O boom do mercado russo de automóveis

O mercado russo de automóveis deverá lucrar ainda mais com a baixa das taxas de empréstimos e dos preços de seguros Foto: Reuters

O mercado russo de automóveis deverá lucrar ainda mais com a baixa das taxas de empréstimos e dos preços de seguros Foto: Reuters

Enquanto as vendas caem na União Europeia, Rússia ultrapassa a Alemanha e se torna o principal mercado europeu de automóveis. Ainda há espaço para o crescimento, mas a indústria enfrenta desafios.

A alta da gasolina geralmente desestimula a compra de carros na Europa e em qualquer país do mundo. Na Rússia, porém, uma lógica diferente toma forma, já que a alta levanta também o PIB do país.

Os preços elevados do combustível durante anos levaram a uma enorme onda de aquisições de veículos que colocou o país em primeiro lugar no mercado europeu de automóveis. Só no período de 2010 a 2013 a Rússia registrou um crescimento de 10% ao ano.

Durante a última década, a renda média mensal na Rússia aumentou 17 vezes, alcançando, em 2012, os US$ 800. Esse fato, aliado ao crescimento do mercado de crédito e ao aumento da taxa de natalidade, levou o país à liderança em mercados como o de telefonia celular e produtos infantis, entre outros.

De acordo com a Associação de Empresas Europeias na Rússia, a venda de carros na Rússia cresceu 12% e ultrapassou os 2,9 milhões de veículo em 2012.

Já na União Europeia, as vendas caíram 8,2%, chegando aos 12 milhões de carros, a taxa mais baixa nos útimos 17 anos, segundo a Associação Europeia de Construtores de Automóveis (ACEA na sigla em inglês).  

O mercado russo de automóveis deverá lucrar ainda mais com a baixa das taxas de empréstimos e dos preços de seguros. "Devido ao clima ruim e ao mau estado das estradas, os seguros na Rússia ainda são caros, assim como empréstimos financeiros. Mas a situação está melhorando", explica Serguêi Litvinenko, analista da PricewaterhouseCoopers.

Atualmente, os juros sobre empréstimos no país são de cerca de 15% a 17%, enquanto os custos do seguro anual representam de 5% a 10% do preço de um veículo, contra os 3% a 5 % praticados em mercados desenvolvidos.

Líder de mercado

Em agosto passado, o mercado russo de automóveis ultrapassou o alemão. De acordo com dados da Associação Alemã da Indústria Automobilística, as vendas de automóveis no país caíram quase 5% em 2013, chegando às 214.100 unidades. Já na Rússia, foram vendidos de 235 mil a 240 mil carros durante o mês passado, segundo a agência de análises russa Autostat.

Agora, espera-se que o crescimento do mercado mundial estagne. Mas o mecado russo, que conta com 250 carros a cada mil habitantes - contra os 750 carros a cada mil habitantes nos EUA - está longe de uma saturação.

Em 2007, apenas 290 mil dos carros vendidos na Rússia foram montados no país. Em 2012, o número chegou a 1,22 milhões. A quantidade de carros importados também aumentou, de 750 mil em 2007, para 990 mil em 2012.

O mercado russo de automóveis gira em torno dos US$ 70 bilhões, de acordo com dados da PricewaterhouseCoopers. No final de 2013, o número de carros montados no país chegara a 1,33 milhões, e as unidades importadas passarão de 990 mil.

O boom do mercado russo de automóveis é, em parte, resultado da insatisfação da demanda por décadas. Durante o período soviético, a produção nacional de veículos cobria menos da metade da demanda total do país, enquanto as importações de países capitalistas eram proibidas.

Mais tarde, na década de 2000, a exportação de petróleo e de recursos naturais fez o país retomar o fôlego perdido após a queda da União Soviética.  Já em 2008, o preço de petróleo bateu um recorde, ultrapassando os US$ 145 por barril.

Agora, apesar da diminuição do PIB russo devido à crise financeira, os preços do petróleo ultrapassaram novamente os US$ 100 por barril.

De acordo com a empresa de navegação TomTom, hoje Moscou registra os piores engarrafamentos do mundo.

Montadoras no país

O governo segue promovendo incentivos às montadoras estrangeiras no país. Além disso, no ano passado, antes de a Rússia entrar para a OMC (Organização Mundial do Comércio), Moscou introduziu um novo imposto sobre a importação de veículos de 30%.

Outra medida tomada para proteger o mercado foram os contratos assinados em 2011com a Renault-Nissan, GM, Ford e Volkswagen instituindo a obrigatoriedade de se utilizar 60% dos componentes nacionais, além de uma produção mínima de 300 mil carros por ano. Os contratos também determinam a necessidade do uso de motores e caixas de câmbio russas em 30% dos carros produzidos.

Hoje, a Volkswagen e a Ford ocupam o quarto e o quinto lugar, respectivamente, entre os maiores fabricantes de veículos na Rússia. Já a GM assinou um acordo com a fabricante russa GAZ para montagem da marca Chevrolet em São Petersburgo.

O primeiro fabricante estrangeiro a iniciar sua linha de montagem na Rússia foi a Ford, que investiu US$ 150 milhões na construção de uma planta em Vsévolojsk, cidade próxima a São Petersburgo, em 2002.

Os modelos estrangeiros mais populares na Rússia são o Hyundai Solaris, Ford Focus e Kia Rio, de acordo com dados da Associação de Empresas Europeias.

A francesa Renault abriu uma fábrica no país em 2005, enquanto a Volkswagen e a Toyota se instalaram ali em 2007 e a General Motors, em 2008. A aliança entre Peugeot, Citroen e a Mitsubishi, chegou em 2010, e a Hyundai, em 2011.

Em geral, os russos preferem as marcas estrangeiras. Em 2012, as vendas de carros zeros de marcas russas caíram para 580 mil, contra as 920 mil unidades vendidas dez anos antes, em 2002.

“Os modelos mais vendidos hoje são carros compactos e econômicos. Mas os russos passaram a preferir crossovers, como o Renault Duster, nos últimos 18 meses", diz Litvinenko.

Em março de 2013, a fabricante russa AvtoVAZ anunciou que exportará seu modelo sedan de classe econômica, o Lada Granta, para países europeus como Alemanha, França, Sérvia, Bulgária e outros.

O ministro da Indústria e Comércio da Rússia prevê um crescimento contínuo do mercado nacional, chegando às 4,17 milhões de unidades produzidas em 2020.

 

 

Andrei Shkolin é editor-chefe do jornal thinktwice.ru

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