70% dos empresários estrangeiros que investiram na Rússia avalia a experiência como extremamente positiva, segundo a Fundação dos Investimentos Diretos Foto: Alamy/Legion Media
Acreditando nos filmes de Hollywood, em que homens de negócio russos mais se parecem com criminosos e onde qualquer tentativa para trabalhar dentro da lei enfrentará um muro impenetrável de burocracia, muitos empresários estrangeiros têm medo de vir para o país. Mas o fato é que aqueles que vieram para a Rússia por alguma razão não têm pressa de ir embora.
"Não é nada como o estereótipo retratado na mídia ocidental”, diz o financista de Manchester Simon Fentham-Fletcher.
“No início, eu pensava que ficaria aqui apenas dois anos, mas já vou para o sétimo. [Trabalhar aqui] tem sido verdadeiramente divertido e tem me proporcionado desafios interessantes que fizeram de mim não só um empresário melhor, mas um solucionador de problemas.".
Mas para operar com sucesso no território empresarial russo é preciso conhecer as características locais. A Gazeta Russa selecionou as principais.
70% dos empresários estrangeiros que investiram na Rússia avalia a experiência como extremamente positiva, segundo a Fundação dos Investimentos Diretos.
1. Sucesso através da confiança
Para Simon, gerente de portfólio e chefe de pessoal no Renaissance Asset Managers, o conhecimento da realidade empresarial da Rússia começou com os bancos.
"Foi incrível, a princípio eles estavam naturalmente céticos, mas o que me surpreendeu foi como eles compreenderam como conseguimos fazer as coisas crescerem", diz Simon.
Estado de alerta e cuidado no início das negociações são características distintivas dos russos, enraizadas no seu passado soviético. Naquela época, era comum as partes aumentarem os termos ou condições no início das conversações, mas depois de muita discussão acabarem fazendo concessões.
"A confiança é uma qualidade fundamental para um empresário russo, pode surgir rapidamente e, uma vez ganha, vai durar a vida inteira", diz Simon.
2. Emoções: a chave para relacionamentos fortes.
Juntamente com a confiança, vem uma avalanche labiríntica de emoções. Para os indivíduos das culturas ocidental e oriental, franqueza excessiva e abertura nas conversas pode ser considerado de mau gosto. Para um russo, empolgado com a conversa, não custa nada reduzir a distância exigida pela etiqueta com um tapinha no ombro do interlocutor. Esta é a norma. Em compensação, os russos não entendem os sorrisos educados nos rostos dos colegas estrangeiros. Em parte eles respeitam essa capacidade, mas não vão querer seguir o exemplo.
3. Sem cerimônia
Quanto mais confiança existir na relação, menos cerimônia haverá. Não há nenhum prelúdio no início da conversa. Os russos vão direto ao assunto, discutem primeiro os negócios e só depois é que se interessam em saber como é que você vai e como está o tempo. E, como Fletcher pôde experimentar em primeira mão, o lugar mais provável para uma conversa não será o escritório:
Na Europa Ocidental, ‘businessmen russos’ são os empresários cujo negócio traz mais perdas do que ganhos.
Já os americanos chamam normalmente de ‘businessman russo’ aquele que sonega impostos ou tenta enganar o Estado de outras formas.
"Os jantares de negócios são a norma, o dia comercial começa um pouco mais tarde, mas vai até longas horas da noite. Os restaurantes poderão estar lotados com empresários fazendo negócios a toda hora do dia, ao passo que em Londres ou Nova York os negócios são mais propensos a serem feito durante o dia e no escritório. Em um café ou restaurante, o tema da conversa pode ser mais comedido do que em uma sala de reuniões. Isso não quer dizer que as empresas russas não fechem negócios em salas de reuniões, a questão é que quanto mais o seu parceiro confia em você, mais você se torna uma pessoa próxima."
4. Assertividade, criatividade, infatigabilidade
Estas são das características mais úteis dos russos, diz Simon.
"Na Rússia, há sempre uma oportunidade, as pessoas não acordam pela manhã achando que algo não pode ser feito, como tantas vezes acontece na Europa. Ao contrário, as oportunidades estão sempre aí para serem procuradas. Eu poderia argumentar que o empreendedorismo russo tem que ser criativo porque antes não havia nada e, por isso, ele teve de ser inventado. Esta é uma grande qualidade."
O jogo de cintura para encontrar jogadas não convencionais se deve ao fato de o caminho direto não ser, até hoje, o mais eficaz.
"O empresário aqui ainda têm que combater o imenso setor do Estado, que para muitas indústrias significa ser adaptável e eficaz para não ser preterida pela opção estatal ‘mais segura’", explica Fletcher.
A faixa etária do seu parceiro de negócios também tem um papel importante. Aqueles que têm mais de 50 anos são representantes da escola soviética. Regra geral, são pessoas que já não estão dispostas a assumir riscos e preferem colher mais depressa os benefícios dos esforços investidos.
“Aqueles que estão na casa dos 40 anos também têm um ‘número’ que vai fazê-los parar e que irá ficando maior a cada novo negócio. Eu amo essa característica de nunca estar saciado. O desejo de puxar cada vez por mais é uma característica que começa a diminuir nos europeus. Não na Rússia, onde nunca nada é suficiente”.
5. Os russos do País dos Sovietes
O jogo de palavras de difícil tradução da frase “A URSS é um país dos Sovietes” ( em russo, “soviet” se traduz como “conselho”. Assim, “país dos Soviets” também pode ser traduzido como “país dos conselhos”) descreve muito bem uma outra característica dos russos: o prazer de dar conselhos.
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