Obra-prima que retrata Ivan, o Terrível matando filho é danificada por vândalo em Moscou

Cultura
ANGELINA GRIGORIAN, IÚLIA CHAMPOROVA
Famosa tela do pintor realista russo Iliá Repin foi perfurada com estaca de metal. Segundo agressor, quadro seria uma “falsa representação da história”.

Na última sexta-feira (25), um homem de 37 anos destruiu o painel de vidro que protegia a pintura “Ivan, o Terrível, e seu filho Ivan, em 16 de novembro de 1581”, de Iliá Repin, exposta Galeria Tretyakov, em Moscou. A obra sofreu perfurações em três pontos, além de ter a moldura quebrada.

“Felizmente, as partes mais valiosas do quadro – as figuras retratadas e as mãos do tsar e do filho – não foram prejudicadas”, disseram os representantes da galeria aos repórteres. A tela já foi enviada para restauração.

O agressor disse acreditar que a pintura seja uma falsa representação da história, já que mostra Ivan, o Terrível, matando seu filho, “o que que não é verdade”.

No entanto, esta não é a primeira vez que a obra, pintada em 1885, é alvo de protestos. Em 1913, um pintor de ícones chamado Abram Balachov rasgou a pintura na mesma galeria. Na época, Repin seguiu imediatamente à Tretyakov para retocar seu trabalho, mas não conseguiu concluir a restauração por estar sofrendo de daltonismo. O reparo foi possível graças a fotografias tiradas antes do incidente.

História sobre história

A pintura “Ivan, o Terrível, e seu filho Ivan, em 16 de novembro de 1581”, mostra o tsar matando seu filho, o príncipe Ivan, em um ataque de raiva. Os historiadores continuam a debater o assassinato, e alguns deles insistem que o fato jamais ocorreu.

Para compor a imagem, Repin se inspirou em dois eventos: o assassinato a sangue frio do imperador Aleksandr 2º, que foi morto em uma explosão em 1881, e o aparecimento de “A Doçura da Vingança”, o segundo movimento da suíte sinfônica de Rímski-Kórsakov “Antar”, que o artista ouviu pela primeira vez em Moscou.

“Em Moscou, em algum momento de 1881, ouvi a nova composição de Rimsky-Korsakov ‘A doçura da vingança’. Esses sons tomaram conta de mim e imaginei se conseguiria capturar em uma pintura o humor e o efeito que essa música exerceu sobre mim. Eu me lembrei do tsar Ivan”, descreveu Repin em suas memórias.

O quadro foi apresentado ao público pela primeira vez em São Petersburgo durante uma exposição de um grupo de artistas realistas conhecidos como Peredvijniki (Andarilhos), sob o título “Filicídio”. O patrono das artes Pável Tretyakov ficou tão impressionado com o trabalho que o adquiriu de imediato.

O filho do tsar

O modelo de Repin para o tsarevitch foi o escritor russo Vsevolod Garchin, que mais tarde se suicidou jogando-se de uma escada.

O tsarevitch Ivan participava não só de todas as recepções políticas, mas também de campanhas ao lado do pai, embora não fosse uma figura política. Ele era o filho mais velho e, segundo relatos, também o mais amado de Ivan, o Terrível.

Aos 27 anos, o filho do tsar já havia se casado três vezes, mas a ausência de herdeiros fez com que suas duas primeiras mulheres fossem confinadas em um convento. Apesar da terceira mulher ter dado à luz, ele jamais viu a criança. Após sua morte, a terceira e última mulher do tsarevitch também foi enviada para um convento.

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