De lavar chão com cabelo a se enterrar viva, russa desponta na cena de arte contemporânea

Cultura
ALEKSANDRA GÚZEVA
Instalações inusitadas marcam carreira de artista performática.

Muitas pessoas que não estão familiarizadas com arte contemporânea, mas que adoram assistir a séries, podem lembrar de uma cena de “Sex & the City”: em seu primeiro encontro com o artista russo Aleksandr Petrovsky (Mikhail Baryshnikov), Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) vai a uma galeria de arte. Ao chegarem, observam uma artista em cuja performance faz voto de silêncio e se recusa a comer por dias. Surpresa com o conceito, Carrie insiste para o casal verificar se a artista também mantém seus votos tarde da noite, quando a galeria já está fechada.

A estrela da performance era Marina Abramovic, uma artista performática bastante reconhecida. A também Olya Kroytor, de 32 anos, é frequentemente comparada com Abramovic, mas rejeita o rótulo: “Não concordaria com o ponto de vista de Marina Abramovic porque não é algo que compartilho e porque [performance] não é um espetáculo que todos os espectadores têm de estar envolvidos”. Ela também acredita que sua linguagem artística é mais universal e compreensível para o público em geral.

Aqui estão as performances mais memoráveis ​​de Kroytor.

Fulcro

Você já tentou ficar sobre o tronco de uma árvore por várias horas sem se mexer? Kroytor ficou duas horas em um poste de quatro metros de altura e cerca de 40 cm de diâmetro. Segundo a artista russa, “somente assim, subindo até o topo, é possível encontrar o seu ‘fulcro’, ou seja, o seu lugar na vida”. Esta é, sem dúvida, sua performance mais conhecida e lhe rendeu o Prêmio Kandinsky, apresentado anualmente em Moscou. Kroytor repetiu o ato várias vezes, inclusive no inverno.

“Fulcro é uma tentativa simbólica e, paralelamente, física de encontrar uma posição em uma realidade onde os valores familiares estão mudando e sendo substituídos por novos pontos de referência e paradigmas”, explica a curadora Oksana Tchviakina.

Sem título (túmulo aberto)

A artista se deitou em um túmulo na grama fechado com uma tampa de vidro. Nua e, como a “Vênus” de Botticelli, coberta apenas pelos cabelos, permitiu que multidões de espectadores passassem “sobre ela” e a submetessem ao escrutínio.

“Qualquer obra de arte é basicamente um artista nu contando ao espectador os detalhes mais íntimos sobre ele, e às vezes até o que ele tem vergonha ou medo...”, explica Olya em seu site.

A ideia dessa performance surgiu durante uma visita ao Louvre, quando sentiu “pena” da Mona Lisa. “Todos os dias milhares de pessoas vão observá-la e tirar fotos”, diz.

Casulo

A metáfora que constitui a base dessa performance é bastante clara: todo casulo está destinado a se transformar em uma linda borboleta. Mas, então, por que a artista, que já é bela, se prende a uma árvore enrolada em um casulo?

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Acontece que há outro significado. O casulo é também uma armadilha na qual uma linda borboleta pode cair. Assim, pode simultaneamente significar perigo e refúgio, a expectativa de um futuro brilhante e uma agonia mortal.

Purificação

Durante nove dias, Olya limpou o chão em uma sala de exposição usando seu próprio cabelo. Ela escolhia um visitante e os seguia com um balde de água; na sequência, limpava o chão com o cabelo molhado na frente das obras que o visitante parava. Essa era a maneira de a artista “sorver todas as memórias negativas, limpar o espaço cármico e absorver como uma esponja toda a dor, sofrimento, ressentimento e raiva”.

Para a artista, essa performance tornou-se um estudo sério de si mesma e de outras pessoas. Ela identificou vários estágios de comportamento por parte dos frequentadores: o medo, a superação da vergonha, a habituação e a impossibilidade de viver sem o outro – as pessoas voltavam para vê-la na galeria.

Isolamento

A solidão é um tema recorrente na arte de Kroytor – seja sobre um poste alto, em um túmulo, dentro de um casulo. “Todas as minhas performances são sobre como me sinto aqui e agora”, diz. “Isolamento”, que apresentou no Museu de Arte Contemporânea Garage, em Moscou, é mais obra da russa que aborda o tema.

Kroytor se fixou na parede com uma viga de madeira coberta por um tapete vermelho – um símbolo de sangue e de certos eventos importantes que podem literalmente transfixar uma pessoa – por exemplo, o momento em que não se pode fazer nada e que estamos tentando entender o que de fato está acontecendo. De acordo com Olya, a performance foi sua resposta ao conflito armado na Ucrânia.