Os produtos lituanos representam menos de 1% do mercado lácteo da Rússia e sua proibição não vai afetar significativamente o mercado Foto: PhotoXPress
Embora a Rússia tenha cancelado os controles especiais em suas fronteiras, continua a proibição da importação de produtos lácteos da Lituânia. O conflito comercial pode ter consequências negativas em vários aspectos das relações da Rússia com a União Europeia e, especialmente, no diálogo sobre o sistema de vistos.
"O presidente da Rússia Vladímir Pútin mandou cancelar os controles aduaneiros intensivos na fronteira russo-lituana", declarou o porta-voz do Serviço Aduaneiro Federal (FTS, na sigla em russo).
A medida deve acabar com o problema de congestionamentos quilométricos na fronteira, mas permanecem limitações à entrada na Rússia de produtos lácteos lituanos. Na semana passada, representantes da Comissão Europeia declararam que a União Europeia pode iniciar um processo contra a Rússia na OMC por causa do embargo russo aos produtos lácteos da Lituânia.
"A Rússia não informou a Comissão Europeia sobre as suas reclamações contra os produtos lácteos lituanos" declarou o porta-voz da Comissão Europeia, Frederic Vincent. "Estamos convencidos de que a qualidade dos produtos lituanos é alta. De acordo com as obrigações da Organização Mundial do Comércio, a Rússia pode introduzir restrições à importação de produtos apenas após o fornecimento das provas que esses bens representam uma ameaça para os consumidores, o que não foi feito", completou Vincent.
A proibição de importação de produtos lácteos da Lituânia entrou em vigor em 7 de outubro e foi explicado pela falta de adaptação dos produtos às exigências da Federação Russa.
"Encontramos levedura, fungos e bactérias que causam colibacilose, dibutilftalato e dietilftalato. É uma infração muito séria no processo de produção", declarou o chefe do Serviço Federal do Consumo, Guennâdi Oníschenko.
Os produtos lituanos representam menos de 1% do mercado lácteo da Rússia e sua proibição não vai afetar significativamente o mercado porque a quantidade de leite, peixe e carne importada da Lituânia é mínima. Mas esse embargo pode prejudicar significativamente a economia da Lituânia –70% de todas as exportações da peixe do país, por exemplo, são destinados à Rússia.
De acordo com fontes diplomáticas do “Kommersant” em Bruxelas e Vilnius, esse conflito pode ter consequências muito significativas. Na União Europeia estão convencidos de que não se trata de bactérias, mas de política.
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No final de novembro será realizada a Cúpula da Associação Oriental na capital lituana, onde deverá ser assinado um acordo de associação e de criação de uma zona de comércio livre entre a União Europeia, a Ucrânia, a Moldávia e a Geórgia. A Rússia está tentando convencer Kiev e Kichinev a rejeitar a convergência com Bruxelas.
A Lituânia, que atualmente preside a União Europeia, pediu à Rússia "respeitar o direito de escolha soberana" das ex-repúblicas soviéticas. O Ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Linas Linkevicius, declarou que as autoridades do seu país poderiam bloquear a comunicação por vias férreas e de estradas com a região de Kaliningrado se Moscou "não para de pressionar os seus vizinhos".
De acordo com fontes diplomáticas do jornal “Kommersant”, o conflito em torno da Associação Oriental e as restrições comerciais podem afetar negativamente outros aspectos das relações da Rússia com a União Europeia.
"Enquanto a Lituânia está defendendo as decisões pró-europeias da Ucrânia e a Holanda faz uma reclamação sobre a detenção do navio Arctic Sunrise, Moscou reage com restrições comerciais. Essas coisas são ligadas entre si", disse o interlocutor do “Kommersant”. "Isso tudo oferece ao Parlamento Europeu novos argumentos contra a Rússia", completou.
Em 2007, devido a uma guerra comercial com a Polônia e divergências políticas com a Lituânia, a Rússia e a União Europeia não conseguiram desenvolver um novo acordo básico de colaboração (o documento não existe até agora). Atualmente, o diálogo sobre o novo sistema de vistos também pode ser congelado. O acordo para facilitar o regime de vistos deveria ser assinado na cúpula UE-Rússia em junho passado, o que não aconteceu.
Os diplomatas russos querem resolver rapidamente todas as divergências recentes (principalmente técnicas) para assinar o documento na próxima cúpula Rússia-UE em dezembro.
Publicado originalmente pelo jornal Kommersant
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