Lada é a fabricante de carros russa mais conhecida fora do país Foto: PhotoXpress
“Meu amigo tinha um que eu gostei tanto, eu precisava ter o meu também”, diz Neil Chowney, da cidade inglesa de Winchester, ilustrando a devoção que os proprietários do Lada pelo mundo todo têm por seus veículos. Isso foi há sete anos, conta ele. Hoje em dia, Chowney tem dois Ladas: um Niva e um Riva.
“O que eu mais gosto neles é sua simplicidade robusta”, continua Chowney, que ao longos dos últimos três anos administra uma importadora de peças de reposição para carros. “É possível consertá-los na beira da estrada, sem ferramentas especiais. Pode não ser muito rápido, mas é excelente para terrenos acidentados”, comenta.
Mas cabe lembrar que o fim da União Soviética e a subsequente recessão econômica tiveram grande impacto sobre a indústria automobilística nacional. Entre os automóveis de passageiros, apenas os sedans do Lada, os carros para terrenos acidentados da UAZ e os SUVs sobreviveram ao tempo.
A queda dos impostos de importação e o aumento da renda do consumidor na década de 2000 prejudicaram ainda mais os produtores de automóveis locais, uma vez que a sua principal vantagem competitiva, o preço baixo, foi deixada de lado pelos novos consumidores endinheirados que buscavam produtos de melhor qualidade.
As vendas de carros novos de marcas russas caiu para 580 mil no ano passado dos 920 mil modelos vendidos em 2002. O Lada continua comercializando os três modelos de passageiros mais populares no país: Priora, Granta e Kalina.
Atualmente, para melhorar as perspectivas de marca, as empresas locais estão se voltando para o exterior, como mostram as alianças Ford-Sollers e Renault-Nissan-VAZ. O maior acesso dos atores estrangeiros ao mercado russo proporciona a oportunidade de reavivar as exportações de veículos de fabricação russa.
Em março, a Renault-Nissan-VAZ anunciou os planos para exportar o seu novo sedã econômico Lada Granta para Alemanha, França, Sérvia, Bulgária e países bálticos.
“As exigências dos mercados de exportação estão elevando os padrões”, diz Aleksandr Chmigov, chefe da assessoria de imprensa da VAZ. “Os clientes europeus são mais exigentes em relação ao design e outros critérios, o que nos leva a desenvolver carros mais seguros e que poluem menos. Todos os carros seguem a norma ecológica Euro-5.”
O diretor da fabricante russa Yo-Avto, Andrei Beriukov, está certo de que a notícia da modernização conduzida pela Renault-Nissan na fábrica da Lada despertou novamente o interesse estrangeiro nos carros de fabricação russa. “A Yo-Avto está em negociações para exportar o primeiro modelo da empresa nos próximos anos”, adianta Beriukov.
Do tsar ao Lada
Embora o Lada possa ser a marca mais conhecida fora do país, a fabricação de carros na Rússia remonta aos tempos tsaristas, quando veículos baseados no design alemão eram produzidos manualmente em Riga, no atual território da Letônia.
Os primeiros automóveis produzidos em massa, no entanto, foram versões licenciadas do A-model, da Ford, feito na fábrica da GAZ em Nijni Novgorod, em 1929. Mais de 40 mil GAZ-As e GAZ-AAs foram produzidos até que a Segunda Guerra Mundial fez com que a fábrica mudasse totalmente para produção militar de caminhões e jipes.
“Inicialmente, a URSS não tinha sua própria tecnologia de automóveis ou especialistas na área”, explica Oleg Afanasyev, funcionário da principal fabricante de caminhões russa Kamaz. “Foram gastos entre 10 e 15 anos no desenvolvimento de seus próprios modelos, permanecendo tecnologicamente atrás dos líderes mundiais, ou eram usadas tecnologias estrangeiras para dar suporte à produção local.”
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a produção de automóveis decolou, alimentada pelo boom econômico e pela expansão da classe média. Mas o governo soviético já contava com a tecnologia ocidental para a fabricação de carros.
A fábrica da VAZ em Togliatti (em homenagem ao comunista italiano Palmiro Togliatti) foi construída em parceria com a fabricante de automóveis italiana Fiat entre 1966 e 1970 e viria a produzir o modelo que é hoje conhecido como Lada Classic. Em 1967, ano de seu lançamento, o Classic levou o prêmio de Automóvel Europeu do Ano prêmio e, até sair de linha no ano passado, cerca de 20 milhões modelos foram vendidos.
Focada principalmente no mercado interno, a GAZ também produziu o carro de passageiro Volga, a limusine Chaika (para a elite do Partido Comunista) e o carro de passageiros Moskvitch, fabricado nas cidades de Ijevsk e Moscou. Até 1985, a União Soviética produzia mais de 2 milhões de veículos (incluindo 1,2 milhões de veículos de passageiros) por ano, o que a tornava o quinto maior produtor do mundo.
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