A Fossa das Marianas é uma fossa oceânica no oeste do Oceano Pacífico, perto das Ilhas Marianas. Seu formato parece uma lua crescente de 2,5 mil quilômetros de extensão. É lá que se encontra o local mais profundo do planeta, conhecido como Challenger Deep — chamado assim em homenagem ao navio Challenger, responsável por sua descoberta.
A profundidade média do Oceano Pacífico é de 4 km, mas, na Fossa das Marianas, chega a aproximadamente 11 km. A pressão da água no fundo da fossa atinge 1.100 atmosferas, ou seja, 1.100 vezes a pressão atmosférica normal na superfície da água.
Este lugar é menos estudado do que o outro lado da lua, e havia menos pessoas na Fossa do que no espaço. Porém, é justamente por sua inacessibilidade que a Fossa das Marianas se tornou mais um desafio para a humanidade, que queria saber qual sua profundidade máxima e como sobreviver a uma incursão ali.
Corrida para encontrar o ponto mais profundo
A Fossa das Marianas foi descoberta em 1875 por uma expedição britânica. O navio Challenger, com a ajuda de um instrumento hidrográfico especial, mediu uma profundidade de 8.367 metros. A amostra de solo tinha areia vulcânica escura e a temperatura da água no fundo não ultrapassava 1 grau.
Todos os instrumentos que foram baixados às profundezas foram trazidos de volta quebrados ou danificados devido à enorme pressão. Naquela época, essa não era considerada a maior profundidade possível da Terra: todos os países com frotas buscavam o ponto mais profundo do planeta e, um ano antes, em 1874, o navio americano "Tuscarora" havia encontrado um ponto a nordeste do Japão de 8.513 metros de profundidade.
O próximo a estudar a Fossa das Marianas foi o navio lança-cabos americano Nero, que, em 1899, mediu uma profundidade de 9.636 metros da fossa, perto de Guam, a maior das Ilhas Marianas. Os dados do Nero, porém, foram criticados devido a inúmeros erros causados por inclinação, flexão e alongamento do cabo de medição.
Mais de 30 anos depois, os navios japoneses Mansui, Kosui e Iodo, equipados com sonoras, mediram um novo fundo, quase 200 metros abaixo do anterior, de 9.814 metros. No entanto, parecia que este não era o limite.
Em 1951, o novo navio hidrográfico britânico Challenger (que herdou o nome do navio que descobriu a Fossa das Marianas) bateu o recorde e, com o auxílio de cabos especiais, mediu uma profundidade de 10.830 metros.
Foi um recorde absoluto. A profundidade foi considerada incrível — suas dimensões são maiores que a montanha mais alta do planeta, o Everest (com 8.849 metros de altura).
Os cientistas acreditavam que nesse abismo negro, onde a luz do sol não penetra, não haveria um único ser vivo. Mas a expedição soviética provou o contrário.
O navio que mediu a Fossa das Marianas
No final dos anos 1950, a União Soviética também procurava o ponto mais profundo do planeta. A tarefa foi realizada pelo Vityaz, um navio de carga alemão com deslocamento de 5,5 toneladas, que os soviéticos receberam no âmbito das reparações pós-guerra. Adaptado para as necessidades de pesquisas científicas, Vityaz cruzava os oceanos Pacífico, Índico e Atlântico desde 1949.
Entre os anos de 1957 e 1958, o Vityaz explorou dez valas de águas profundas na Fossa das Marianas e encontrou um ponto com profundidade máxima de 11.022 metros — um recorde que ninguém quebrou até agora. Acredita-se que esta seja a profundidade máxima dos oceanos da Terra.
“Você não podia se mexer no laboratório onde estão as sonoras: todos queriam estar presentes lá no momento da descoberta”, lembrou um dos participantes da 25º expedição do Vityaz, o oceanógrafo Vitáli Voitov.
"A sonora desenhava um declive acentuado. A linha de profundidade desaparecia, depois aparecia de novo. Todos olhavam ansiosamente: quando acabaria a encosta? Finalmente, víamos uma área plana. Ouvimos o comando ´pare o navio!´ [...] Começava o trabalho dos hidrólogos: a análise dos termômetros de profundidade, do sal em diferentes profundidades para corrigir os dados das sonoras [...] Finalmente, tudo estava pronto, todos os cálculos estavam concluídos. O Vityaz descobriu a profundidade máxima dos oceano de todo o mundo: 11.022 metros!"
Mas essa corrida entre os pesquisadores por algumas centenas de metros adicionais não era o principal objetivo das expedições de longo prazo. Os oceanógrafos soviéticos fizeram ali uma descoberta muito mais importante.
Descoberta soviética
Antes da viagem soviética à Fossa das Marianas, as suposições sobre a vida a mais de 6 mil metros de profundidade pareciam ridículas e ninguém acreditava que um ser vivo fosse capaz de se adaptar a condições tão severas.
No entanto, o Vityaz provou o contrário. Com a ajuda de redes de arrasto especiais, os cientistas descobriram microorganismos nas profundezas do Oceano. Isso contrariava a suposição de que nenhum ser vivo poderia sobreviver em tais condições de pressão.
Mais tarde, em 1960, a expedição do suíço Jacques Picard e do americano Don Walsh confirmou a descoberta soviética. Em 23 de janeiro, eles se tornaram as primeiras pessoas na história a descer ao fundo da Fossa das Marianas, a uma profundidade de quase 11 km. O batiscafo "Trieste" passou cinco horas descendo ao fundo da fossa. Os cientistas passaram 12 minutos nessa profundidade, antes inimaginável, e viram na vigia um camarão e um peixe semelhante a um linguado.
A corrida continua
Mas a busca pelo ponto mais profundo dos oceanos não acabou até hoje. Após a expedição soviética de 1984, hidrógrafos japoneses tentaram alcançar o fundo da Fossa das Marianas e determinaram que sua profundidade seria de 10.924 metros, ou seja, 98 metros a menos que as medições soviéticas.
Em 2020, o vice-diretor geral da Fundação para Estudos Avançados da Rússia, Ígor Denisov, declarou que as medições do navio soviético Vityaz podem ser consideradas imprecisas.
Uma expedição foi enviada para a fossa novamente: um moderno drone Vityaz registrou a profundidade ainda menor: 10.028 metros. “Dessa forma, temos informações para analisar: provavelmente, o Vityaz soviético mediu a profundidade incorretamente ou o próprio fundo da fossa mudou. Tudo isso está sujeito a análise”, disse Denisov.
No entanto, na comunidade científica, os dados do novo drone Vityaz também são criticados. O vice-diretor do Instituto de Oceanologia da Academia das Ciências da Rússia, Andrêi Sokov, diz não haver motivos para duvidar das medições feitas pelo Vityaz soviético em 1957.
“Em 1957, o navio soviético realizou pesquisas em larga escala, com um árduo trabalho diário. Não é à toa que dizem que o fundo do oceano é menos estudado que o outro lado da lua. É um trabalho duro e sério. Duvido muito que o novo drone tivesse o objetivo de medir a profundidade com precisão: sua tarefa era apenas testar o drone. A profundidade máxima registrada não mudou", afirma Sokov.
LEIA TAMBÉM: Poço Superprofundo de Kola, a misteriosa porta de entrada para o inferno cavada na URSS
Para ficar por dentro das últimas publicações, inscreva-se em nosso canal no Telegram