Estrutura renovada vem atraindo novos investidores para Sôtchi e outras cidades na instável região no sul do país Foto: ITAR-TASS
Apesar de os principais ministros do governo presentes no Fórum Econômico Internacional de Sôtchi, na semana passada, demonstrarem certo pessimismo quanto às questões econômicas, o estado de espírito das autoridades locais era bastante diferente. Mas isso não é surpresa alguma: o governo federal está finalizando a construção do espaço que vai abrigar os Jogos Olímpicos mais caros da história do mundo, estimado em US$ 50 bilhões.
Novas ferrovias, estradas, estádios, hotéis, pistas de gelo, bairros residenciais e um aeroporto foram erguidos em tempo recorde para transformar a pacata cidade-resort em um ambiente esportivo de primeira classe.
“A nossa economia cresceu mais de 15% entre 2009 e 2012, e a participação da estrutura do evento nesse aspecto dobrou em relação aos anos anteriores”, explica Igor Galas, ministro regional do Desenvolvimento Econômico. Para lembrar os visitantes do potencial turístico de Sôtchi após os Jogos, o programa do fórum deste ano incluiu corridas de Fórmula Um, um mercado de fazendeiros, degustação de vinho e outras bebidas locais, além de um show da banda de rock alemã Scorpions.
“Quando se traz eventos desse porte ao país, eles deixam um legado que inclui infraestrutura, otimismo, empregos e, às vezes, até mesmo novas indústrias, como o marketing esportivo”, afirma Zoran Vucinic, presidente da Coca-Cola na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia. “Então acho que vale a pena. Acima de tudo, faz com que as pessoas viajem. Acho que há um monte de concepções erradas sobre a Rússia, e o evento pode atrair pessoas para enxergarem a verdade com os próprios olhos.”
Galas alega que os investidores são atraídos por realizações, e não por promessas. “Sôtchi é nossa marca para trazê-los para perto”, diz. A reputação internacional da Rússia foi prejudicada recentemente por vários fatores, desde a “lei antigay” até os abusos de direitos humanos nas prisões e corrupção em geral.
Estabilidade regional
A maior preocupação tem sido a instabilidade nas regiões vizinhas do Cáucaso, como Inguchétia e Daguestão, que vem sendo assoladas pela violência e repressão do governo. “Raramente ouvimos que a próxima Olimpíada será realizada no Cáucaso, apenas em assuntos relacionados com a segurança”, aponta Virgílio Abdulatipov, presidente do Daguestão.
“O que acontecer depois das Olimpíadas será muito importante para o Cáucaso, pois estamos atraindo investimentos. O Vnesheconombank e o Nafta Moscow já investiram mais de 300 milhões de euros na indústria transformadora de vidro. Hoje, apresentamos uma parceria de projeto têxtil com investidores turcos ao primeiro-ministro [Dmítri Medvedev], que vai criar mais de 5.000 empregos no Daguestão”, acrescenta o presidente local.
O líder da Inguchétia, Iunus-bek Ievkurov, também aponta que os investimentos na região vem crescendo a um ritmo de 100 a 200% ao ano. “Esse é um sinal de estabilidade crescente. Ontem assinamos contratos de produção com empresas de Israel, Coreia do Sul e Itália. Já ultrapassamos o número de turistas que tínhamos nos tempos soviéticos estão se aproximando dos 100 mil por ano. A Inguchétia tem mais de dois mil monumentos antigos, incluindo a Igreja Ortodoxa mais antiga do país”, ressalta Ievkurov.
De um modo geral, as estruturas para as Olimpíadas são apenas a ponta do iceberg. “Gastamos quantias colossais em moradia e outros projetos sociais, para que Sôtchi tenha um padrão de vida completamente diferente após os Jogos”, acrescenta Galas. “É claro que a participação das instalações olímpicas na economia regional vai diminuir com o tempo, mas vamos compensar com um aumento previsto no número de turistas entre 11 e 12 milhões em 2014. O transporte também está se tornando importante, especialmente com a construção do porto de Taman [que deve se tornar o mais movimentado da Rússia até 2025].”
Segundo ele, ao olhar para os Jogos sob o ponto de vista contábil, o investimento parece resultar em prejuízo. “Mas não se pode imaginar um país como a Rússia sem viagens para o espaço e grandes eventos esportivos como as Olimpíadas”, conclui.
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