Como a música ‘Moy Marmeladny’, lançada há 20 anos, desbancou Taylor Swift no Spotify russo?

Cultura
EKATERINA SINELSCHIKOVA
Esta música de 20 anos, intitulada ‘Moy Marmeladny’, bateu Taylor Swift e Kanye West na parada musical do Spotify na Rússia. Mas como? Sua popularidade tem a ver com a melodia e letra estranhas, mas cativantes, que viralizaram no TikTok.

Katia Lel é uma cantora russa “de um hit só”, mas quase já esquecida no passado. E esse hit se chamava ‘Moy Marmeladny’ — lançado há quase 20 anos, transformou a cantora em uma das principais estrelas pop dos anos 2000 na Rússia. Porém, até pouco tempo atrás, nenhum jovem saberia quem ela era; só se podia ouvir suas músicas em festas e clubes de estilo retrô.

Até que algo inesperado ocorreu. No início de novembro passado, ‘Moy Marmeladny’ se tornou viral no TikTok e gerou uma nova trend: com a música tocando ao fundo, os usuários se vestem no estilo “Garota Eslava” — que consiste principalmente de um chapéu de pele, um casaco de pele e batom vermelho — e tentam cantar junto, sem entender bem o significado da letra.

Centenas de milhares de vídeos foram gravados com a música, alguns deles com milhões de visualizações. Por conta disso, em dezembro, a música chegou ao top 3 dos sucessos mais virais do Spotify, superando ‘Is It Over Now?’ de Taylor Swift e ‘My Love Mine All Mine’ de Mitski.

A redescoberta da fama foi uma grande surpresa para a cantora, que descreveu o momento como uma vitória “de todo o nosso país” e parabenizou o “querido e gênio Max Fadeev, o autor dessa música legal”.

Afinal, sobre o que é a música?

“Experimente muah-muah, tente djaga-djaga. Tente ooh-ooh, eu preciso disso, preciso disso. Parece que minha cabeça está mais uma vez girando. Moy marmeladny [meu querido], estou errada”, diz o refrão em russo.

O significado dessas palavras e da música como um todo era nebuloso mesmo para o público de língua russa na época em que foi lançada. Se “muah-muah” pode significar beijos, o que seria então “djaga-djaga”?

Muitos sugeriram que era um eufemismo para relação sexual, mas a cantora já esclareceu: “Cada um pensa o que quiser: sexo, prazer. No meu caso, é simplesmente: ei, e aí? Tudo legal! É amor, ternura, é a alegria da vida. Tudo o que você quiser, todas as melhores coisas – isso é ‘djaga-djaga’”.

Resumindo o significado da música, seria algo assim: a heroína está confiante de si mesma e de sua beleza; ainda não tem certeza se quer aceitar os avanços do pretendente e levar o relacionamento deles a um “novo patamar” ou continuar mantendo distância, comportando-se às vezes de forma tóxica.

A música mais da carreira

‘Moy Marmeladny’ foi lançada em 2003 e se tornou a música principal não apenas do álbum ‘Djaga-Djaga’ (2004), mas de toda a carreira da cantora.
Katia Lel (nascida Iekaterina Tchuprinina) apareceu no palco em meados da década de 1990, depois de se formar em música e se mudar de Naltchik para Moscou. Ela se tornou backing vocal de Lev Leschenko, um artista popular, até ser notada pelo empresário Aleksandr Volkov. Eles começaram a namorar e Katia lançou sua carreira solo pouco tempo depois.

No início, ela cantava, como descreve o jornalista musical Oleg Karmunin, “músicas do coração, porém muito simples para as massas não muito pretensiosas; fora de moda, ultrapassadas, sobre o amor e o peso das separações”. Mas, percebendo que sua carreira precisava de renascimento, ela se uniu a Max Fadeev, um dos melhores produtores e compositores da época. A sua missão era mudar a imagem de Katia Lel, para “rejuvenescê-la”.

Foi assim que a cantora apareceu na faixa ‘Moy Marmeladny’; para o videoclipe, Lel teve que perder 7 quilos, e a imagem da cantora, que antes usava maquiagem ‘esfumaçada’ e batom brilhante, foi “limpa”.

E funcionou. A “nova” Katia Lel, que simulava um leve sotaque estrangeiro na música e ficava simplesmente sentada no banco de trás de um carro cantando durante todo o vídeo, bombou nas paradas de sucesso nacionais. Em 2003, essa música tocava em todas as estações de rádio da Rússia e, por um tempo, Katia Lel se tornou símbolo sexual do país.

Logo surgiu também a versão em inglês da música: a cantora chegou a cantá-la no programa de comédia ‘Ostorojno, Modern!’.

O produtor esperava um sucesso internacional semelhante à estrondoso carreira da dupla feminina t.A.T.u, mas isso nunca aconteceu. A versão em inglês da faixa passou despercebida.

Dali em diante, não haveria sucessos mais significativos na carreira de Lel. Max Fadeev voltou-se para outros projetos, enquanto Lel continuou sua carreira solo sem sua participação ativa. No total, ela lançou 10 álbuns com repertório diversificado – desde pop até faixas para raves. Porém, no fim das contas, jamais conseguiu chegar aos mais altos escalões do estrelato pop.

Na segunda metade da década de 2000, sua atividade criativa começou a decair; até recentemente, Katia Lel era apenas lembrada pelo público russo por suas histórias estranhas de tabloides sobre alienígenas.

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