Pinturas russas explicadas: ‘Garota com pêssegos’, de Valentin Serov

Cultura
GUEÓRGUI MANÁEV
Apesar da sensação positiva que esta tela absolutamente ensolarada traz, existe algo mais enclausurado por trás dela.

A menina da pintura é Vera Mamontova. Ela está sentada na sala de jantar da casa de campo do pai segurando alguns pêssegos. Uma cena aparentemente normal, mas há algo especial sobre esses pêssegos: eles foram cultivados na vila de Abramtsevo, na região de Moscou.

Abramtsevo passou a ser uma residência de arte a partir de 1870, quando foi comprada por Savva Mamontov, um rico comerciante e empresário de uma família de Velhos Crentes, além de renomado patrono das artes.

Ele convidava muitos artistas a Abramtsevo para curtir o campo, respirar a natureza e pintar. Certa manhã, Valentin Serov, de 22 anos, amigo da família e já artista renomado, viu Vera, a filha de 11 anos de idade de Savva, correr para a sala de jantar para pegar alguns pêssegos.

Durante um mês, a pobre Vera foi obrigada a posar para a pintura.

“Tudo isso porque eu me esforçava para alcançar este sentimento de frescor peculiar que sempre se sente na natureza e não se vê nas pinturas. Pintei por mais de um mês e a torturei, coitadinha, quase até a morte – eu tentava preservar a frescura da pintura até o fim, assim como os grandes mestres”, escreveu Serov.

Mais tarde, em 1896, a filha de Mamontov foi retratada mais uma vez, em "Garota com um ramo de bordo", de Víktor Vasnetsov. Mas esta tela não é nem de longe tão famosa como a anterior.

Vera acabou se casando com Aleksandr Samárin, funcionário público rico e influente, além de seguidor inveterado da crença ortodoxa. Ela morreu em 1907, com apenas 32 anos, devido a uma pneumonia e foi enterrada em Abramtsevo.

O filho de Vera, o filólogo Iúri Samárin (1904 - 1965), tornou-se agente dos serviços secretos soviéticos e passou informações que levaram muitos artistas a serem presos e executados nos anos 1930.

O granadeiro de brinquedo de madeira no peitoril da janela de “Garota com pêssegos”  está até hoje no mesmo local, que tornou-se um museu (a cerca de 60 quilômetros a nordeste de Moscou).

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