Qual era a velocidade máxima na Rússia tsarista?

Alexandre 2° com Edward 7° (1840-1910) em uma troika em São Petersburgo.

Alexandre 2° com Edward 7° (1840-1910) em uma troika em São Petersburgo.

Nikolai Svertchkov
Reconstruímos as velocidades reais a partir de memórias e descobrimos quais imperadores viajavam mais rápido em seus trenós, quão lentas eram as carruagens quando as ruas estavam cobertas de lama e como as estradas eram bloqueadas para a passagem dos tsares?

A via terrestre mais rápida do Império Russo era a Sibírski Trakt. O artista Vassíli Verescháguin escreveu: "Viajei duas vezes como mensageiro [no serviço mensageiro militar de carruagens] para o Turcomenistão atravessando da Sibéria: uma vez no verão, outra, no inverno, e em ambas a viagem foi simplesmente frenética; aconteceu de fazermos 400 verstas por dia". Segundo seu relato, pode-se presumir que a velocidade média era de cerca de 17,83 km/h.

É claro que, durante o dia, eles faziam algumas paradas para troca de cavalos e refeições – ou seja, iam a mais de dezessete quilômetros por hora, apesar de essa ser uma velocidade impensavelmente baixa para padrões atuais.

A partida da carruagem ocorria com um baita arranque, segundo Verescháguin: “[os cavalos eram atrelados à carruagem e, quando os arreios estavam prontos,] as pessoas pulavam para o lado, e os três cavalos da troika trotavam, depois marchavam para frente. Era inútil segurá-los, era preciso apenas guiá-los com habilidade para evitar que caíssem em uma vala, voassem da ponte etc. Os eixos das rodas chegavam a pegar fogo com tamanha velocidade.”

Imperadores voadores

Com base na obra “Eugênio Onéguin”, de Púchin, o escritor e crítico literário Vladímir Nabôkov chega a conclusões semelhantes sobre a velocidade da época. Os ases do império eram os cocheiros e as carruagens dos imperadores.

Na década de 1750, a imperatriz Isabel tinha uma carruagem especial na qual viajava de São Petersburgo a Moscou em 48 horas. Doze cavalos eram atrelados à carruagem, que era trocada a cada poucos quilômetros. A extensão da estrada naquela época era de cerca de 784 quilômetros, ou seja, Isabel ia a uma velocidade média de 16,3 km/h.

Alexandre 1°, em 1810, viajou entre as capitais em 42 horas (18,66 km/h), e Nicolau 1°, em 1833, em 38 horas (se acreditarmos nos diários de Púchkin). Assim, Nicolau 1° pode ser considerado o imperador russo mais rápido, com uma velocidade média de 20,63 km/h. Deve-se levar em conta que ele viajava em dezembro de trenó - o jeito mais rápido de transpor uma estrada naquela época.

Nicolau 1° no trenó. Nikolai Svertchkov, 1853.

A velocidade recorde foi descrita no diário do dramaturgo Aleksandr Ostróvski, que viajava pela região de Tver em 1856. "Em Emaús, uma troika de belos cavalos cinzentos nos foi atrelada e um cocheiro, um moço de cerca de 25 anos, muito bonito, sentou-se para guia-la. Comentei com ele que as moças deviam gostar dele, mas ele se calou. Ele nos conduziu a tal velocidade que era de tirar o fôlego. [...] Viajamos por 14 verstas em três quartos de hora." Assim, a velocidade da carruagem era de cerca de 20 quilômetros por hora - quase a mesma do imperador!

Em geral, a velocidade era baixa

Mesmo as velocidades máximas nas estradas pré-revolucionárias eram baixas, especialmente em épocas de neve ou lama fora de época. Vladímir Nabôkov observava: "O inverno podia varrer tanta neve que viajar na estrada cheia de neve não era melhor do que na lama e no lodo."

Troika no inverno. Nikolai Svertchkov.

O crítico Aleksêi Wolf escreveu que, devido à forte nevasca, ele passou um dia inteiro - desde o início da manhã até as oito da noite - viajando na troika de seu tio para cobrir quarenta verstas entre Torjok e Malinniki, na província de Tver. A troika de Wolf ia a uma velocidade de apenas três quilômetros por hora.

Causas de atrasos em viagens: congestionamento e "bloqueios"

Nas grandes cidades e nas rodovias movimentadas do século 19 e anteriores já existiam congestionamentos. Uma carruagem quebrada, um cavalo caído, uma colisão entre carruagens... tudo isso criava congestionamentos.

A maioria das estradas era consertada apenas para a passagem de pessoas das classes superiores e da realeza. A artista de Moscou Praskóvia Orlova (1815-1900) lembrava que, em 1838, viajou para Staraia Russa logo depois que o imperador Nicolau 1° deixou São Petersburgo pela mesma estrada: "a rodovia ficou parada como um parquete".

Cocheiro, não enxote os cavalos. Aleksandr Orlóvski, 1806.

Nos momentos em que os tsares e suas famílias estavam viajando pela Rússia, o tráfego nas estradas ficava realmente quase paralisado. Mas os fechamentos na Rússia tsarista aconteciam de forma diferente da atual - o problema era a falta de força motriz.

Mikhaíl Dmitriev lembrava-se que, quando o príncipe herdeiro Alexandre Nikolaievitch viajava pela Rússia em 1837, e Dmitriev estava a caminho de sua propriedade, todos os cavalos das estações postais da região eram reunidos para a carruagem do herdeiro, de seus guardas e de sua comitiva: "As estações ficavam desertas por três semanas" e "naquela época, os homens arrancavam os ganchos de suas portas e quebravam os vidros de suas janelas."

A historiadora Natália Gorskaia relata números exatos sobre a passagem do herdeiro pela província de Smolensk: foram necessários pelo menos 1.140 cavalos de posto e 540 cavalos sobressalentes, e apenas 400 foram encontrados em todas as estações da província - foi necessário tomar os que faltavam dos camponeses e proprietários de terras.

O oficial Dmítri Obolénski (1822-1881) relatou, em setembro de 1856, que todos os cavalos das estações de todas as províncias entre Moscou e Varsóvia foram requisitados para a passagem da imperatriz Maria.

Do Gradioso Caminho Siberiano, 1883, Nikolai Svertchikov.

Todos os viajantes que passavam pelos correios tinham que ficar nas estações, nos vilarejos e nas cidades. Os camponeses eram arrancados do trabalho no campo para consertar as estradas e as estações de correio e para a passagem dela. "Como calcular essa perda de pessoas físicas e quanto deve custar uma viagem de Moscou a Varsóvia?", lamentava-se o funcionário.

Pavel Kovaliovski, 1884.

Os cavalos eram frequentemente mortos após essas viagens: os cocheiros recebiam ordens para dispor de seus cavalos sem poupá-los. Em 1858, depois que o Alexandre viajou pela Smolenschina (já como imperador), 164 cavalos foram mortos.

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