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A terra dos mil bordados é assim que romanticamente e com razão a República Tchuváchia, na região do Volga, também é chamada. De fato, há uma quantidade colossal de diferentes estampas e estilos de costura em todas as regiões (basta observar este mapa do bordado da Tchuváchiaia). Os moradores locais chegam a dizer que, para a Tchuváchiaia, bordar é como jogar futebol para o Brasil!
O bordado da Tchuváchia é matemática
Há apenas cerca de 100 anos (em alguns lugares, até meados do século 20), o povo da Tchuváchia usava constantemente trajes folclóricos tradicionais, e não só em feriados específicos, como hoje.
Tradicionalmente, as camisas, aventais e as tiaras femininas (xales chamados “surpan” e fitas largas chamadas “masmak”) eram decorados com bordados. O povo da Tchuváchia acreditava que o bordado era uma proteção contra as forças das trevas e que sobretudo as mulheres precisavam ser protegidas, porque são elas que geram a vida.
A primeira coisa que chama a atenção são os bordados à mão locais, que se parecem feitos à máquina, de tão finos e precisos. Para fazê-los, era preciso saber contar, pois cada elemento ocupava uma certa quantidade de quadrados no tecido (dois pontos à esquerda, três à direita e dois pontos atrás...)
São mais de 30 estilos conhecidos de bordados! Portanto, o bordado não era uma reunião alegre na companhia de amigos, mas um verdadeiro problema de matemática! O bordado frente e verso, que parecia delicado mesmo de dentro para fora, demandava uma concentração especial.
“Antes de se casar, uma mulher bordava muitas peças e, depois, costurava na roupa, já que ela não tinha muito tempo livre em família”, conta a diretora do Museu de Bordados da Tchuváchia, Nadêjda Selverstrova.
“No nosso museu, temos peças do final do século 18 ao início do século 20 que foram passando de geração em geração. Ao observar um bordado, é possível saber pode saber de onde era a artesã [o povo Tchuváchia tem três grupos etnográficos: superior, inferior e médio-inferior], seu status familiar, sua riqueza e quão habilidosa ela era como artesã.”
Talismãs bordados
De acordo com a mitologia da Tchuváchia, existem três mundos: o mundo inferior, o mundo intermediário (onde as pessoas vivem) e o mundo superior. As entidades que habitam esses mundos podem ser vistas no bordado da Tchuváchia. São espíritos, animais e elementos naturais.
“Tudo que está abaixo da cintura é o mundo inferior e o passado”, explica Nadêjda. “Da cintura até os ombros é o nosso mundo, sobre os ombros, a conexão com o cosmos, com o Universo.”
Na mitologia da Tchuváchia, o mundo foi criado por um deus supremo, chamado Tura, e ele se opõe ao deus do submundo, Chuittan. A terra e a água (o oceano) se separaram do céu e patos e peixes surgiram neles. Três sóis foram deixados no céu (um se tornou a lua, o outro se dividiu em estrelas). Esses mundos estão conectados pela árvore da vida.
Além disso, durante os tempos soviéticos, etnógrafos reuniram todos os ornamentos da Tchuváchia. Analisando-os, eles descobriram que os quadrados são a forma mais frequente neles, mas há também os símbolos da terra, os símbolos de oito pontas do sol, patos, cavalos, a árvore, os "olhos" ("o olho de Tura") e outros sinais geométricos.
Runas no tecido
Entre as estampas da Tchuváchia, destacam-se símbolos separados, semelhantes a uma antiga escrita rúnica. Normalmente, eram os povos do norte da Europa que usavam runas, mas símbolos semelhantes existiram por um curto período de tempo entre os povos de Povoljie (a região do Volga), os ancestrais do povo Tchuváchia.
Na Idade Média, esses símbolos eram utilizados como signos tribais, principalmente em objetos domésticos. Ou seja, ele servia para distinguir os pertences de cada família.
Esses símbolos migraram posteriormente para os tecidos, tornando-se um elemento do bordado da Tchuváchia.
Além dos bordados, as mulheres da Tchuváchia se enfeitam com moedas de prata - entre elas, havia também moedas europeias.