No paganismo russo antigo, a imagem de uma mulher-pássaro tinha várias interpretações e profundas raízes no passado pagão. Alguns acreditavam que encontrar essas criaturas prometia grande fortuna, outros, que um inevitável infortúnio estava por vir.
As mais proeminentes delas eram Sirin, Alkonost e Gamaiun. Todas se pareciam com pássaros com a cabeça de uma bela mulher, mas eram diferentes entre si.
Segundo as lendas, Sirin e Alkonost são pássaros do jardim paradisíaco Iri, onde moram as divindades supremas. Elas podem viajar entre mundos, por isso às vezes acabam no mundo terreno. Ambas têm vozes mágicas encantadoras capazes de colocar um homem em estado de transe e até mesmo enlouquecê-lo.
Para os eslavos, Sirin e Alkonost eram as manifestações do deus Veles – o segundo mais forte do panteão eslavo. Com o tempo, Sirin tornou-se a encarnação do lado escuro da divindade, enquanto Alkonost, o lado da luz. Por isso, Sirin e Alkonost são frequentemente retratadas juntas como dois pássaros inseparáveis da tristeza e da alegria.
Os pássaros se distinguiam por sua aparência: Alkonost era frequentemente retratada com braços de mulher (ela parece um ser humano até a cintura), mas com asas e garras de pássaro; já Sirin era retratada como um pássaro que só tinha a cabeça de uma mulher.
Acreditava-se que a natureza de seu canto também diferia. Enquanto o canto de Alkonost não causava danos e trazia alegria, as canções de Sirin às vezes podiam ser fatais para os humanos. Ao ouvir a voz dela, o homem se esquecia de tudo e perdia a vontade, caindo em transe. Ele podia transcender para outro mundo ou simplesmente perder a cabeça e morrer. Por isso, o folclore diz que Sirin tem medo de barulhos altos. Para assustá-la, as pessoas tocam sinos e buzinas.
Os folcloristas acreditam que a sereia da mitologia grega antiga foi o protótipo de Sirin, já que sua descrição lembra muito o comportamento das criaturas que atraíam os marinheiros para a morte. Mas, com a chegada do cristianismo, a imagem pagã ganhou significados que se adequavam melhor ao novo paradigma religioso.
Algumas poucas imagens foram preservadas de uma ave paradisíaca com seios nus. Essa figura é considerada mais arcaica, remetendo aos tempos em que era difundido o animismo – o culto às forças da natureza. Nesta forma, a criatura era interpretada como a feminilidade e a encarnação da mãe de toda a humanidade. Mas, com o tempo, a influência da Grécia Antiga a transformou.
Quanto a Alkonost, sua imagem toma de empréstimo características de outro mito grego: Cleópatra Alcyone (filha de Idas). De acordo com esse mito, o marido de Cleópatra Alcyone morre durante uma tempestade e ela, enlouquecida de dor, se joga no mar. Mas os deuses têm pena dela e a transformam em um pássaro corajoso. O surgimento da palavra Alkonost está ligado a um erro de tradução na lenda de Cleópatra Alcyone.
No folclore, as imagens de uma mulher-pássaro mágica eram populares. Sua imagem podia ser encontrada em todos os utensílios domésticos – de baús a rodas de fiar e trenós. No entanto, nesse contexto, as criaturas serviam como proteções contra o infortúnio.
Sirin e Alkonost também são semelhantes a outra ave do paraíso, Gamaiun. Na Rússia, ela era chamada de ave profética e considerada a mensageira dos deuses. As pessoas acreditavam que Gamaiun sabia tudo sobre o passado e o futuro, mas apenas aqueles que conseguiam entender a língua dos pássaros podiam entender suas profecias. De qualquer forma, os eslavos acreditavam que o próprio grito de Gamaiun já era um bom presságio.
As origens de sua imagem remontam ao folclore iraniano, particularmente no mítico pássaro profético Huma.
Uma imagem relativamente moderna de Gamaiun surgiu na pintura de 1897 de Viktor Vasnetsov intitulada “Gamaiun, o Pássaro Profético”, em que o pássaro de asas negras é retratado pelo pintor com um rosto triste de mulher, com traços infantis, e "desprovido de qualquer nobreza".
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