O jardim de Tolstói que foi parar em Connecticut

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Não faltam lugares em Moscou ligados à vida e à obra do grande escritor russo do século 19 Lev Tolstói. Mas o que seu jardim tem a ver com Connecticut, nos Estados Unidos?

Para chegar a Sherman, em Connecticut, é preciso dirigir por cerca de uma hora rumo a norte de Manhattan, em Nova York. Antes mesmo de chegar perto dali, a estrada termina e se inicia outra, através de uma densa floresta com muitos lagos esculpidos pelas geleiras.

Quando você finalmente chegar ao centro de Sherman, composto por meia dúzia de casas históricas americanas, tome o cuidado de não piscar – caso contrário, você estará fora da cidade e nem verá.

Esta é uma América muito diferente da que você encontrará nas cidades grandes, e é justamente este isolamento e serenidade que atrai os intelectuais norte-americanos ao pitoresco idílio.

Um pouco mais adiante do centro de Sherman, finalmente está a casa de campo de Robin Raybould, um empresário imobiliário nascido na Grã-Bretanha, escritor de histórias ambientadas na era medieval e romances de detetives, e um apaixonado por Lev Tolstói.

O jardim de Tolstói em Connecticut.

Junto com sua mulher, Elena, que é professora de literatura russa, ele construiu um monumento em memória de Tolstói. Mas não é um monumento comum: é uma réplica exata da enorme edícula do escritor em Moscou.

Visita a Moscou

“Estávamos em Moscou, em 2013, e vimos o esboço do jardim de Tolstói no Museu Tolstói, em Khamovniki. Quando voltamos para casa, decidimos que queríamos fazer algo para relembrar a obra e a genialidade de Tolstói. Elena, a responsável pelo jardim, teve a ideia de construir uma réplica do esboço do jardim”, relembra Robin em entrevista.

 A casa de Lev Tolstói em Khamovniki, Moscou.

Provavelmente todos conheçam a casa de verão de Tolstói, Iásnaia Poliana, próximo a Tula, a sul de Moscou. Mas sua casa em Khamovniki, um distrito vizinho a Moscou no século 19, onde Tolstói viveu por 19 anos, é muito menos conhecida.

Em Khamovniki, Tolstói escreveu muitas de suas obras, entre elas Ressurreição, A Sonata Kreutzer e outras.

“A edícula de Tolstói em Moscou impressiona pela simplicidade: não há nada imperial ou aristocrático nela. Ela tem apenas objetos originais: suas botas, sua bicicleta, a toalha de mesa que a mulher dele fez. Não há nenhum rastro de que um conde vivia ali. Seu desejo de viver como todos é o que nos impressiona”, diz Elena.

Propriedade-Museu Memorial de Lev Tolstói

A edícula de Tolstói reconstruída pelos Raybould foi feita por artesãos locais de Connecticut que ergueram, meticulosa e rapidamente, a estrutura apenas com uma fotografia. É uma cópia exata, com uma exceção: a porta está do lado e não na frente. Isto foi feito para não obstruir a vista da mesa, explica Robin.

Uma coincidência bizarra é que o tamanho da casa original de Tolstói é exatamente o mesmo que as leis de zoneamento locais permitem em estruturas secundárias de uma propriedade. Tecnicamente, de acordo com a lei local, a casa de Tolstói feita por Robin e Elena é classificada como "galpão" no jardim.

Homenagem ao grande escritor

A ideia, além de celebrar a genialidade de Tolstói, também tinha outro motivo.

“Nossa propriedade tem uma arquitetura eclética: é uma casa azul, com um celeiro vermelho, então eu disse a Robin, em tom de piada que a única coisa que faltava era uma casa amarela. E logo depois disso, estávamos em Moscou [em 2013] e eu vi a edícula de Tolstói em Khamovniki, e pensei: ‘Perfeito, é disso que precisamos para completar nossa casa’", conta Elena rindo.

Robin Raybould na casa amarela, em 2019.

Hoje, a réplica do esboço para o jardim de Tolstói é um lugar de reclusão e estudos, onde Robin pode escrever seus livros – que hoje já são seis.

Um busto de bronze de Tolstói o observa na tarefa. Ele foi encomendado especialmente à aclamada escultora britânica Felicity Patterson, irmã de Robin.

“O que Robin queria, é claro, era demonstrar respeito por este grande autor. Mas por ser alguém que adora livros, coleciona-os e escreve, obviamente o lugar é perfeito para ele se concentrar, ficar sozinho e se inspirar”, diz Elena.

Elena Raybould.

Apesar de a casa de Tolstói em Sherman não estar aberta ao público, uma vez por ano ela é palco de um festival cultural russo, onde dezenas de convidados se reúnem.

Assim, no espírito intelectual clássico de Moscou, a casa de Tolstói em Connecticut continua sua missão de promover a cultura russa e reunir aqueles que a apreciam.

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