O Russia Beyond recomenda: ‘Crime e Castigo’, de Fiódor Dostoiévski

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
Este é um romance sombrio, cheio de reflexões psicológicas e descrição de pessoas miseráveis do pior tipo. Conhecer o enredo e o significado do livro é importante para quem quer ser uma pessoa culta.

Crime

Rodion Raskolnikov é um jovem que teve que deixar a universidade por falta de dinheiro para pagar por seus estudos. Caminhando pelas ruas sujas e escuras da São Petersburgo do século 19, ele está filosofando e começa a pensar que existem dois tipos de pessoas – as comuns e as extraordinárias. Ele pensa que é uma pessoa extraordinária, é lógico, mas ele precisa provar isso a si mesmo. Ele ousaria fazer algo para mudar sua vida? E, por alguma razão, ele decide que seria uma ótima ideia matar a velha senhora agiota para quem ele deu seus últimos relógios em troca de algum dinheiro.

Enquanto pensa e repensa sobre o crime que irá cometer, Rodion encontra Semion Marmeladov, um ex-oficial bêbado. O homem conta sua pobre vida para Rodion – sua primeira esposa morreu, ele perdeu o emprego e sua filha se tornou uma prostituta para ganhar algum dinheiro para a família. E também que depois disso ele se casou com outra mulher, com filhos e tudo o mais, e que todos eles são necessitados e infelizes.

Sentindo muita pena de Marmeladov, Rodion dá a ele os últimos trocados, que tinha acabado de receber da agiota. Mas ele recebe uma carta de sua mãe um pouco mais tarde. Ela escreve que sua irmã quer se casar com um homem que tem dinheiro para salvar Rodion e ajudar a pagar pela sua universidade. Mas Rodion não pode deixar que sua irmã se case com um homem nojento, que ela não ama, para salvá-lo... então, agora, ele está convencido de que matar a agiota e pegar o dinheiro dela é o único jeito de salvar sua família.

Então ele mata a velha senhora usando um machado. Mas não estava em seus planos ter que matar a irmã adotiva da mulher, que voltou para casa na hora errada. Com pressa, ele pega um pouco de dinheiro e foge.

Castigo

No dia seguinte, Rodin tem febre. De repente, ele recebe uma convocação da polícia. Ele está com medo, mas a acusação é de não ter pago o aluguel. Quando Rodion está prestes a deixar a delegacia, ele ouve o policial comentando a respeito do assassinato e desmaia. Extremamente nervoso, ele enterra no chão tudo que roubou.

Depois, Raskolnikov descobre que Marmeladov morreu após ser atingido por um cavalo. Então, ele entrega o restante do dinheiro para a viúva de Marmeladov e encontra sua filha Sônia, que o convida para o funeral.

Raskolnikov decide visitar a polícia com um amigo para descobrir como pegar de volta o dinheiro que a agiota assassinada tirou dele. O detetive, Porfiri Petrovich, parece ser um homem muito sofisticado. Ele comenta com Raskolnikov sobre o artigo que ele publicou a respeito de pessoas comuns e extraordinárias. E expressa sua preocupação a respeito de que pessoas extraordinárias, criadores de grandes ideias, tenham o direito de infringir a lei se caso isso faça algum bem à humanidade. Porfiri teme que tais pessoas poderiam não apenas cometer um crime simples, mas chegar a ponto de cometer assassinato... Raskolnikov fica chocado e passa a achar que o detetive suspeita dele, o que o deixa mais e mais nervoso.

Sônia Marmeladova, a pobre órfã, se torna a única pessoa a quem Raskolnikov conta sobre o crime. Ela o convence a contar tudo e promete ir com ele até o campo de prisioneiros da Sibéria. O detetive Porfiri visita Raskolnikov e também sugere que ele confesse. Enfim Rodion vai até a polícia e confessa seu crime.

No entanto, ele não se sente culpado. Ele apenas se arrepende de não ter sido capaz de quebrar a proibição moral contra o assassinato. Ele entende que ele não é extraordinário, só ordinário, e isso o faz se sentir mal, mais ainda do que o próprio crime.

Sônia mantém sua palavra e o acompanha até a Sibéria, onde lhe entrega uma bíblia. Ao sobreviver a uma doença na prisão, Raskolnikov finalmente entende que amava Sônia. E assim começa o seu renascimento.

O que está por trás do romance?

O enredo de Dostoiévski foi baseado na vida real. Havia um Crente Antigo (raskolnik em russo) que matou duas mulheres com um machado – e seu julgamento teve cobertura jornalística. Poderia ser uma intrigante história de detetive, mas na realidade o crime acontece no início do romance, enquanto a punição tem um papel maior. Raskolnikov pune a si mesmo e, de um jeito estranho, a prisão acaba sendo um alívio para seu sofrimento mental.

Dostoiévski retrata vividamente a escória da sociedade de São Petersburgo e as pessoas pobres que fazem coisas horríveis para sobreviver. O ser humano verdadeiramente puro e inocente do romance é Sônia, que tem que se tornar uma prostituta porque sua grande família precisa muito de dinheiro, enquanto seu pai apenas bebia.

Mas as questões morais e filosóficas no romance são mais importantes do que o crime ou as questões sociais. A coisa mais importante no romance é a ideia de comum/extraordinário de Raskolnikov. O fato de que algumas pessoas pensam que elas podem ser melhores do que outras. Dostoiévski sente que essas pessoas se esqueceram de Deus.

O romance é uma resposta de Dostoiévski a ideais niilistas que se espalharam entre a juventude radical nos anos 1860. O escritor queria mostrar o que a perda da fé em Deus e o abandono da base moral poderiam causar. Ele acabou por ser bem-sucedido em produzir um romance atemporal e que inspirou muitos outros com essa essência.

A teoria conspiratória por traz do romance é de que o nome do personagem principal – Raskolnikov Rodion Romanovitch – é uma mensagem oculta de Dostoiévski dizendo: “raskololas rodina romanovih” (a terra dos Romanov está quebrada). E isto aconteceu por causa da miséria e das pessoas pobres que perderam seus valores cristãos. E que foi a bíblia e a fé que ajudaram Raskolnikov a reviver (e que talvez também possa ajudar a Russia a reviver)

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