Segundo analistas, ameaça de credores inadimplentes está aumentando porque eles assumem novos créditos para quitar dívidas antigas Fonte: Serguêi Kuksin / RG
Há pouco tempo, os russos estranhavam o costume dos americanos de viver a crédito. Porém, apesar das altas taxas de juros anuais, que muitas vezes superam 20%, agora é quase impossível achar um morador de uma grande cidade russa que nunca tenha feito pelo menos um empréstimo no banco. Os departamentos de concessão de crédito estimam que 34 milhões de pessoas utilizam esse serviço, que representa pouco menos da metade da população economicamente ativa do país.
Do outro lado, os bancos se esforçam para atrair novos clientes por meio de parcerias com as redes do comércio varejista. Mas os empréstimos “sem juros” e as linhas de crédito em condições especiais para os clientes antigos também criam um grande problema: o crescente número de calotes.
De acordo com os especialistas do Banco Central da Rússia, os portfólios de pequenos empréstimos problemáticos (com atraso no pagamento de parcelas acima de 90 dias) somam o valor total de 426,6 bilhões de rublos (US$ 12,93 bilhões). E a quantidade desses empréstimos já superou o índice anual de 2012 logo no primeiro semestre deste ano.
Uma pesquisa realizada pelo banco Sviaznoi, baseada em informações do Departamento Nacional de Proteção ao Crédito e da agência Equifax referentes ao ano de 2012, afirma que a quantidade de clientes com cinco e mais empréstimos aumentou de 6% para 19%, e cada um deles deve o valor total acima de 500 mil rublos (US$ 15.160) – o dobro da renda anual per capita no país em 2012.
Os analistas apontam que, para quitar suas dívidas anteriores, os clientes acabam fazendo novos empréstimos e entrando num espiral sem fim. Gareguin Tosunian, presidente da Associação dos Bancos da Rússia, afirma que as instituições financeiras se preocupam com o baixo crescimento da renda da população, que não consegue acompanhar o aumento do número de créditos concedidos.
“Podemos comparar a situação atual com a dos créditos simples nos EUA. Os clientes não têm capacidade de fazer uma avaliação adequada da sua capacidade financeira e pagar todas as taxas de administração necessárias, porém, os bancos são obrigados a serem menos rígidos na concessão de créditos devido à falta de novos clientes”, acrescenta Dmítri Gritskevitch, gerente do departamento de investimentos do banco Promsviazbank.
Para evitar os chamados “calotes”, o gestor do Banco Central, Vladímir Tchistiukhin, anunciou o plano de estabelecimento de limites máximos aos créditos para consumo popular, assim como uma porcentagem máxima de salário de cliente destinada ao pagamento de parcelas mensais. Uma opção mais rígida também considerada pelo Banco Central é a aplicação dos limites com base na razão entre o saldo das dívidas assumidas e a renda em 12 meses. Isso proibirá a concessão de empréstimos caso a razão seja superior a um valor pré-estabelecido. maiores coeficientes de risco e a formação das reservas financeiras mais significativas.
Os economistas acreditam que o futuro crescimento do mercado de empréstimos para consumo será menos intenso e consideram razoáveis as medidas propostas pelo Banco Central. “Durante a crise financeira, a população foi obrigada a diminuir o consumo, portanto, no período entre 2011 e 2012, ela começou a recuperar o bem-estar perdido. Mas, apesar das taxas de desemprego relativamente baixas e do aumento constante de renda, a época do consumismo desenfreado já está chegando ao fim, e isso diminui a demanda pelos pequenos empréstimos. A previsão de crescimento do portfólio de créditos concedidos é cerca de 25 a 30%”, afirma Stanislav Dujinski, analista do banco Home Credit.
Além disso, como o Banco Central está prestes a adotar essas medidas, que provavelmente causarão a desaceleração no crescimento do mercado de empréstimos para o consumo popular, as maiores instituições financeiras já começaram a seguir novas políticas de concessão de créditos e processos de análise com critérios mais rígidos, aprovando menos solicitações e aumentando a eficiência na recuperação de pagamentos atrasados.
“Diante da situação atual, a alta concorrência no segmento de empréstimos para o consumo poderá prejudicar os pequenos bancos que continuarão seguir as políticas de concessão de crédito mais agressivas”, conclui Gritskevitch.
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