Helicóptero Ka-62 em seu primeiro teste de voo
Russian HelicoptersO helicóptero multifuncional Ka-62, da Kamov, fez seu primeiro voo durante a exposição HeliRussia 2017, em maio passado. O sucesso operacional do veículo, que vinha sendo desenvolvido há mais de 20 anos, era uma incógnita para especialistas.
“Paradoxalmente, o helicóptero foi originalmente concebido para os militares”, diz o coronel aposentado Leonid Ivachov, presidente do Centro Internacional de Análise Geopolítica. “Naquela época, era conhecido como Ka-60 Kasatka (‘Baleia Assassina’). A variante atual, totalmente nova, é uma aeronave civil que está sendo posicionada no mercado como concorrente do famoso italiano AgustaWestland AW139 – este modelo já tem em produção em série, e entre seus clientes figuram agências governamentais e corporações de petróleo e gás de todo o mundo.”
O antecessor do Ka-62
A única coisa que o Ka-62 guarda em comum com o projeto militar original é a fuselagem – ou estrutura mecânica.
O modelo anterior havia sido projetado como aeronave de controle de combate para helicópteros de ataque Ka-50.
Ka-62 exposto na HeliRussia-2012, em Moscou (Foto: Global Look Press)
“O Ka-60 deveria portar um sistema de informações táticas, equipamentos de inteligência eletrônica e ótica, e de contramedidas eletrônicas”, explica Ivachov. “Esse helicóptero deveria se tornar o cérebro de um sistema uniforme de comando e controle. Mas isso nunca aconteceu”, completa.
Primeiramente, os militares desistiram da ideia do Ka-50, porque seu piloto único seria incapaz de detectar e atacar alvos ao voar com rapidez e em baixa altitude. Essa decisão tornava desnecessário produzir um helicóptero de comando.
O projetista-chefe Serguêi Mikheiev, porém, não se conformou com os fatos e desenvolveu duas variantes diferentes de Ka-52 para o Exército russo – uma para as tropas terrestres, e outra para a Marinha.
A versão baseada em navios, conhecida como Katran, possui dois poderosos mísseis de cruzeiro – Kh-35 e Kh-31 –, que podem contrapor os sistemas de mísseis superfície-ar MIM-104A Patriot. Até pouco tempo, somente os caças baseados em porta-aviões Sukhôi Su-33 e MiG-29K/KUBR eram capazes de usar essas armas.
Kasatka moderno
Mikheiev aplicou uma abordagem semelhante ao Ka-60, despojando o projeto de todos os componentes militares e concentrando-se na criação de um helicóptero civil.
“A principal mudança tem a ver com os motores. Os originais produzidos na Rússia foram substituídos por franceses 1.680-hp Turbomeca Ardiden 3g, com um sistema de controle digital FADEC”, diz Vadim Koziulon, da Academia de Ciências Militares. “O FADEC reduz a carga de trabalho do piloto e economiza combustível. Os novos motores melhoraram o desempenho operacional e a velocidade do helicóptero.”
Visitante testa sistema operacional de helicóptero russo Ka-62 durante a exposição HeliRussia-2012, em Moscou (Foto: Global Look Press)
Segundo Koziulon, o Ka-62 tem maior velocidade de cruzeiro (290 km/h) e velocidade máxima (308 km/h) do que a maioria de seus análogos ocidentais. Também possui lâminas do rotor feitas de material composto.
“Materiais compostos resistentes e leves formam 60% da estrutura do Ka-62”, diz Koziulon. “É uma proporção alta para aeronaves modernas.” Sua cabine acomoda 15 passageiros, e o veículo pode ainda ser adaptado para funcionar como ambulância aérea e transporte, ou modelos VIP.
O último caso, destinado a altos funcionários e empresários, desponta como a versão mais promissora, embora concorra com o italiano AW139 – que já está no mercado.
Prós e contras
Os especialistas comparam o Ka-62 com outro projeto do setor de aviação russo: o avião comercial Sukhôi Superjet 100. Ambos incorporam um número significativo de componentes fabricados no exterior.
“Dada à situação de hoje na Rússia, isso é bom e ruim”, observa Koziulon. “Por um lado, a produção de Ka-62 é totalmente dependente da situação política e possíveis sanções. Mas, por outro, facilita a certificação internacional e o marketing global.”
Projeto do helicóptero Ka-62, de 1993 (Foto: Vladímir Matvievski/TASS)
Koziulon aposta nas vendas internacionais para alavancar o sucesso de mercado do Ka-62. “Se as vendas se mostrarem lentas, o fabricante não conseguirá obter o retorno do investimento feito ao longo dos 20 anos de desenvolvimento”, conclui.
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