Foto: ITAR-TASS
Em outubro de 2012, em conferência organizada pelo banco VTB, o presidente Vladímir Pútin informava que a empresa Gazprom deveria ser unificada.
“Não devemos fazer como os nossos colegas na Europa, que dividem o negócio em extração, transporte e distribuição” disse o presidente. “Se escolhermos separar o transporte, este componente simplesmente morrerá por si só. O transporte não interessa como um negócio.”
No entanto, seis meses mais tarde, a situação na discussão em torno da Gazprom mudou drasticamente. Nos últimos dois meses, foram organizadas no Kremlin e na residência presidencial de Novo-Ogarevo várias reuniões particulares sobre o futuro do monopólio de gás russo.
De acordo com vários funcionários familiarizados de forma geral com o progresso das discussões, as consultas sobre a Gazprom até agora são de caráter puramente informal.
Como participantes dos debates, além do próprio presidente, as fontes mencionaram, entre outros, a assistente do presidente para assuntos econômicos (no verão, ela passará a exercer a presidência do Banco Central), Elvira Nabiullina, o presidente da Rosneft, Ígor Sechin (que ocupa simultaneamente o cargo de secretário executivo da comissão presidencial do Complexo de Combustíveis e Energia) e o diretor-geral da Gazprom, Aleksêi Miller.
Também participam das discussões os representantes da produtora independente de gás Novatek. Seus maiores acionistas são Leonid Mikhelson (o nº 3 da lista de russos da revista Forbes 2013) e Gennádi Timchenko (o nº 9 da lista Forbes).
A opção mais discutida agora consiste exatamente em dividir a Gazprom em dois tipos de negócio —o de transportes e de extração—, com a criação de duas entidades jurídicas independentes.
A ideia da divisão não é nova: já era discutida desde 1989, quando o Ministério da Indústria de Gás da URSS foi transformado em Gazprom.
Revolução do xisto
A situação foi quebrada pela revolução do xisto nos Estados Unidos, fenômeno apelidado de “efeito especial de Hollywood” pelo presidente da Gazprom há apenas dois anos.
“No ano passado, contudo, foi feita uma análise séria. Ficou claro que isso não é coisa de Hollywood, mas sim, um sério desafio”, diz uma fonte próxima ao governo.
Os preços do gás na Europa estão em declínio graças ao fluxo de baixo custo do GNL (gás natural liquefeito) do Oriente Médio, inicialmente destinado para os Estados Unidos e agora para o mercado europeu.
Daniel Ergin, da Cambridge Energy Research Associates, diz que, a médio prazo, a revolução do xisto conduzirá para a formação de um mercado global de gás, cujo preço não está relacionado com o do petróleo. Isso irá arruinar a pedra angular que manteve a posição da Gazprom na Europa –a relação dos preços do gás com os do petróleo através de fórmulas prescritas em contratos de longo prazo.
No entanto, as mudanças da Gazprom no futuro tornaram-se possíveis não só devido a fatores externos, mas também a internos –vários grandes participantes, como Rosneft e Novatek, surgiram no mercado.
Graças aos seus esforços, foi levantada a questão da perda pela Gazprom do monopólio exclusivo de exportação, questão que será decidida nos próximos meses.
Como afirma o ministro da energia, Aleksander Novak, o governo poderá permitir que empresas russas exportem o GNL. É verdade que a permissão mais provavelmente será aplicada apenas aos mercados asiáticos, para não fazer concorrência entre o GNL russo e o gás de tubulação da Gazprom na Europa.
Rosneft e Novatek estão interessadas pelo acesso aos gasodutos no futuro. Assim, a divisão da Gazprom em duas empresas irá atender aos seus interesses.
Por enquanto, no entanto, ainda não existe uma decisão sobre o destino da Gazprom.
“É necessário ponderar todos os argumentos, ver como ficará a situação do mercado. Questões como esta não podem ser resolvidas de uma só vez, então agora a questão principal consiste em estudar os fatos de maneira honesta e imparcial, analisar os cenários possíveis e, em seguida, formular uma resposta”, diz uma fonte familiarizada com a equipe dos participantes dos debates sobre o futuro da empresa.
De uma coisa os interlocutores do presidente têm certeza: seja qual for a decisão de Pútin, a reforma da Gazprom será feita por uma equipe diferente. Formalmente, o contrato de Aleksêi Miller expira somente em 2016 –ele lidera o monopólio há dez anos.
“Não importa como avaliar o trabalho de Miller nesta posição, dez anos é muito tempo. Além disso, o complexo perdeu a revolução do xisto”, diz uma fonte do governo.
Publicado
originalmente pelo Kommersant
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