Mercado já está emitindo alguns sinais positivos para a Gazprom Foto: ITAR-TASS
A Rússia é um exemplo de que as leis da concorrência não podem ser evitadas mesmo se existir um forte lobby e uma grande participação do governo no capital. Dois gigantes do setor de energia da Rússia colidiram na disputa pela plataforma continental do Ártico: a Gazprom” e a Rosneft. Ainda há pouco, as duas empresas repeliam, conjuntamente, todas as tentativas das empresas privadas desbravarem um caminho para a exploração desses depósitos. Agora, as antigas aliadas reivindicam as mesmas áreas e acredita-se que a disputa entre elas deverá ser submetida à análise da comissão governamental responsável pelas questões do complexo de combustível e energia.
A principal razão para o conflito é intenção da Gazprom de ceder o direito à exploração desses depósitos à sua “filha”, a empresa Gazprom Neft, que é concorrente direto da Rosneft. Em janeiro, o governo concedeu licenças para que a Gazprom e Rosneft pudessem operar em 17 e 12 campos, respectivamente. A Rosneft recebeu os seus campos e já atraiu um parceiro estrangeiro, a norte-americana ExxonMobil, para a exploração de 7 deles.
A luta contra a Rosneft se tornou um dos fatores que pressionam o preço das ações da Gazprom para baixo, embora não seja o fator principal. Anna Lakeitchuk, analista da empresa Aton, acredita que três outros fatores exercem uma influência muito maior: a demora nas negociações com a China (a Gazprom tem planos mandar para lá 38 bilhões de metros cúbicos por ano), o fortalecimento da posição dos concorrentes no mercado interno (principalmente da empresa Novatek) e a crise nos mercados europeus.
A Novatek, por exemplo, já atraiu uma série de clientes da Gazprom, grande consumidores de gás industrial, e está trabalhando ativamente no desenvolvimento do projeto Yamal GNL. No ano passado, três petroleiros carregados com o combustível já foram para a Coreia pela rota do mar do Norte.
Além disso, por causa da crise na Europa, a Gazprom teve que resolver o problema do excesso de produção de gás. Não se consegue interromper a diminuição do volume de gás fornecido para o “Velho Mundo” apesar da queda dos preços. Nos dois primeiros meses de 2013, as exportações caíram para 26,8 bilhões de metros cúbicos contra os 27,7 bilhões exportados durante o mesmo período do ano passado.
Em 2012, a Gazprom perdeu 16 posições no ranking das maiores empresas do mundo em termos de capitalização, despencando para a 31ª posição. Mas, segundo os analistas, não é tão fácil separar desse cenário negativo que impera nas bolsas de valores a influência exercida pelos erros da própria Gazprom. É possível que as ações da companhia já tenham atingido “o fundo do poço”. Nesse ponto os analistas geralmente aconselham a comprar as ações antes que assuas cotações comecem a crescer. Lakeitchuk, por exemplo, aconselha a fazê-lo agora. "O preço-alvoda Gazprom é US$ 7,3 por ação. Esse valor é aproximadamente duas vezes maior que o patamar atual”, afirma a analista.
O mercado já está emitindo alguns sinais positivos para a Gazprom. Pela primeira vez desde 2008, houve um salto dos preços à vista do gás, que subiram até mais do que os preços praticados pela Gazprom. De acordo com analistas da City, no Reino Unido, desde 1º de março eles cresceram 27%, de US$ 10,6 para US$ 13,9 por 28,3 metros cúbicos. Nos mercados europeus são observadas tendências semelhantes: em Zeebrugge chegaram a US% 12,9, registrando um crescimento de 23%, enquanto no Peg Nord (França) os preços chegaram a US$ 12,7. A Gazprom também vende gás para a Europa por cerca de 12 dólares por 28,3 metros cúbicos. Os preços subiram devido à redução da quantidade de GNV na Europa (ele foi interceptado por um mercado mais atraente na Ásia), aos problemas com a produção no campo norueguês Ormen Lange e o tempo frio em toda a Europa. Os analistas da City acreditam que o mercado à vista tenha esgotado as possibilidades de fornecimento a partir de outras fontes além da Gazprom. Dessa forma, as posições da gigante russa no mercado europeu são mais sólidas do que o mercado pressupõe.
Nikolai Podlevskih acredita que, se os mercados acionários globais encontrarem forças para que o crescimento continue, as ações da Gazprom podem se tornar uma das ideias de investimento que perderam o brilho temporariamente. “A taxa de capitalização de mercado em relação ao lucro da empresa encontra-se em níveis indecentemente baixos, aumentando a atratividade de investimentos em ações da empresa”, diz o especialista. Podlevskih estima os dividendos para o ano de 2012 em 5 a 6%. "Esses argumentos já são o suficiente para que os investidores incluam as ações da Gazprom na carteira de longo prazo”, garante o analista.
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