Tecnologias da informação pode alimentar conflitos militares, segundo autores
ReutersUma das principais ameaças à Rússia é “o aumento das oportunidades que uma série de países estrangeiros têm de influenciar a infraestrutura do país para fins militares”, segundo a nova doutrina russa de segurança da informação.
O documento, assinado pelo presidente russo Vladímir Pútin na última segunda-feira (5) e publicado no site oficial de informações jurídicas do Kremlin, foi elaborado pelo Conselho de Segurança nacional e entrou imediatamente em vigor.
A doutrina afirma que serviços secretos e líderes estrangeiros exercem influência psicológica e de informação sobre outros países com o objetivo de desestabilizar a situação política interna na Rússia, e enfatiza seu impacto sobre os russos, sobretudo entre jovens, na tentativa de “minar princípios morais, bases históricas e tradições”.
Uma das principais metas das novas normas de cibersegurança é, segundo os autores, a “dissuasão estratégica e prevenção de conflitos militares, que podem resultar do uso de tecnologias da informação”.
Revolução nas redes
Em seu formato atual, a doutrina descreve melhor as ameaças à segurança militar-tecnológica da Rússia, segundo Oleg Demidov, especialista em segurança cibernética do Centro PIR, um grupo independente de reflexão com sede em Moscou.
“O documento destaca, por exemplo, a proteção contra operações cibernéticas coordenadas por serviços especiais estrangeiros, bem como a luta contra a atividade estrangeira de reconhecimento na Rússia”, diz Demidov.
O especialista ressalta ainda o combate do governo russo às chamadas “revoluções no Twitter” nos moldes das ocorridas no Oriente Médio no início desta década.
“A Primavera Árabe demonstrou que Facebook, Twitter e outros serviços de mensagens instantâneas permitem a divulgação e a troca de um monte de conteúdo que ameaça a estabilidade social e política. A maior questão é que não temos um modelo eficaz para bloquear esses processos”, afirma.
Três falhas na doutrina
Para Demidov, a nova doutrina contém três problemas sistêmicos.
Em primeiro lugar, o papel do principal operador na infraestrutura de informações críticas – o setor privado – é incerto. “Normalmente, empresas como Kaspersky Lab, Infowatch, Group-IB e muitos outras protegem as estruturas russas de ataques na internet. As empresas devem ser prioridade nessa doutrina”, explica Demidov.
Além disso, o especialista acredita ser necessário aumentar o nível de interatividade internacional com os países da OCS (Organização para Cooperação de Xangai) e da OTSC (Organização do Tratado de Segurança Coletiva) e outros aliados da Rússia.
“Por último, é preciso garantir a interatividade prática entre os centros nacionais e setoriais que reagem às ameaças. Na Rússia, existem centros assim em nível federal (FSB), setorial (vinculado ao Banco Central) e privado”, diz o observador.
“Também é imprescindível realizar mais exercícios conjuntos e praticar em cenários de grandes ciberataques globais que possam prejudicar simultaneamente as operações de vários serviços estatais”, acrescenta.
Adaptada aos tempos
Por não ser um ato normativo, a nova doutrina apenas define uma base para o desenvolvimento de novos documentos e projetos de lei, entre eles o que se refere à infraestrutura de informações críticas.
“Sua última versão, desenvolvida pelo FSB [Serviço Federal de Segurança] ainda em 2013, estava defasada. Os buracos na lei podem agora ser cobertos”, diz Demidov.
A Rússia mudou drasticamente a visão do governo sobre segurança cibernética após 2010, quando serviços especiais norte-americanos e israelenses invadiram os sistemas de computação usados para controlar as instalações de enriquecimento nuclear do Irã.
“Devido à influência externa, as centrífugas de enriquecimento de urânio entraram em estado crítico e quebraram”, relembra o editor-chefe da revista “Defesa Nacional”, Ígor Korotchenko. “Isso prejudicou o desenvolvimento nuclear do Irã por oito anos.”
No último dia 2 de dezembro, o FSB anunciou que a possibilidade de ocorrer ataques contra o setor bancário russo que, segundo o órgão, seriam conduzidos por serviços especiais do Ocidente. Apenas um desses ataques foi detectado até agora.
Documento foi assinado por Pútin (centro) no último dia 5 Foto: Kremlin.Ru
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