Para Boris Titov, as autoridades do país devem terminar a "caça" aos trabalhadores oriundos das ex-repúblicas soviéticas Foto: ITAR-TASS
O ombudsman de negócios da Rússia, Boris Titov, desafiou o governo a anistiar os imigrantes ilegais. Para ele, as autoridades do país devem terminar a "caça" aos trabalhadores oriundos das ex-repúblicas soviéticas.
“Isso vai beneficiar a economia do país, que, caso contrário, poderá entrar em colapso”, afirmou Titov.
Especialistas temem que a população do país se oponha à iniciativa. Enquanto isso, os titulares de cargos responsáveis pela política de imigração cortam as cotas para a mão de obra estrangeira, o que pode ter como consequência a redução do afluxo de trabalhadores estrangeiros altamente qualificados, mas que não terá nenhum impacto no número profissionais de baixa qualificação, por exemplo.
“Trabalhei durante muito tempo como empresário e acho que todos só ganharão com isso. Nenhuma batida policial será capaz de resolver o problema de milhões de trabalhadores estrangeiros ilegais não tolerados por nossa população. Se garantirmos que os imigrantes não serão deportados e, ao mesmo tempo, liberalizarmos o mercado de trabalho, esses milhões de trabalhadores estrangeiros ilegais irão trabalhar para nosso orçamento”, escreveu Titov em seu blog.
Vale lembrar que a campanha contra a imigração ilegal começou em agosto passado depois de um policial ficar ferido em um conflito em um dos mercados de Moscou. Algumas batidas policiais foram realizadas, e um acampamento com barracas para imigrantes ilegais condenados à deportação foi montado. Mais tarde, os deputados sugeriram deportar qualquer estrangeiro flagrado cometendo infrações administrativas.
No entanto, especialistas alertam que, se as autoridades se mantiverem focadas em deportar os imigrantes ilegais e deixarem de pensar em medidas para sua legalização, poderão prejudicar consideravelmente a economia do país. Para Titov, caso todos os trabalhadores estrangeiros ilegais sejam expulsos de uma só vez, a economia do país vai ruir, já que uma em cada 15 vagas é ocupada por um trabalhador estrangeiro. No futuro, as necessidades do país em mão de obra só vão aumentar.
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Ttitov explicou porque os empresários assumem conscientemente riscos contratando imigrantes ilegais: "É uma terrível dor de cabeça contratá-los legalmente. É preciso acabar com essas formalidades desnecessárias. Os custos de produção na Rússia cresceram tanto que o país não é competitivo em relação a outros países. O setor privado não pode cumprir todas essas formalidades burocráticas. Como resultado, a maioria dos empresários é obrigada a violar a lei. Daí, o crime e corrupção.
A legalização é do interesse dos próprios trabalhadores estrangeiros, os quais muitos trabalham como escravos, e do país, adiantou Ttitov, acrescentando que o trabalhador legal irá pagar impostos.
O presidente da Comissão de Tributação da Associação de Pequenos e Médios Empresários da Rússia (Opora, na sigla em russo), Mikhail Orlov, partilha da opinião de Titov, avisando, contudo, que a população do país pode reagir mal à iniciativa. Pesquisas mostram que a maioria dos russos encara negativamente a presença de imigrantes das ex-repúblicas soviéticas no país. O Serviço Federal de Imigração também é contra a anistia para os imigrantes ilegais. O diretor do órgão, Konstantin Romadanóvski, disse que "não pode haver anistia para aqueles que andam por nossas ruas sem destino nem objetivos claros e violam nossas regras. Mais do que isso, segundo a nova lei, estamos fechando a entrada para tais imigrantes”.
O Ministério do Trabalho publicou cotas para trabalhadores estrangeiros em 2014. O número de permissões de trabalho terá uma redução de 6,5% em relação a 2013. As cotas para trabalhadores de baixa qualificação serão cortadas em 24,9%.
Conforme explica o professor associado do departamento de teoria e prática da Escola Superior de Economia, Pável Kudiúkin, a redução das cotas irá afetar o mercado de trabalhadores qualificados, mas não contribuirá para a diminuição da tensão social provocada por um grande afluxo de imigrantes ilegais.
“Os trabalhadores estrangeiros de baixa qualificação chegam sem pensar em receber benefícios sociais nem no que irão fazer aqui. Seu único desejo é ganhar aqui mais do que em seu país. Eles encontram emprego através de seus amigos radicados na Rússia e não se importam com nenhuma cota”, disse o especialista.
“Já os trabalhadores de alta qualificação dependem das cotas e das formalidades legais. Eles podem trabalhar não só na Rússia. Portanto, seria lógico o país cancelar as cotas para profissionais de especialidades raras de que carece o país, como é o caso de altos executivos estrangeiros”, adiantou Kudiúkin.
O especialista acredita que o país deve elaborar uma política clara para a atração de trabalhadores estrangeiros altamente qualificados e um sistema de cotas mais diferenciado.
Com material do Serviço Russo de Notícias, Ekho Moskvi e Kommersant
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