Como a URSS tornou a Europa dependente do gás russo

História
BORIS EGOROV
Os Estados Unidos fizeram de tudo para impedir a cooperação entre Moscou e os países europeus no setor de combustíveis, mas foi o gás soviético que contribuiu para o rápido crescimento econômico da Europa pós-guerra.

O gás soviético surge na Europa pela primeira vez logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 1946, a URSS começou a exportar pequenas quantidades de matéria-prima para a Polônia e, na década de 1950, para outros aliados socialistas de Moscou.

Na década de 1960, com a descoberta de enormes jazidas de gás natural na Sibéria Ocidental, a posição da URSS como potência na produção de gás deu um grande salto. Moscou começou a investir na construção de redes de gasodutos de alta capacidade, mas que ainda não ultrapassavam as fronteiras dos países do Pacto de Varsóvia.

Com o início de um período de rápido desenvolvimento industrial, os países da Europa Ocidental também estavam extremamente interessados em matérias-primas soviéticas baratas. Moscou, por sua vez, considerava os países europeus parceiros comerciais mais estáveis do que os do Oriente Médio.

As diferenças políticas entre os países capitalistas e a URSS impediam o início de uma cooperação econômica mutuamente benéfica. O primeiro país da Europa Ocidental com o qual Moscou fez um acordo para a exportação de gás natural foi a Áustria, considerada a mais neutra entre as nações europeias ocidentais na época.

Em 1968, a empresa estatal soviética de exportação de gás Soyuznefteexport e a empresa austríaca Osterreichische Mineralolverwaltung OMV assinaram um acordo para o fornecimento de 142 milhões de metros cúbicos de gás por ano. A barreira inicial havia sido quebrada e, no ano seguinte, Moscou fechou acordos com a Itália e a França.

Pouco depois, a Alemanha Ocidental se tornaria o principal parceiro da URSS na Europa. A Alemanha carecia de matérias-primas para desenvolver diversos setores industriais e, em 1970, assinou o acordo “gás-tubos”, segundo o qual, as empresas da Alemanha Ocidental forneceram à URSS tubos de aço de grande diâmetro e de alta qualidade em troca do fornecimento de gás. Esses tubos foram usados pela URSS para a construção de enormes gasodutos na Sibéria.

Desde o primeiro momento, os Estados Unidos fizeram todo o possível para impedir a cooperação entre Moscou e países europeus no mercado de gás. Washington alertou seus aliados locais sobre os perigos da dependência da energia soviética, pediu para que se barrasse a expansão econômica dos comunistas e prometeu multiplicar a exportação de carvão. Os europeus, no entanto, acharam todas essas alternativas caras e irrealizáveis.

Em 1981, os Estados Unidos desencadearam uma verdadeira guerra do gás contra a URSS para impedir a construção do gasoduto Urengôi-Pomári-Újgorod. O gasoduto, que deveria ser construído por especialistas soviéticos com dinheiro financiado pela Europa, consistia em duas linhas com capacidade total de 60 bilhões de metros cúbicos por ano.

Os americanos impuseram um embargo ao fornecimento de tecnologias de petróleo e gás à URSS. A proibição também se aplicava a equipamentos da Europa Ocidental e do Japão que usavam tecnologias americanas. Assim, a União Soviética foi forçada a concluir o projeto por conta própria em 1983. Apenas uma das duas linhas previstas foi construída, com capacidade de 32 bilhões de metros cúbicos por ano.

Apesar dos esforços de Washington, o fornecimento de gás natural soviético à Europa aumentou 3.500% em um período de 20 anos. No final da década de 1980, 15% de todo o gás utilizado na França vinha da URSS, enquanto na Alemanha esse número chegava a 30%.

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