O nome do artista, Dashi Namdakov, é traduzido na língua local da Buriátia como “Sol da sorte”, e seus ancestrais acreditavam que existe um vínculo sagrado entre o nome de uma pessoa e seu destino. Quando criança, Dashi ficou gravemente doente e os médicos disseram que não conseguiram salvá-lo. Desesperados, seus pais levaram o menino para se consultar com uma xamã. Ao ajudar, ela disse que a doença da criança era o preço pago pelo rompimento dos laços com a natureza. Já no dia seguinte, o menino estava recuperado, desde então, não perdeu mais o contato nem com a natureza nem com suas raízes.
De uma vila da Buriátia para Londres
Dashi herdou o talento artístico de sua família, que tem muitos artesãos, e de seu pai, que era um famoso artista na Buriátia. “O meu amor pela arte veio dos meus antepassados e dos meus pais. Eles são, antes de tudo, trabalhadores esforçados, capazes de sempre aprender coisas novas. E eles tinham uma grande família para criar. Foi assim que nossa família desenvolveu essa propensão ao artesanato e à criatividade, acredito eu”, comenta Dashi.
Em sua aldeia natal, Dashi absorveu antigas lendas budistas sobre criaturas fabulosas, espíritos misteriosos, os elementos e forças da natureza. Não é nenhuma surpresa, portanto, que eles recebam destaque em suas obras.
Mais tarde, Dashi foi estudar em Novosibirsk, depois em Krasnoiarsk e enfim se mudou para a capital da Buriátia, Ulan-Ude, onde constituiu família. O caminho para o reconhecimento artístico de Dashi não foi fácil: primeiro trabalhou como joalheiro e usou os lucros para comprar bronze e outros materiais para suas esculturas. Sua esposa não se opôs – desde que seu potencial criativo fosse aproveitado.
Dashi realizou sua primeira exposição individual em 2000 em Irkutsk, aos 33 anos, seguida de mostras de esculturas na Buriátia e na Mongólia. Em 2002, foi convidado a participar de uma exposição coletiva na Casa Central dos Artistas, em Moscou, e em pouco tempo se mudou para a capital russa. Um ano depois, já estava com uma exposição individual em cartaz no Museu de Artes Orientais de Moscou. Nesse meio tempo, o escultor foi premiado com a Medalha de Prata da Academia de Artes – o que marcou o início de sua carreira internacional, com exibições em todo o mundo, de Nova York a Cantão, na China.
“Eu achava que minha arte só interessava às pessoas da minha região. Mas acontece que pessoas de outros lugares também gostaram do meu trabalho. Espero que minhas esculturas sejam interessantes como algo novo e excitante”, diz Dashi.
Atualmente, suas obras estão em exibição no Museu Russo de Etnografia, no Hermitage e em diversos outros museus ao redor do mundo.
As criações de Dashi também irão adornar uma nova estação do metrô de Moscou, a Novomoskovskaya, que está atualmente em construção.
Uma das obras favoritas de Dashi é a escultura “O Caçador Real”, na cidade siberiana de Kizil, capital da República de Tuvá. “Tuvá é uma terra de beleza incrível, com uma história tão antiga que é de tirar o fôlego”, diz Dashi.
“Tentei transmitir a poética do ritual, recriando-o não necessariamente de modo fiel aos detalhes históricos, mas fiel à minha imaginação. O grande rio Ienissei corre nas proximidades, cercado pelo sopé do monte Sayan. A natureza épica de tudo isso está no ar.”
De volta às raízes
Depois de viajar pelo mundo e viver em Irkutsk, Londres e Moscou, o escultor, já famoso, retornou à sua aldeia natal na Buriátia.
“Minha terra natal, a vila de Ukurik, na região do Transbaikal, ficou deserta nas últimas décadas e poderia ter desaparecido completamente do mapa, como muitas outras aldeias. É por isso que meus colegas aldeões e eu decidimos reavivá-la”, diz Dashi.
Em agosto de 2021, o escultor abriu uma oficina na cidade e montou um parque de esculturas de madeira chamado Tuji. Seus planos incluem o lançamento de uma marca turística homônima, que vem de sarea e significa “vale de artesanato” na língua buriata.
Em Tuji, Dashi começou a fazer esculturas também com madeira. “Para mim, este é um novo desafio. A textura é diferente, deve-se preservar a natureza do tronco, encontrar uma imagem e transmiti-la em harmonia com o material. É tudo muito interessante”, explica.
“Gostaríamos que daqui 10 anos nossos netos gostem de vir pra cá, aprender a trabalhar madeira juntos e a falar sua língua nativa da Buriátia”, diz Dashi, acrescentando que, ao fugir da metrópole para a taiga, sua intenção foi buscar a liberdade.
Confira abaixo algumas das obras de Dashi Namdakov na Rússia e pelo mundo:
1. Transformação, campus da Universidade Federal da Sibéria em Krasnoiarsk
2. Meditação, Les Jardins d'Étretat, Normandia, França
3. Zilants (Serpentes Aladas), Kazan
4. She-Guardian, Hyde Park, Londres (exposição temporária, 2015)
5. Baixo-relevo na Catedral Principal das Forças Armadas Russas em Kubinka
6. O Pássaro e o Tigre, Galeria Bronstein, Irkutsk
7. Guardião do Baikal, Ilha de Olkhon, Lago Baikal
8. Centro da Ásia, Kizil, República de Tuvá
9. Shoria Dourada, cidade de Tachtagol, região de Kemerovo
10. Quatro Amigos, assentamento de Aguinskoie, Transbaikal
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