5 indícios de que Maiakóvski foi a primeira estrela do hip hop

Natalya Nosova
O ministro da Cultura russo chamou Maiakóvski de “primeiro rapper” da história. Apesar de a afirmação ter gerado burburinho, o político não viajou na batatinha.

É claro que Vladímir Maiakóvski (1893-1930) não era rapper coisa nenhuma. Ele, como todos seus contemporâneos não podia prever o movimento e nunca fez uma batalha de MCs. Mas algumas evidências fazem com que a comparação  feita pelo ministro da Cultura russo, Vladímir Medínski, pareça lógica. De certa forma, Maiakóvski poderia ser um verdadeiro ‘gangsta’.

1. Rimas que caem bem em rap

Em primeiro lugar, o arroz com feijão: os poemas de Maiakóvski são elementares ao rap. Seu estilo específico inclui interromper frases repetidamente, dividindo-as em linhas curtas e cortantes. Elas soam incrivelmente chavosas em russo, mas até a tradução para outras línguas ajuda a entender como era o rapper Maiakóvski.

Medínski está longe de ter sido o único a dizer que Maiakóvski foi “o primeiro rapper”. Se os MCs lerem em voz alta suas letras e você não conhecer a fonte, é difícil distinguir entre Maiakóvski e o hip hop contemporâneo. É claro que o hip-hop russo também dificilmente será tão bom quanto a lírica maiakovskiana.

2. Ainda jovem, ele teve problemas com a lei

Estrelas do hip hop frequentemente têm problemas com a lei – e com Maiakóvski não poderia ser diferente. Socialista devoto, ele se juntou ao revolucionário Partido Bolchevique em 1908.

Por vários meses, Maiakóvski e seus trutas, ups, quer dizer, camaradas, opuseram-se ao regime tsarista nas ruas de Moscou. Eles organizaram, por exemplo, a maior fuga de uma prisão feminina da história da Rússia.

No caso de Maiakóvski, a lei venceu. A polícia capturou o jovem revolucionário e o deixou atrás das grades por 11 meses.

Aqueles eram tempos difíceis para um jovem Maiakóvski que amava a liberdade, como escreveu seu biógrafo Dmítri Bíkov: “Ficou claro que ele não suportava a ideia de ir para a prisão novamente”.

Mais tarde, Maiakóvski se opôs ao sistema tsarista, que ele detestava, somente em suas rimas.

3. Cheio de estilo e vivendo em ostentação

Quanto à moda, o jovem Maiakóvski era extravagante e, depois de se unir aos poetas futuristas, vestia no palco uma blusa amarela que ele mesmo tinha feito e zombava do público enquanto lia poemas novinhos em folha.

Às vezes, a burguesia ficava tão furiosa com a zombaria do poeta que o obrigava a sair do palco. Não parece nada agora perto de Roger Waters, mas isto aconteceu na década de 1910.

"Era impossível não amá-lo, no palco ele estava sempre brincando ", lembrava seu colega poeta Vassíly Kaminski.

Com a idade, Maiakóvski trocou a blusa extravagante por um terno e, depois, por uma jaqueta da classe trabalhadora, mas continuou elegante e adorava torrar dinheiro.

Lilia Brik em frente a automóvel em 1929.

Em 1928, depois de viajar para a França, ele trouxe de volta consigo um Renault para sua musa de longa data, Lilia Brik. Isto lhe custou uma pequena fortuna, mas sua amada era a única mulher soviética em Moscou a ter o próprio carro.

4. Estava sempre irado e humilhava os colegas

Os primeiros poemas de Maiakóvski, que são dedicados às nulidades ricas das quais ele tinha nojo, são tão cheios de ódio que se poderia confundi-lo com um disco do Eminem.

Bolchevique devotado, depois da Revolução de Outubro de 1917, Maiakóvski parecia um pouco mais feliz, mas no fundo ele continuava irritado, direcionando seu ódio ao capitalismo mundial.

Ele continuou a humilhar os poetas cujas obras considerava “sem classe [social, ou seja, a dos trabalhadores]” ou simplesmente ruins, especialmente Serguei Iessênin, outro grande poeta dos anos 1920, patriótico e de procedência rural. Maiakóvski o chamava de “tocador de balalaica” e zombava de seus poemas.

5. Teve um fim brutal

Diversos heróis norte-americanos do hip hop, principalmente Tupac Shakur e Notorious B.I.G., foram executados a bala em brigas de gangues. Maiakóvski se matou em 1930, como resultado de uma longa “guerra” contra si mesmo.

Por anos a fio, seu ideal de revolução e de um futuro socialista contradizia a realidade soviética, que se tornava cada vez mais burocratizada e opressiva. Maiakóvski tentava se encaixar na nova sociedade stalinista, mas não conseguia.

“Por 12 anos seguidos [após a Revolução de 1917], o homem Maiakóvski matava o poeta Maiakovski dentro de si. No ano passado, o poeta se levantou e matou o homem”, escreveu a poeta Marina Tsvetáeva em suas memórias.

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