Rússia mira Ásia para aumentar participação no mercado mundial de GNL

Atualmente, a Rússia produz cerca de 10 milhões de toneladas de GNL, o que representa 4,5% das vendas globais Foto: AP

Atualmente, a Rússia produz cerca de 10 milhões de toneladas de GNL, o que representa 4,5% das vendas globais Foto: AP

Gazprom tem cada vez mais dificuldades em manter a liderança. Praticamente todas as exportações da estatal estão concentradas na Europa, onde a estagnação econômica e o aumento da concorrência obrigam a empresa a fazer grandes concessões em sua política de preços.

A Rússia ambiciona conquistar de 10% a 15% do mercado global de GNL (gás natural liquefeito) até 2020 liberalizando a exportação do produto e atraindo investimento privado em novos projetos.

Para isso, o país encara Pacífico Asiático como principal mercado para o GNL russo.  Atualmente, a Rússia produz cerca de 10 milhões de toneladas de GNL, o que representa 4,5% das vendas globais (240 milhões de toneladas em 2012).

Nos mercados asiáticos, a Gazprom terá de competir com os principais exportadores mundiais.

“A estatal deveria ter entrado nesse mercado mais cedo”, acredita o analista do Raiffeisenbank Andrêi Polichuk.

Já em 2008, a Gazprom, que não acreditava nas perspectivas do gás de xisto dos EUA, apostava nas exportações de GNL para o Atlântico. Agora, os próprios norte-americanos passam de importadores a exportadores e têm na mira os mercados asiáticos.

Além disso, a Gazprom terá de competir na Ásia com seus parceiros de outros projetos. A Shell, por exemplo, pretende lançar uma série de projetos de GNL independentes na Austrália e redirecionar para os mercados asiáticos parte de seu GNL da Europa.

Mercado asiático

A gigante estatal de gás russa Gazprom é a maior exportadora mundial de gás natural, respondendo por cerca de 30% das vendas globais de gás em gasodutos. As vendas de gás natural renderam cerca de 25% da receita do orçamento federal da Rússia em 2012 (US$ 84,5 bilhões dos US$ 428,7 bilhões).

No entanto, a Gazprom tem cada vez mais dificuldades em manter a liderança no mercado. Praticamente todas as exportações da estatal estão concentradas na Europa, onde a estagnação econômica e o aumento da concorrência obrigam a empresa a fazer grandes concessões em sua política de preços.

Apesar dos descontos feitos pela Gazprom, a União Europeia tem feito novas exigências. Em setembro do ano passado, o Comissário Europeu para a Energia, Günther Oettinger, disse que a diferença nos preços do gás vendido aos países europeus era de 30% e que todos os preços deveriam estar no mesmo nível.

Em seguida, o governo russo proibiu a Gazprom de fazer descontos aos consumidores europeus sem sua aprovação. Mas isso dificilmente pode alterar a conjuntura geral. O sistema de contratos a longo prazo, impecável durante os últimos 30 anos, está arrebentando pelas costuras.

Em discurso em uma reunião da comissão para o desenvolvimento do setor de energia no início deste ano, o presidente Vladímir Pútin disse que, devido à redução das exportações de gás natural, o orçamento federal deixou de contar com dezenas de bilhões de rublos de receita. Na ocasião, Pútin citou as previsões de crescimento da demanda de gás natural nos países asiáticos.

Por razões semelhantes, decorrentes do mal-entendido com os países de trânsito no final do dos anos 1990, a Gazprom decidiu redirecionar suas exportações. Enquanto, no início dos anos 2000, 80% das exportações da empresa para a Europa passavam pela Ucrânia, em 2012, apenas 50% do gás russo foram encaminhados aos consumidores europeus através do território ucraniano.

Em janeiro deste ano, esse número diminuiu para 42%. Evidentemente, a Gazprom não pode reduzir substancialmente suas  exportações para a Europa –a empresa planeja investir € 25 bilhões na ampliação de sua rede de gasodutos até 2020 (dentro dos projetos Corrente do Norte e Corrente do Sul, além da reconstrução do sistema de gasodutos bielorusso).

No entanto, os 8% liberados em consequência da redução das vendas em 2012 poderiam ser redirecionados aos países asiáticos.

Produção

A unidade de liquefação de gás natural construída no âmbito do projeto Sacalina-2 é coparticipada por Gazprom (50% mais uma ação), Shell (27,5%), Mitsui (12,5%) e Mitsubishi (10%). O gás liquefeito produzido pela empresa é exportado para o Japão (63,9%), a Coreia do Sul (16,17%) e a costa Oeste dos EUA (19,94%).

Projetada para produzir 9,6 milhões de toneladas de GNL por ano, a empresa terá, em breve, sua capacidade aumentada para 15 milhões de toneladas. Isso permitirá aumentar a exportação de GNL para o Pacífico Asiático já no período entre 2015 e 2020, enquanto os demais grandes exportadores não lançarem seus novos projetos na região.

No entanto, o potencial de recursos do projeto Sacalina-2, previsto para durar até 2041, será insuficiente para a ampliação da produção.

Em meados de abril passado, Pútin declarou ser favorável aos planos de ampliar a produção de GNL e aconselhou integrar ao potencial de recursos do projeto Sacalina-2 o gás obtido no âmbito do projeto Sacalina-1, com coparticipação de ExxonMobil (30%), Rosneft (20%), da indiana ONGC (20%) e da japonesa Sodeco (30%).

No entanto, a produção de gás aqui só pode começar daqui a cinco a sete anos.

“Portanto, a fábrica local só será colocada em operação depois de 2020, quando a janela de oportunidade para a exportação de GNL para os mercados do Pacífico Asiático quase estiver fechada”, afirma Valeri Nesterov, da empresa  Sberbank Investment Research.

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