Diretor do Departamento de Política Econômica e Desenvolvimento Urbano do governo de Moscou, Maksim Rechétnikov. Foto: Kommersant
Há vários anos que o governo de Moscou acalenta a ideia de transformar a cidade em um centro financeiro mundial. Para tanto, o governo metropolitano deve construir infraestrutura, criar condições favoráveis à vida e aos negócios não só para os estrangeiros, mas também para todos os moradores locais e melhorar a qualidade do ambiente urbano.
Em entrevista à “RBC Daily”, o diretor do Departamento de Política Econômica e Desenvolvimento Urbano do governo de Moscou, Maksim Rechétnikov, falou sobre as atividades do governo metropolitano para colocar em prática a ideia.
RBC Daily:Há dias, Moscou sediou uma conferência dedicada aos preparativos para a cúpula do G20, que será realizada na capital russa neste ano. Como os especialistas estrangeiros avaliam a perspectiva da cidade ser um centro financeiro internacional?
Maksim Rechétnikov: “Em primeiro lugar, é preciso cuidar da cidade. Se a cidade tiver uma boa infraestrutura, o resto acontecerá por si mesmo", disse um dos ex-governadores do Estado alemão de Hessen, onde fica Frankfurt.
A criação de um centro financeiro internacional é mais um motivo para implantar em Moscou os padrões internacionais de qualidade de vida. Esse projeto faz parte de uma estratégia destinada a melhorar o ambiente urbano não só para os estrangeiros que vêm conhecer nossa cidade ou para profissionais altamente competentes e exigentes, mas também para todos os moradores locais.
RBC Daily:Tornar a cidade confortável para seus moradores é obrigação das autoridades municipais. O que o projeto de centro financeiro tem a ver com isso?
M.R: A condição de centro financeiro internacional nos obriga a criar os mais altos padrões de qualidade de vida em nossa cidade e a torná-la confortável para a estadia dos profissionais mais exigentes, que podem se permitir escolher entre as melhores cidades do mundo para morar.
Nosso objetivo é fazer com que Moscou fique entre as melhores cidades do mundo. Há quem diga que, ultimamente, Moscou vem se tornando cada vez mais difícil para se viver e que é difícil inverter essa tendência negativa. Os problemas que enfrentamos não se resolvem unicamente com dinheiro. Eles exigem a mudança de comportamento dos moradores e de hábitos de transporte.
RBC Daily:Enquanto isso, a busca de um local adequado para o centro financeiro prossegue. Inicialmente, o plano era instalá-lo em Rublevo-Arkhanguelskoe, agora em Kommunarka...
M.R.: Em Kommunarka será construído um grande centro de negócios. Centros de negócio semelhantes serão também construídos em Rublevo-Arkhanguelskoe, Skolkovo e Salarievo porque a cidade está interessada em criar empregos de nível mundial em sua periferia. Não podemos permitir que toda a Região de Moscou venha ao trabalho no centro da cidade. Devemos inverter essa tendência.
No entanto, a questão de saber onde haverá mais bancos, na cidade ou em sua periferia, deve ser dirigida à comunidade financeira, que possui um mecanismo suficientemente poderoso de autorregulação.
Se, por exemplo, os banqueiros nos disserem: "Caros colegas, decidimos nos fixar aqui e precisamos ter aqui determinadas estruturas federais", acho que o governo federal irá examinar suas propostas e tomará providências necessárias.
RBC Daily:Isto é, Moscou não terá seu Wall Street ou downtown, onde se concentrem as principais atividades empresariais e financeiras...
M.R.: Temos o Moscow-City.
RBC Daily:Lá não há bolsa. Há escritórios, habitações, centros comerciais, mas não há nenhuma bolsa.
M.R.: Lá se encontram sedes de vários bancos grandes. A cidade só pode criar condições e uma oferta suficiente de espaços para escritórios e providenciar a conectividade entre os diversos bairros. Por outro lado, Moscou não é proprietária da bolsa de valores e não pode lhe dizer para onde ir.
RBC Daily:O que mais Moscou pode oferecer a profissionais estrangeiros para que eles abandonem Londres, Nova York ou Frankfurt e se mudem para a Rússia?
M.R.: Em primeiro lugar, Moscou pode ocupar um nicho entre centros financeiros regionais. Durante a conferência, um empresário turco que está construindo na Rússia vidrarias disse que, se, antes, sua empresa planejava se instalar em Londres, agora planeja se instalar em Moscou, perto de seu negócio. Sua empresa entende que os riscos existem, mas são aceitáveis.
RBC Daily:O que a criação de um centro financeiro dará a Moscou?
M.R: A participação do setor financeiro na economia da cidade pode ser medida por indicadores como o imposto de renda. O setor financeiro rende 55 bilhões de rublos (cerca de R$ 3bilhões), ou um sexto da receita orçamentária proveniente do imposto de renda, ou ainda 5% da receita proveniente de todos os impostos.
Acrescente-se a isso a receita proveniente do imposto de renda pago pelos funcionários de empresas financeiras, da compra de imóveis, geralmente muito caros, e, portanto, dos impostos imobiliários associados. As instituições financeiras criam uma demanda transmitida em cadeia, desde as empresas de limpeza até firmas jurídicas.
RBC Daily:Existe algum prazo para criar um centro financeiro? Como vocês estão trabalhando com as estruturas federais?
M.R: O projeto de centro financeiro não como Jogos Olímpicos ou uma Copa do Mundo para que se fixe um prazo. Portanto, vamos trabalhar até tudo ficar pronto. Certamente, temos metas intermediárias. O curso dos trabalhos está sob o controle do presidente e do premiê.
Publicado originalmente pelo RBC Daily
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