Ao comparar o real brasileiro ao rublo russo, os economistas do Sberbank descobriram que, apesar das diferenças nas políticas econômicas dos países, as moedas têm muito em comum Foto: divulgação
Apesar da modernização da economia russa e do rápido desenvolvimento da indústria manufatureira no Brasil, ambos os países têm economias que continuam a ser consideradas de matérias-primas. E isso tem impacto significativo sobre as moedas nacionais.
Graças aos altos preços do petróleo, durante os últimos 11 anos (com exceção de 2012) o orçamento russo não teve déficit. Porém, o país continua a sofrer da “doença holandesa”, ou seja, sua abundância de recursos naturais o leva quase à desindustrialização.
Para impedir esse processo, o Ministério das Finanças da Rússia decidiu criar um Fundo Nacional de Reserva, que guarda todas as receitas excedentes, o que permitiu à economia russa superar a crise de 2008-2009 relativamente sem senti-la.
No entanto, de acordo com relatório do “Sberbank”, o maior banco do país, durante os últimos 11 anos, o rublo teve valorização de 60% em relação à inflação.
Nem mesmo a evasão de divisas russas pode parar esse crescimento. “Em 1 de junho de 2012, o montante total do Fundo de Reserva e do Fundo Nacional de Previdência ultrapassou os US$ 171,1 bilhões, o que corresponde a 8,1% do Produto Interno Bruto da Rússia, ou às despesas orçamentárias de seis meses”, explica Nikolai Podlevskikh, chefe do departamento de análise da consultoria de investimetos Zurich Capital Management.
Ao comparar o real brasileiro ao rublo russo, os economistas do Sberbank descobriram que, apesar das diferenças nas políticas econômicas dos países, as moedas têm muito em comum.
Brasil, um exemplo
De acordo com os dados do Sberbank, devido à melhoria significativa das condições do comércio e ao aumento dos investimentos no Brasil, a moeda nacional brasileira também está sobrevalorizada em 7% a 15%.
O Brasil tem uma política para enfraquecer o real e, segundo os especialistas do Sberbank, outras economias baseadas em matériasprimas, inclusive a russa, devem seguir o exemplo do Brasil.
O rublo e o real se valorizaram devido a diferentes razões. “O real se fortaleceu por causa do crescimento da taxa de câmbio nominal, enquanto o principal motivo para o aumento da taxa de câmbio do rublo foi a inflação”, diz Podlevskikh.
No entanto, as condições econômicas são semelhantes nos dois países. “Durante o período pós-crise no Brasil, e na Rússia um pouco antes, o valor das exportações cresceu significativamente, enquanto os preços dos produtos importados continuam caindo”, explica o relatório do Sberbank. “Isso causa um aumento da demanda, que provoca o fortalecimento das taxas de câmbio nominais e o aumento dos salários.”
De acordo com os resultados do estudo da Zurich Capital Management, o principal problema da economia brasileira são os altos gastos públicos e, como resultado, o déficit orçamentário.
Hoje, o nível da dívida pública brasileira é o dobro da média dos países emergentes e sua redução é uma tarefa urgente. No Brasil os gastos públicos ultrapassam 40% do PIB – uma fatia maior do que em qualquer outro país da América Latina, exceto Argentina.
“Em ambos os países as taxas de câmbio crescem somente devido à entrada de capital estrangeiro no mercado local”, afirma Podlêvskikh.
A análise comparativa da dinâmica dos preços no Brasil e na Rússia confirma que o aumento da taxa de câmbio do real brasileiro foi causada pelo crescimento da taxa de câmbio nominal, enquanto na Rússia só a inflação teve impacto sobre a taxa de câmbio do rublo.
Metas e restrições
Ao contrário do Banco da Rússia, o Banco Central do Brasil iniciou suas metas de controle da inflação ainda em 1999, quando o primeiro ainda tentava conter a taxa de câmbio.
De acordo com os especialistas da Zurich Capital Management, o Brasil terá que mudar sua política financeira, tornando a economia mais flexível ou introduzindo restrições sobre o fluxo de todos os tipos de capital estrangeiro no país.
“Essas medidas ajudarão a restaurar o crescimento econômico e poderão ser aplicadas a outros países emergentes, em primeiro lugar à Rússia”, afirma Nikolai Podlevskikh.
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