5 curiosidades sobre Ivan Búnin, o primeiro escritor russo a vencer o Prêmio Nobel de Literatura

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
Nesta quinta-feira (22 de outubro), celebram-se os 150 anos de nascimento do escritor, laureado pela academia sueca em 1933.

Continuador da tradição literária de Tolstói e Dostoiévski, Ivan Búnin (1870-1953) tinha um estilo inconfundível e mergulhava o leitor em novas profundidades de emoção e caracterização de seus personagens. E suas histórias de amor estão entre as melhores da literatura russa!

  1. Não terminou o Ensino Médio

Na Rússia, Búnin é considerado um intelectual e escritor do mais alto estilo. No entanto, ele não terminou a escola. Búnin nasceu em 1870, na província de Vorônej, 400 quilômetros a sul de Moscou, e seu pai o enviou a um colégio masculino na cidade de Ielets. Cinco anos depois, o menino foi passar as férias de Natal na propriedade da família e nunca mais voltou à escola.

Mas não se pode dizer que Búnin não tenha recebido educação. Ele tinha uma governanta que incutiu no menino o amor pela leitura e lhe ensinou várias línguas, entre elas o latim. Isso, no final das contas, ajudou enormemente o escritor em início de carreira: com a tradução de “O Canto de Hiawatha”, de Henry Longfellow, ele recebeu a primeira aclamação da crítica e primeiro grande prêmio literário.

Búnin tinha dois irmãos e uma irmã (a família teve ao todo nove filhos, mas cinco morreram antes de atingir a maioridade). Após Ivan deixar a escola, o irmão mais velho, Iúli, ocupou-se da educação do mais novo. Ele percebeu imediatamente que seu irmão não entendia matemática e apostou suas fichas em ciências humanas.

  1. Tornou-se famoso inicialmente como poeta

Para os filhos da nobreza, compor poesia era bastante comum — a habilidade de colocar rimar um par de versos era parte da etiqueta. Búnin começou a escrever versos bem cedo. Quando tinha 15 anos, um de seus poemas foi publicado em uma revista literária.

Ele foi editor por algum tempo, mas não conseguia ficar parado no lugar: ele se mudava de cidade em cidade e viajava bastante. No final das contas, buscando fazer carreira literária e um rendimento estável, ele partiu a São Petersburgo e Moscou.

Búnin se ligou bem rápido à elite da poesia e da literatura de ambas as cidades, relacionava-se com poetas simbolistas em voga, conheceu Anton Tchékhov e visitou o já então lendário Lev Tolstói.

Em Moscou, Búnin tornou-se membro do círculo literário “Sreda” (em português, “Meio”), junto com escritores populares à época como Maksím Górki e Leoníd Andreiev.

O escritor começou a ser mencionado após a publicação da coletânea de poesia simbolista “Listopad”, em 1901. Alguns críticos, porém, consideraram seus poemas monótonos, demasiado parecidos com a poesia do século 19, mas menos talentosos. No entanto, o crítico do Prêmio Púchkin identificou nos poemas de Búnin “uma linguagem maravilhosa, figurativa, que não foi tomada de empréstimo”. E isso lhe rendeu o prêmio.

  1. Viveu na pobreza e foi casado três vezes

Búnin era proveniente de uma família nobre empobrecida, o filho mais novo dela, e por isso não herdou nenhum bem ou propriedade. Desde cedo, ele tentou ganhar o próprio sustento. Ele empobreceu, pedia dinheiro ao irmão mais velho e se envergonhava enormemente de sua posição.

Mas sua paixão por viajar era tão grande que Búnin largava empregos o tempo todo e partia, pedindo dinheiro emprestado de novo e de novo.

A primeira união não oficial de Búnin foi com Varvára Paschenko, mulher emancipada e inteligente que trabalhava para na mesma revista de província que o escritor. Os pais dela não deram sua mão a Búnin, por isso o casal empobreceu. Búnin, além de tudo, entretinha-se com na vida social e continuava com suas viagens. Varvára não aguentou aquele estilo de vida e o deixou em 1894.

Alguns anos depois, Búnin conheceu em Odessa Anna Tsakni, filha de um grego rico que era editor de uma revista local, e se casou oficialmente. Mas jovem viveu com Búnin apenas alguns anos, durante os quais o escritor continuava a pedir dinheiro ao irmão.

Depois de ainda muito flanar, Búnin retornou a Moscou, onde conheceu Vera Muromtseva em um sarau na casa dela. Ele pediu novamente dinheiro a um amigo e levou Vera a uma viagem aos países do Oriente.

Eles visitaram a Palestina, o Egito e o Ceilão. Durante a viagem, ele escreveu os famosos contos “O senhor de São Francisco” (em coletânea intitulada "A mulher e a paisagem", de Stefan Zweig, de 1934, da editora Mundial; e também publicado no Brasil como “O Cavalheiro de São Francisco”, na coletânea de 1944 intitulada “Os russos: antigos e modernos”, da editora Leitura), “Liokhkoe dikhanie” (em tradução livre, “Leve respiro”, aparentemente ainda não vertido ao português) e muitos outros, que foram recebidos com entusiasmo pela crítica e aclamados pelo grande público.

  1. Foi um dos grandes escritores emigrados russos

Quando ocorreu a Revolução de 1917, Búnin estava em Moscou. Ele foi afetado pelos tumultos e tiroteios e passou a escrever um diário detalhado, que posteriormente publicou sob o título “Okaiannie dni” (aparentemente, sem tradução para o português; vertido ao espanhol como “Días Malditos”, publicado em 2007 pela editora El Acantilado). Decididos a não aceitar os bolcheviques no poder, Búnin e Vera deixaram Moscou em uma vagão-ambulância lotado com outros refugiados rumo a Odessa.

Com o início da Guerra Civil, Búnin trabalhou no departamento de propaganda de Anton Denikin, general do Exército Branco que chefiava o Exército Voluntário, divisão antibolchevique que agia no sul da Rússia. Após um ano e meio, ficou claro que os bolcheviques venceriam e, em janeiro de 1920, Búnin e Muromtseva tomaram navio a um vapor lotado e deixaram a Rússia para sempre.

O casal chegou a Paris, onde Búnin voltou a escrever ativamente. Suas obras começaram a ser publicadas em revistas de emigrados por toda a Europa e a falta de dinheiro diminuiu.

Em 33 anos de vida na França, ele não aprendeu francês - a comunidade de emigrantes russos era bastante ampla. Na década de 1920, os “escritores russos exilados” que viviam em Paris — entre eles, Ivan Chmelev, Dmítri Merejkovski e Konstantin Balmont — começavam a promover seus candidatos ao Prêmio Nobel de Literatura.

Como resultado, Búnin foi o primeiro escritor russo a recebê-lo. Isto ocorreu em 1933 e o prêmio lhe foi conferido, segundo o comitê, “pela rigorosa maestria com que ele desenvolve as tradições da prosa clássica russa”.

  1. Escreveu as melhores obras da literatura russa sobre o amor

Se você quer ler sobre amor na literatura russa, Búnin é essencial. Seus contos elegantes e líricos estão cheios de simbolismo. As mulheres em suas obras são seres efêmeros e enigmáticos, colocadas acima dos homens. Elas não são mais as castas senhoritas da literatura do século 19, mas criações incríveis nascidas para amores fortes e efêmeros.

As principais obras dele são o romance “Jizn Arsênieva” (em italiano, publicado como “La vita di Arsen'ev”, em 1966 pela Fratelli Fabbri Editori), a novela “O Amor de Mítia” (republicado recentemente em português pela editora 34 em tradução revisada de Boris Schnaiderman), os contos “Antonovskie iábloki” (em tradução livre, “As maçãs de Antonov”) e a supracitada “Liokhkoe dikhanie”. Provavelmente, porém, o auge de sua obra seja a coletânea de contos “Alamedas Escuras” (publicado em português pela editora Dom Quixote, parte da Leya).

Em toda sua obra, uma coisa é certa: Búnin é um inovador que mistura versos líricos em prosa e aprofunda as matizes de emoções e aflições de seus personagens.

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