Roupa desenhada por Nástia Mikailovskaia.
Serguêi Boríssov/MAMM/MDFKhudiakova em 1985 com roupas desenhadas pela artista de vanguarda Varvara Stepanova.
ArquivoDescendente de uma família da “nomenklatura” soviética e posteriormente aluna do Instituto de Arquitetura de Moscou (Markhi), Elena Khudiakova passou a se interessar por desenhar roupas na adolescência e, assim que surgiu a oportunidade, se dedicou totalmente a isso.
As primeiras coleções de Khudiakova datam do final dos anos 1980 e estavam focadas em uma reinterpretação criativa da moda de vanguarda. Ela se voltou para a estilista mais famosa do início do período soviético, Nadêjda Lamanova, e aplicou as estampas dela em seus próprios desenhos, feitos nos anos finais da URSS.
Khudiakova fez seu nome com versões fashionistas de “vatniks” (jaquetas acolchoadas — que, aliás, estão voltando à moda entre os jovens de hoje) e macacões de trabalho, assim como acessórios que seguiam o estilo dos cintos militares e coldres de pistola.
Mais tarde, os estilistas estrangeiros se apaixonaram pelo trabalho de Khudiakova. Seus desenhos, com sua abordagem irônica da estética da “Sots Art”, surgiram nas páginas da revista de tendências “The Face”.
Em seguida, ela se mudou para Londres para trabalhar na indústria da moda. Elena viveu uma vida longa, passando seus últimos anos no exterior, absorta em seu trabalho criativo.
Em 2014, um ano antes de sua morte, ela realizou uma exposição individual em Londres. Era uma espécie de resumo das realizações e da criatividade de sua vida, dedicada principalmente a uma apresentação glamurosa e irônica dos legados sociais e políticos da era soviética.
A moda dos irmãos Poluchkin.
Gleb Kossorukov, Andrei Molôdkin/MAMM/MDFOs gêmeos Alik e Nikolai, ambos com formação técnica, eram fãs do rock russo e se tornaram muito ativos nesse meio. Começaram fazendo roupas para bandas de rock e seus fãs, altamente envolvidos em seu processo criativo.
Os irmãos Poluchkin circulavam pelos círculos boêmios e, após a queda da União Soviética, em 1991, começaram a fazer roupas para os primeiros “clubbers” da era pós-soviética.
Sua coleção mais famosa foi a Fasci-Fashion, de 1993. Suas imagens minimalistas traziam uma mensagem antifascista subentendida. Segundo os estilistas, seu principal objetivo era criar algo novo e original, em contraste com o passado soviético.
A moda dos irmãos Poluchkin.
Gleb Kossorukov, Andrei Molôdkin/MAMM/MDFO material preferido da dupla era a seda e eles sabiam usá-la como ninguém. Eles faziam muitas roupas por encomenda e continuam trabalhando até hoje. Alik, porém, passou às artes, enquanto Nikolai lançou uma nova coleção de moda em 2016 com um novo tecido à base de fibra de cânhamo.
Aleksandr Petlura em 2018.
Ekaterina Tchesnokova/SputnikArtista por formação e hoje colecionador de roupas vintage, Aleksandr Petlura foi um dos pioneiros da moda alternativa após a queda da URSS. Ele começou a vida profissional como cenógrafo em shows de rock.
A década de 1990 viu muitos “squats” artísticos surgirem em todo o país, reunindo uma juventude criativa. Petlura reuniu um desses “squats” e criou desfiles-espetáculos em um desses locais.
Pani Bronia (esq.) e Abramitch.
Gleb Kossorukov/MAMM/MDFPor muitos anos, a musa de Petlura e a "virada de estrela" de seus shows foi Pani Bronia, uma idosa que se vestia com as roupas mais bizarras que nasciam da imaginação do artista.
Seu “squat” foi sucedido pelo espaço de arte “DK Petlura”, muito conhecido entre os fãs do underground muito além das fronteiras da Rússia. A coleção de roupas e acessórios vintage soviéticos de Petlura cresceu muito e hoje está dividida em seções temáticas.
Já suas criações, em conjunto, se tornaram uma enorme enciclopédia de moda, chamada "O Império das Coisas", com 12 coleções separadas ou "volumes", dedicados a um levantamento da história do país vista através do prisma das roupas e acessórios.
Os figurinos de Petlura foram um experimento artístico que ajudou a lançar uma nova direção na arte russa. Posteriormente, o artista passou a se concentrar na performance e no teatro.
Modelo da coleção "Cílios" da dupla La-Re, 1995.
Centro da Cultura Contemporânea "Garagem"Larissa Lazareva e Regina Kozireva inicialmente eram modelos em desfiles de moda underground, mas um dia se uniram e passaram a fazer roupas sozinhas. O estilo da La-Re era exibido, atraente e memorável.
Por exemplo, uma de suas coleções mais renomadas era a linha de roupas de noite “Resnitchki” (em português, “Cílios”): vestidos longos, justos, com fendas cheias de "cílios" de um metro de comprimento feitos de neve artificial.
Elas descreveram seu estilo como "punk glamoroso" e faziam desfiles também como espetáculos teatrais. Não é por acaso que, por muito tempo, o nome da dupla esteve ligado à palavra "Teatro".
A La-Re era frequentemente convidada para os festivais de moda alternativa "Assembleia de Moda Não Domesticada", que ocorria em Riga na época. Na década de 1990, o evento tornou-se conhecido em todo o Ocidente, e estrelas da moda alternativa europeia passaram a comparecer. De repente, os novos estilistas russos se viram participando ao lado de estrelas ocidentais em pé de igualdade.
A La-Re também atuava em passarelas em “squats”, clubes e galerias. A dupla usava os materiais mais bizarros para suas vestimentas e fazia acessórios com objetos esmagados em linhas de bonde.
Na moda concebida pelas duas, o final dos anos 1990 foi marcado por roupas que envolviam experimentação tecnológica: em seus trajes surgiam peças eletrônicas e dentro de seus sapatos havia mecanismos de relógios funcionais.
A dupla não sobreviveu ao milênio. As senhoras se separaram e mudaram de profissão. Larissa Lazareva, por exemplo, entrou para o jornalismo e foi diretora de moda da revista “Men's Health” por muitos anos.
Gueórgui Ostretsov.
Andrei Bezukládnikov/MAMM/MDFEste renomado artista conceitual sempre considerou a moda um manifesto artístico. Ele começou a fazer roupas por sugestão do lendário Garik Assa - o pai do underground russo, como ele mesmo se descrevia.
Ostretsov fez seus desfiles no “squat” Detski Sad (em português, “Jardim de infância”). Em suas coleções do final dos anos 1980, o artista se envolveu em polêmicas com as políticas do Partido Comunista, vestindo seus modelos com trajes quase de palhaços e com calçados feitos com peças de brinquedos infantis. Cada desfile organizado por Ostretsov virava uma verdadeira performance artística.
Ostretsov com modelos usando vestimentas desenhadas por ele.
Serguei Boríssov/MAMM/MDFPosteriormente, Ostretsov partiu para Paris e continuou a trabalhar lá como artista e estilista, colaborando com Jean-Charles de Castelbajac, Jean Paul Gaultier e Kenzo (principalmente em coleções de sapatos).
Na virada do milênio, ele voltou para a Rússia, e hoje se dedica a atividades artísticas, principalmente fazendo telas distópicas no estilo de quadrinhos.
Artista e estilista Andrei Bartenev, em 1997.
Iúri Abrámotchkin/SputnikNa década de 1990, este renomado artista performático foi pioneiro em uma nova “linguagem” criativa com seus desenhos de roupas — embora seja difícil descrever a obra de Bartenev como meras “roupas”.
Suas criações estavam mais próximas de objetos de arte em que ele e seus modelos desfilariam. O artista esteve ativamente envolvido nas "Assembleias de Moda", em Riga, mostrando cada vez uma coleção mais bizarra.
Todas elas exalavam um desejo inequívoco de liberdade criativa e autoexpressão sem limites: às vezes, eram frutas-humanas gigantescas e, outras, submarinos-humanos desfilando pela passarela.
Andrêi Bartenev durante uma apresentação no clube Titanic, em 1998.
Aleksandr Utchkin/TASSBartenev descreveu seu trabalho não como “design”, mas como “performances fantasiadas” (o que não surpreende, visto que ele é diretor teatral por formação). Um de seus projetos mais conhecidos foi “Fausto”, um desfile com trajes pesados para uma viagem imaginada na companhia de Mefistófeles.
Essas ações e apresentações artísticas da década de 1990 estavam na moda nos novos clubes e galerias de arte que borbulhavam em Moscou. Bartenev surgia então com tiaras “kokochnik” malucas e colãs berrantes de bolinhas, exibindo estruturas extravagantes na cabeça e no corpo, e nunca teve medo de cores vivas e até mesmo ácidas — e até hoje continua a chocar o público com suas roupas e tiaras.
Na Europa, Bartenev é conhecido principalmente como figurinista. Foi nessa qualidade que trabalhou, por exemplo, em produções do renomado encenador Robert Wilson. Bartenev relembra sua obra dos anos 1990 como um carnaval, um espetáculo irreprimível, repleto de provocações e fantasmagorias.
LEIA TAMBÉM: Os soviéticos e suas calças jeans “cozidas” (FOTOS)
O Russia Beyond está também no Telegram! Para conferir todas as novidades, siga-nos em https://t.me/russiabeyond_
Autorizamos a reprodução de todos os nossos textos sob a condição de que se publique juntamente o link ativo para o original do Russia Beyond.
Assine
a nossa newsletter!
Receba em seu e-mail as principais notícias da Rússia na newsletter: