Autoridades revelam dados “confidenciais” sobre reservas de petróleo e gás

Presidente da Rosneft acredita que a divulgação de dados sobre os recursos naturais permitirá atrair investidores estrangeiros Foto: AP

Presidente da Rosneft acredita que a divulgação de dados sobre os recursos naturais permitirá atrair investidores estrangeiros Foto: AP

Revelados recentemente, dados oficiais das reservas russas excedem em duas vezes as estimativas calculadas pelos auditores estrangeiros. Porém, para que as previsões sejam objetivas, os especialistas russos precisam atualizar o sistema nacional de classificação de acordo com os padrões internacionais.

No último dia 5, o primeiro-ministro russo Dmítri Medvedev assinou uma resolução que anula a confidencialidade das informações sobre as reservas nacionais de petróleo e gás. Desde a época de União Soviética, esses dados eram mantidos em segredo.

“Na época de luta pelos investimentos, os recursos naturais são uma vantagem competitiva que não deveríamos esconder”, diz Serguêi Donskoi, ministro dos Recursos Naturais. A agenda do respectivo ministério incluirá agora a publicação anual dos dados relativos às reservas naturais do país.

De acordo com os relatórios recém-divulgados, as reservas naturais russas em 1 de janeiro de 2012  eram compostas por 17,8 bilhões de toneladas de recursos plenamente prospectados (categorias A e B) e pouco prospectados (categoria C1), assim como por 10,9 bilhões de toneladas de depósitos perspectivos (categoria C2). O país possui o volume total de reservas de gás das categorias A, B e C1 de 48,8 trilhões de metros cúbicos e da categoria C2 – de 19,6 trilhões.

Segundo os dados da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em 1990 saiam do território da URSS 11,6% do volume mundial de petróleo destinado à exportação – número que foi superado por apenas alguns países, tais como a Arábia Saudita, Irã, Venezuela e Noruega. No início dos anos 1990, as empresas estatais soviéticas foram privatizadas e obrigadas a encarar uma rápida transição da economia planificada ao sistema de livre iniciativa. Foi só então que realizaram, por conta própria, a auditoria de seus recursos.

As informações adquiridas nessa época não eram tratadas como confidenciais, mesmo porque muitas empresas petrolíferas se tornassem entidades de capital aberto e, cumprindo as exigências da entrada na bolsa de valores, foram obrigadas a divulgá-las. Porém, as fontes oficiais do país preferiram não publicar os resultados das auditorias.

A decisão de compartilhar as informações foi tomada em fevereiro deste ano, durante a reunião da comissão do presidente para assuntos de energia. O autor da iniciativa é o presidente da Rosneft, Igor Sétchin, para quem a ausência das informações oficiais causa a subestimação do valor real da sua empresa.

Rigor internacional

A falta das informações oficiais fornecidas pelo governo russo é o motivo dos valores calculados pelos auditores europeus e americanos terem apresentado apenas metade de números oficiais. Por exemplo, segundo a "Revista estatística da indústria mundial de energia”, publicada pela petrolífera BP no final de 2012, os recursos russos de petróleo atingiram 11,9 bilhões de toneladas e de gás, 32,9 trilhões de metros cúbicos.

Pelos dados da revista, a Venezuela, com 46,5 bilhões de toneladas de reservas, ocupa o primeiro lugar no ranking mundial, a Arábia Saudita fica no segundo com 36,5 bilhões de toneladas, e o terceiro lugar é do Canadá, com 28 bilhões de toneladas. Mas se forem consideradas as informações oficiais recentemente divulgadas, a Rússia tem todas as chances para ser um dos três primeiros líderes mundiais.

Mas isso só será possível quando as autoridades russas atualizarem o sistema nacional de classificação de acordo com os padrões internacionais. O sistema de avaliação de recursos disponíveis elaborado após a queda da União Soviética não leva em consideração os aspectos econômicos do processo de exploração de petróleo e gás, cuja avaliação é prevista pelos padrões internacionais (PRMS e SEC).

“Exatamente por esse motivo a aplicação das regras internacionais leva à subestimação do volume das nossas reservas petrolíferas, porém, são as reservas lucrativas”, explica Valéri Nesterov, analista da agência Sberbank Investment Research.

Investimento à vista

Hoje em dia, as empresas russas já utilizam os padrões PMRS e SEC nos seus relatórios, enquanto o Ministério de Recursos Naturais da Rússia oferece um sistema próprio. As informações mais detalhadas sobre essa nova opção, que no momento está sendo testada pelas empresas petrolíferas e será completamente integrada no início do próximo ano, ainda não foram divulgadas, embora se saiba que terá certa semelhança com os sistemas adotados mundialmente.

As empresas do ramo não apoiam essa mudança. “Nós continuaremos a seguir os critérios do PMRS, entretanto, a integração do novo sistema de classificação nos levará às despesas adicionais desnecessárias”, explica um executivo de uma das maiores empresas petrolíferas da Rússia.

Nesterov compartilha a opinião e defende que “os investidores que possuem interesse em trabalhar na Rússia têm todas as informações sobre os ativos do seu interesse, pois até as pequenas jazidas fazem a própria auditoria”.

Porém, Sétchin realmente acredita que a divulgação de dados sobre os recursos naturais permitirá atrair novos investidores estrangeiros. “A decisão de manter em segredo as informações sobre os recursos de petróleo e gás parecia ridículo. Estamos no livre mercado há mais de 20 anos e temos muitos investidores estrangeiros, assim como temos interesse em ampliar a sua presença. Não temos nada a esconder”, afirmou uma fonte no governo russo que preferiu não ser identificada.

 

Kirill Melnikov é correspondente do jornal “Kommersant”

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