“Eu bati com uma estaca”, disse o homem detido, calmamente, em frente às câmeras no último dia 25 de maio, antes de continuar: “Eu tinha bebido 100 mL de vodca no bar, e eu nunca bebo vodca...então, bateu legal”. Foi assim que um homem de 37 anos da cidade de Voronej, no centro da Rússia Europeia, explicou por que havia atacado a pintura histórica de Iliá Repin na galeria Tretyakov, uma das maiores de Moscou.
A pintura, de 1885, retrata o tsar russo Ivan, o Terrível sofrendo com o cadáver do filho nos braços, depois de matá-lo acidentalmente, e as mãos sujas de sangue (os historiadores ainda debatem, porém, se a história é realmente verdadeira). O agressor fez três buracos na tela.
No entanto, este acidente está longe de ser o único caso em que uma obra foi atacada na Rússia (ou com o envolvimento de russos).
1. “Ivan, o Terrível”, de Iliá Repin
Esta obra de arte causou problemas desde o início – nos tempos do Império, muitos se doeram pela pintura sombria. O crítico de arte do jornal “Kommersant” Dmítri Butkevitch ressalta: “O público reclamava que a imagem os deixava zonzos e havia rumores de que Iliá Repin teria perdido a força da mão depois de pintá-la”.
Sergei Vidyashkin/Moskva Agency
Em 1913, Abram Balachov, um jovem que não mostrara sinais de confusão mental antes, esfaqueou a pintura, gritando: “Chega de sangue!”. Repin, que ainda estava vivo na época, trabalhou com restauradores durante meses para reparar os danos. Cem anos depois, no entanto, a arte ainda continua sendo um alvo de vândalos.
2. “Dânae”, de Rembrandt
Essa obra de arte de Rembrandt foi comprada para o Hermitage pela imperatriz Catarina, a Grande e ficou exposta pacificamente no museu de São Petersburgo até 1985. Naquele ano, porém, um cidadão soviético da Lituânia, chamado Bronius Maiguis, jogou ácido sulfúrico e cortou a tela com uma faca.
Seus motivos eram duvidosos. No início, Maiguis alegou que era sua maneira de defender a independência da Lituânia da URSS, mas depois disse ser contra a nudez na arte. “Segundo os médicos, ele tinha problemas psíquicos, o que levou a ficar obcecado com a luta contra a ‘sem-vergonhice’”, explicou uma fonte ao Fontanka.ru.
Sergey Kompanichenko / Sputnik
Maiguis passou oito anos em um hospital psiquiátrico. Quanto a “Dânae”, foram necessários 12 anos para reparar o estrago: os restauradores fizeram o impossível para salvar a obra de arte, que pode ser vista no Hermitage através de um vidro blindado.
3. “Mona Lisa”, de Leonardo da Vinci
As pessoas podem ser perigosas quando estão chateadas, e uma russa provou isso em 2009, durante uma viagem ao Louvre, em Paris. Ela alegou que as autoridades francesas haviam negado sua cidadania – e, por isso, ela…jogou uma caneca de cerâmica contra a mais famosa pintura de Leonardo da Vinci, “Mona Lisa”.
Ringo Chiu / Global Look Press
Mas essa não foi a primeira ou a mais séria tentativa de danificar a “Mona Lisa”. Em 1956, um visitante jogou ácido, e outro usou uma pedra. Por isso, em 2009, o museu já estava bem preparado: a caneca não quebrou o vidro blindado, e a russa que o jogou foi detida em pouco tempo. Depois de alguns dias, as autoridades a libertaram.
4. “Cruz Branca”, de Malevitch
Esse incidente envolvendo o trabalho do pintor da vanguarda russa do século 20 ocorreu em 1997. Em visita a Amsterdam, o artista russo Aleksander Brener pintou um cifrão verde na obra de Malevitch utilizando um spray.
Valery Khristoforov / TASS
Para Brener, foi um ato simbólico, zombando de um mundo da arte obcecado por dinheiro. “Eu crucifiquei o dólar, como Jesus”, escreveu ele, afirmando, ironicamente, que o produto (a pintura da obra de arte com um cifrão) era trabalho conjunto de Malevitch com ele mesmo. Um tribunal holandês, no entanto, não aprovou o ato e enviou Brener para a prisão, exigindo ainda uma compensação de aproximadamente US$ 10 mil. O desfecho, porém, foi bom para todas as partes – a tinta verde foi removida com facilidade, e Brener achou a prisão holandesa “liberal e coerente”.
5. Fotos de Jock Sturges
Quando uma exposição de obras do fotógrafo norte-americano Jock Sturges, que muitas vezes fotografa famílias nudistas e, consequentemente, crianças nuas, chegou à Rússia em meados de 2016, provocou indignação entre vários políticos e movimentos conservadores que a consideraram “pornográfica” ou, no mínimo, provocativo.
Kommersant
O escândalo atingiu seu clímax quando, em setembro daquele ano, um russo chamado Aleksandr Petrunko jogou um líquido desconhecido (talvez, urina, embora Petrunko afirmasse se tratar-se de “lama terapêutica”) nas fotos de Sturges expostas no Centro de Fotografia Irmãos Lumière, em Moscou. O agressor acabou sendo detido por oito dias, e a exposição foi encerrada – embora tenha sido reaberta no final de 2017.
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