Fertilizantes Russa Uralkali é maior produtora do mundo Foto: Reuters
Há pouco tempo, Uralkali e Belaruskali defendiam altos preços em detrimento do volume de vendas do potássio, determinando os valores mundiais da commodity, já que são os acordos feitos entre fornecedores e consumidores que fixam os valores do produto, que não é comercializado em bolsas. Apenas dois grandes consumidores fecham contratos longos: a China e a Índia (semestral e anual, respectivamente).
Mas foi justamente a intenção da Bielorrússia de partir sozinha para o mercado que provocou preocupação por parte da canadense Canpotex, primeira a baixar, em 2013, o preço do fornecimento em 15%, forçando a joint venture BPC a ir pelo mesmo caminho. Após seis meses de negociações, a empresa assinou contratos para o fornecimento de um milhão de toneladas de potássio à China no primeiro semestre de 2013 a US$ 400/ton. Em seguida, a Uralkali tentou manter o preço antigo, mas, sem contratos com a China ou a Índia, foi forçada a baixar sua capacidade de produção em 16%, em 2012.
A guerra dos preços
Troca de principal acionista para figura mais próxima ao Kremlin pode reatar laços entre países
No início de setembro noticiou-se que Suleiman Kerimov, maior acionista da produtora de fertilizantes potássicos Uralkali 20ª empresário mais rico da Rússia no ranking da revista “Forbes”, estava vendendo sua participação na companhia, de 21,75%, avaliada em US$ 3,7 bilhões. Como resultado, as ações dediversos produtores de potássio norte-americanos e europeus subiram imediatamente, em meio a rumores de que a venda de Kerimov poderia significar o reinício das relações da Uralkali com a bielorrussa Belaruskali.
Até julho passado, a Uralkali fazia parte de uma joint venture com a Belaruskali, a BPC (Belarus Potash Company), que controlava os preços mundiais do potássio – suas produções somadas representavam 50% do total mundial. Mas a saída da Uralkali e a possibilidade de queda dos preços em 25% criaram um enorme problema para a Bielorrússia, que tem 12% do orçamento baseado nocomércio de fertilizantes. A derrocada das relações entre os países após o fim do acordo chegou a tal ponto que o diretor-geral da companhia russa, Vladislav Baumgertner, foi preso na capital bielorrussa, Minsk, em 26 de agosto, acusado de abuso de poder enquanto foi presidente da BPC. Quase um mês depois, no dia 19 de setembro, o presidente bielorrusso Aleksandr Lukachenko afirmou que Baumgertner seria extraditado em breve, mas exigiu mudanças nos proprietários da Uralkali.
“Parece que criaram uma novela para ganhar tempo e lançar essa jogada”, disse o analista da Paradigm Capital, Spencer Churchill, à Reuters.
O surgimento entre os compradores de nomes como o de Vladímir Kogan, ex-oficial e banqueiro próximo ao presidente russo, pode indicar um futuro estreitamento nos laços entre as duas ex-repúblicas soviéticas.
Causas da discórdia
Quando anunciou o fim do acordo com a Belaruskali e a interrupção de suas vendas conjuntas de fertilizante por meio da BPC, a Uralkali alterou também completamente sua estratégia de marketing.
Se antes a empresa exportava preterindo o volume aos preços, quando saiu
da joint venture passou a anunciar a exploração total de sua capacidade
e uma queda nos preços para US$ 300 por tonelada –
valor quase US$ 100 mais baixo que o praticado no
final de julho.
Além disso, a queda nas vendas da Belaruskali e a assinatura
de um contrato para a Uralkali abastecer a China com 500
toneladas de potássio até o final do ano tornaram a situação ainda mais
delicada.
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Primeiras vitórias
Com a iminente baixa nos preços, os fornecedores bielorrussos de potássio concordaram em baixar os valores de contratos já em curso, segundo informações de oficiais indianos reproduzidas pela Reuters.
Além disso, um dos maiores mercados do produto, o Brasil viu os preços “spot” desabarem de US$ 450 para US$ 370 por tonelada – e eles podem cair ainda mais.
Os importadores chineses também estão fazendo pressão sobre a exportadora
de potássio canadense Canpotex, na esperança de chegar aos US$ 320
por tonelada. Importadores da Malásia e da Indonésia acompanham
os acontecimentos na China e esperam chegar aos US$ 330 a US$ 340 por
tonelada, contra o preço anterior ao colapso da BPC, que chegava
aos US$ 420.
Segundo fontes da Gazeta Russa, a Uralkali estaria atualmente em
negociações para abastecer a China por US$ 325 a tonelada e a Índia
a um preço pouco acima disso.
Mas se os preços são aceitáveis para a Uralkali, para muitos concorrentes europeus que têm custos de produção mais elevados, incluindo a Bieloruskali, o valor já está perto do crítico.
Resultado inesperado
Após a prisão de Baumgertner, que estava no país para conversações com o premiê bielorrusso Mikhail Miasnikovitch, Minsk ainda apresentou uma queixa-crime contra Suleiman Kerimov e outros quatro executivos seniores da Uralkáli, pedindo sua busca pela Interpol.
Com isso, a guerra do potássio passou para o nível
político. Figuras públicas e empresários russos, incluindo
o chefe da Rosneft e ex-vice-premiê Ígor Sêtchin, assim como o
diretor do Sberbank, Guérman Gref, visitaram Minsk em sinal de apoio ao aliado
estratégico da Rússia.
“Se a Uralkali e a Belaruskáli reatarem a parceria, a russa
será forçada a rever novamente sua estratégia e reduzir sua
capacidade de exploração”, diz o analista da IFC Metropol,
Serguêi Fíltchenkov. O analista da Aforex, Narek
Avakian, não acredita no restabelecimento dos laços anteriores. “Será
difícil os ex-parceiros voltarem ao mesmo escopo e grau de
entrosamento de trabalho que tinham anteriormente.”
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Os fertilizantes potássicos tiveram mercado estável nos últimos anos, com quatro países detendo as principais reservas mundiais de cloreto de potássio: Rússia, Bielorrússia, Alemanha e Canadá. As reservas Verkhnekámski, na Rússia, e a Saskatchewan, no Canadá, são as maiores do mundo. Juntas, somam 82,2% do cloreto de potássio do planeta. Consumo da commodity costuma aumentar de 3% a 4% ao ano e foi de 52 milhões de toneladas em 2012, quase 70% das quais fornecidas pela russo-bielorrussa BCP e pela canadense Cantonex.
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