidos, a parcela da Rússia não supera 0,13% do mercado total, avaliado em US$ 275 bilhões.
De acordo com os dados, apenas 7% dos russos participam de sorteios, enquanto na Europa e nos Estados Unidos este número supera 70% e 80%, respectivamente.
A falta de interesse por parte do consumidor russo é a consequência de uma grande desconfiança causada pelas múltiplas fraudes relacionadas aos sorteios nas últimas décadas, dizem os especialistas. Um dos casos mais conhecidos aconteceu em 1992 durante o sorteio de um carro Peugeot, organizado pela empresa de loteria instantânea Surpresa. O vencedor residente na unidade federativa de Rostov chegou a Moscou para buscar o seu prêmio, mas o carro não foi entregue devido à suposta falsidade do seu bilhete.
Segundo o relatório referente ao ano de 2011 elaborado pelo banco estatal Sberbank, os russos gastam com as loterias um valor médio mensal de US$ 1,50, enquanto no orçamento dos poloneses ele é 20 vezes maior. Um europeu comum investe nos sorteios cerca de US$ 420 por ano e não são raros os casos de recuperação deste valor, assim como de recebimento de prêmios ainda maiores.
Segundo os cálculos do jornal britânico “Financial Times”, no período entre 1995 e 2013, cerca de 3.000 cidadãos do Reino Unido se tornaram milionários após ganharem na loteria UK National Lottery. A população do país aceitou o recente aumento do preço de bilhetes para 2 libras, pois quase um terço do valor total de vendas destina-se aos fundos beneficentes e ao apoio ao esporte, à arte ou ao cinema. Por exemplo, uma parte destes recursos foi investida na produção do filme “O Discurso do Rei”, dirigido por Tom Hooper e que conquistou o prêmio Oscar.
Além disso, a National Lottery contribuiu com 750 milhões de libras, 28% do valor total de bilhetes vendidos, para a realização dos Jogos Olímpicos de verão em Londres.
A loteria hispânica ONCE (fundada pela Organização Nacional dos Cegos de Espanha) atrai um grande número de aposentados, pois quase a metade de compradores dos seus bilhetes tem acima de 65 anos. Os recursos adquiridos através da venda dos bilhetes distribuídos pela organização, em que 90% dos funcionários não enxergam, são destinados ao apoio a deficientes visuais residentes no país. Este é um dos motivos que estimulam as vendas, pois muitos não querem apenas se tornar milionários, mais também participar de uma ação beneficente.
Na Rússia, a demanda por loterias foi alta apenas no século 19 e na época da União Soviética, quando os bilhetes às vezes serviam como o troco na falta de moedas. No entanto, as frequentes fraudes na década de 1990 causaram a desconfiança da população em qualquer tipo de sorteio. Além disso, as causas beneficentes promovidas pelas lotéricas também não convencem os russos, cuja maioria não acredita em intenções nobres das entidades filantrópicas.
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