Fim do cartel da Uralkali lança dúvidas sobre o futuro da indústria de potássio

Baumgertner: "Acreditamos que, em 2014, a demanda por potássio pode crescer 10%, para 60 milhões de toneladas, e, nos anos seguintes, o mercado pode começar a crescer novamente em 3 a 4%" Foto: ITAR-TASS

Baumgertner: "Acreditamos que, em 2014, a demanda por potássio pode crescer 10%, para 60 milhões de toneladas, e, nos anos seguintes, o mercado pode começar a crescer novamente em 3 a 4%" Foto: ITAR-TASS

O já oligopolista mercado do potássio aguarda consolidação após mudanças nas “regras do jogo”.

Na semana passada, as maiores empresas de potássio do mundo, entre as quais estão a Uralkali, a canadense PotashCorp, a norte-americana Mosaic e a alemã K+S, entre outras, perderam mais de US$ 20 bilhões em capitalização, após a Uralkali ter anunciado que deixará de vender potássio por meio da joint venture que formava com a Belaruskáli (Belarusian Potash Company, BPC). O diretor-geral da Uralkali, Vladislav Baumgertner, informou que a empresa recusa o princípio do “preço acima do volume” e vai apostar no volume máximo de vendas.

Até agora, devido ao fato de existirem no mundo poucas empresas de potássio e de a demanda ser crescente, as condições do mercado do setor eram ditadas pelos vendedores. Em 2012, 42% do mercado era controlado pelas fabricantes da CEI Uralkali e Belaruskáli, por meio da BPC e da Uralkali Trading, e 25% estava nas mãos da Canpotex, através da qual negoceiam a PotashCorp, a Mosaic e a Agrium.

“O próximo passo, depois de terem mudado as regras do jogo no mercado do potássio, é a consolidação”, disse Baumgertner ao jornal “Vedomosti”. “A consolidação é o passo lógico a ser dado quando o preço cai para o nível dos produtores marginais”, explicou, ressaltando que ainda é muito cedo para previsões, pois não está clara qual será a avaliação das empresas depois das mudanças efetuadas.

Baumgertner não descarta um retorno ao princípio do “preço acima do volume”. A Uralkali está pronta para negociar novamente com a Belaruskáli, mas só o fará se o trader for registrado em outra jurisdição, garante o diretor-geral. As negociações referentes à criação do trader Soiuzkáli na Suíça, que viria a substituir a BPC, efetuadas ao longo de todo o ano passado, não tiveram os resultados esperados.

“Após a queda do principal grupo comercial do mercado, não será de esperar para breve um novo compromisso conjunto”, acredita Serguêi Filtchenkov, da companhia russa de investimentos e finanças IFC Metropol, mas os acionistas da Uralkali poderão voltar a ter interesse em comprar a Belaruskáli. Mas ainda é muito cedo ainda para traçar futuras fusões, repete Filtchenkov. “Não existe no mundo indústria tão consolidada como a do potássio, com um número tão reduzido de vendedores e de compradores.”

O mercado do paládio e dos diamantes também tem poucos produtores. Até 2010, mais da metade do mercado do paládio era controlado pela Norilsk Nickel, dona da americana Stillwater Mining. Posteriormente, a Norilsk Nickel vendeu esta última, dando origem a um agente independente no mercado com cota de produção de 11%, embora os preços não tenham sofrido alteração significativa.

“O equilíbrio no mercado do paládio foi sempre apoiado pela GosReserv (Reserva Estatal Russa) e, por isso, não é possível comparar diretamente a situação”, garante o banqueiro. Quanto ao mercado dos diamantes, onde os grandes agentes são apenas dois, a De Beers e a Alrosa, também não serve como exemplo. “Não aconteceu nenhuma oscilação significativa nos preços depois de, em 2007, a Alrosa ter deixado de vender através da De Beers”, acrescenta Filtchenkov. No negócio dos diamantes, um papel importante foi desempenhado em 2008 pelo programa estatal indiano de crédito às empresas lapidadoras.

“A indústria de potássio já está consolidada, será difícil consolidá-la ainda mais”, duvida o analista da Atlantic Equities Colin Isaac. “Esta é uma época de preços baixos e pequena margem para as produtoras de potássio. Em 2012, o retorno foi de 50-70%.”

Todas as negociações referente à consolidação e tidas com o antigo proprietário da Uralkali, Dmitri Ribolovlev, em meados da década de 2000, foram frustradas devido à falta de vontade do regulador canadense em chegar a um acordo com os grandes pacotes da PotashCorp. Em 2010, o regulador canadense barrou oferta da BHP Billiton, no valor de US$ 39 bilhões dólares, pela aquisição da PotashCorp. No ano passado, o regulador israelense vetou a tentativa da própria PotashCorp de adquirir a ICL.

O colapso dos preços do potássio, que se segue à declaração recente da Uralkali, pode levar à consolidação tanto dos traders como da produção. “Alguns fabricantes ultrapassarão a fronteira da rentabilidade”, diz o analista da AltaCorp Capital, John Chu, e a PotashCorp pode retomar as negociações sobre a aquisição de alguns ativos químicos.

Por si só, o princípio do “volume pelo volume” não é de grande utilidade nem mesmo à Uralkali, apesar de ela ter os gastos menores, garante o analista do Raiffeisenbank, Konstantin Iuminov. “A aquisição de produtores com gastos elevados como a K+S ou a ICL parece ser inútil, uma vez que isto não trará benefícios significativos”, continua ele, “mas a compra de algum dos agentes da Canpotex, à exceção da PotashCorp, pode vir a remodelar fortemente o mercado”.

A PotashCorp dificilmente pode ser um alvo de incorporação, uma vez que é demasiado grande (a sua capitalização após a queda é de US$ 25,06 bilhões, contra US$ 14,2 bilhões da Uralkali), mas a Mosaic e a Agrium podem ser adquiridas. O preço da primeira caiu 1,3 vezes desde 26 de julho para US$ 17.45 bilhões, enquanto o da segunda caiu apenas 5,8%, para US$ 12,4 bilhões.

Em 2011, o principal acionista da Uralkali, Suleiman Kerimov, já havia negociado a compra da Belaruskáli, mas acabou divergindo com o presidente do país, Aleksandr Lukachenko, em relação ao preço. O empresário estava disposto a ir até o máximo de US$ 15 bilhões, enquanto Lukachenko exigia mais de US$ 30 bilhões. Após o colapso do mercado, poderão ser retomadas as tentativas para absorver a Belaruskáli pela Uralkali. Os representantes da PotashCorp e da K+S não quiseram comentar.

 

Publicado originalmente pelo Vedomosti

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