Foto: RIA Nóvosti
O Fórum de Gaidar, realizado entre os dias 16 e 19 em Moscou na Academia Presidencial da Agricultura e do Serviço Estatal da Rússia, foi aberto quase sem traços de retomada da discussão do problema básico da política econômica russa, que é a abordagem à promoção do crescimento da economia através de gastos do Estado.
Em seu discurso no evento, primeira plataforma de discussão de 2013 na Rússia e que tradicionalmente reúne funcionários do governo e especialistas independentes, Dmítri Medvedev declarou que o principal objetivo do governo a médio prazo é o crescimento econômico de não menos de 5% do PIB ao ano.
Os participantes do fórum não tinham quase nenhuma dúvida de que 3,5% a 4% de crescimento do PIB em 2013 era praticamente o que havia sido decidido previamente e que os restantes 1,5 pontos percentuais devem ser procurados nas reformas estruturais. Os oponentes dessa ideia, que acreditam que o crescimento adicional encontra-se oculto nos incentivos, ficaram de fora do fórum.
No entanto, o aumento de 5% em 2013 não é visto como “obrigatório” pelo governo —o prazo colocado pelo primeiro-ministro foi definido mais amplamente como "no futuro próximo".
Medvedev enfocou as atividades das corporações do Estado, que "tiveram o seu papel na consolidação de diversos ativos e, no futuro, o seu destino tem de obedecer a regras determinadas”.
Como alternativa de suporte às corporações estatais, Medvedev propôs uma política de incentivo à iniciativa privada, incluindo “pequenas, médias e grandes empresas”.
Para isso, segundo Medvedev, é necessário pensar em estimular a competição entre as regiões pelos investidores. Ele recomendou às autoridades regionais e municipais que compartilhassem as responsabilidades com as autoridades federais.
Para desenvolver um ambiente competitivo, Medvedev considera necessário realizar uma "privatização progressiva". O primeiro-ministro não fez nenhum segredo de que já não está mais disposto a "aguardar indefinidamente" as condições favoráveis de mercado.
Mudanças
Dessa maneira, o Fórum de Gaidar confirmou que os governos, personalidades e principais indicadores macroeconômicos podem mudar na Rússia, mas o conflito básico na política econômica continuará o mesmo —a política da estabilidade macroeconomica irá se opor à política de aumento de gastos do Estado para a aceleração do crescimento econômico.
Mudam somente as nuances desta polêmica: em 2013, ela interessa pela perspectiva a médio prazo, com relação ao alvo colocado (crescimento do PIB em 5% por ano), mas para o qual aparentemente levam os dois caminhos.
O crescimento “natural" de 3,5%, na ausência de choques externos, não é contestado pelos partidários de nenhum dos lados. Os adicionais 1,5 pontos percentuais podem tanto trazer uma expansão drástica do financiamento de projetos de infraestrutura pelo governo (a curto prazo), como também trazer reformas estruturais significativas (a curto e médio prazos).
Durante o fórum, Anton Siluanov, chefe do Ministério das Finanças, falou em apoio à ideia de crescimento econômico através de reformas estruturais.
Mas, segundo ele, as reformas é que são necessárias e não o crescimento de demanda do Estado.
A posição do Ministério das Finanças também é apoiada pelo Banco Central. De acordo com o seu vice-presidente, Alexei Uliukaev, o crescimento de 3,5% de 2012 é uma possibilidade objetiva do modelo econômico operante.
O representante do Banco Central considera contraproducente incentivar esse modelo através de um simples relaxamento da política monetária, o que não "conduziria ao crescimento econômico, mas ao desequilíbrio e ao acúmulo de novos riscos em diferentes segmentos da economia”.
Em geral, o Fórum de Gaidar é mais um fórum de defensores dessa ideia, por isso o chefe adjunto do Ministério do Desenvolvimento Econômico, Andrei Klepach, colocou um ponto de vista oposto durante a abertura do evento.
Segundo ele, o crescimento do PIB de 5% exigiria "ajustes" nas regras fiscais.
Klepach também afirmou que não concorda com a opinião de Alexei Uliukaev sobre o ajuste do crescimento atual com o potencial econômico. Segundo ele, a flexibilização da política monetária e de crédito é uma forma aceitável para estimular o crescimento do PIB.
No entanto, é evidente que, em 2013, a estabilidade da situação econômica mundial trará mais oportunidades exatamente aos partidários do aumento dos gastos do governo –o sucesso de seus oponentes é ligado em muitos aspectos com a necessidade do governo de se opor a choques externos no período entre os anos de 2008 e 2012.
Publicado originalmente pelo jornal Kommersant
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