As joias artificiais criadas pelos físicos soviéticos

Zircônia cúbica soviética, 1987.

Zircônia cúbica soviética, 1987.

Maksim Blokhin/TASS
Rubis e esmeraldas sintéticas eram originalmente os detritos da produção militar-industrial, mas se tornaram invenções engenhosas da joalheria na URSS.

Durante a era soviética, eram populares joias grandes de ouro com enormes pedras coloridas. Anéis com alexandritas ou brincos com rubis ainda estão guardados nos cofres de muitas mulheres da antiga União Soviética. Provavelmente, muitas não sabem que a maioria dessas pedras foram criadas em instituições científicas e seu propósito estava longe de servir como joias.

As melhores amigas das moças: zircônia cúbica

Fianitos, 1987.

Na Rússia, a contrapartida mais popular do diamante é o fianito, um cristal quase tão duro e brilhante quanto um diamante, mas de custo muito baixo. No exterior, ele é chamado de zircônia cúbica (CZ, ou cristal de dióxido de zircônio), enquanto nos países da CEI (Comunidade dos Estados Independentes), é exclusivamente fianito.

O nome foi tomado de empréstimo do FIAN, ou seja, Instituto de Física da Academia de Ciências, insituição de sete vencedores do Prêmio Nobel, que está localizada em Moscou.

Os cientistas do instituto desenvolvem projetos óticos para aplicação civil e militar, pois os cristais não são feitos apenas para joalheiros. Eles também são utilizados para instrumentos médicos (por exemplo, os dentistas têm bisturis revestidos com zircônia cúbica), assim como dispositivos óticos.

Mas a indústria precisava inventar um cristal barato e sem defeitos, com certas propriedades óticas semelhantes às dos diamantes. Na década de 1960, o departamento de monocristais foi estabelecido na FIAN, e se dedicava à obtenção de materiais vítreos para lasers.

Viatchesláv Osiko (no meio) e sua equipe.

O fianito foi sintetizado em 1970 por meio do aquecimento do dióxido de zircônio a 2.500 graus Celsius. O grupo de cientistas liderado pelo pesquisador Viatchesláv Osiko chamou a atenção para as várias aplicações da nova pedra. Foi assim que os joalheiros passaram a usar este cristal.

Nos anos 1980, era moda usar joias enormes com pedras de fianito.

A pedra é perfeita: não desvanece, é sólida, transparente e, quando cortada corretamente, parece um diamante. Na Rússia, a zircônia cúbica é especialmente popular com ouro, e até mesmo emparelhada com pedras preciosas reais. O preço de tal peça é duas ou três vezes inferior ao de um diamante.

Além de pedras incolores, pode-se encontrar zircônia cúbica rosa, preta e amarela para todos os gostos. Ela é obtida por meio da adição de certos metais. Por exemplo, o verde requer uma mistura de cromo, a cor de conhaque requer titânio, e o azul requer cobalto.

Um fianito moderno em exibição em Moscou.

É claro que se pode distinguir o fianito de um diamante até mesmo a olho nu: o fianito é transparente, não tem nenhum defeito ou "bolhas" no interior, e se você respirar nele, ele fica embaçado (um diamante de verdade não fica).

Alexandrita e rubi sintético

As pedras vermelhas sempre foram consideradas caras na arte da joalheria, pois não existiam em muitos lugares. No século 19, cientistas na Europa tentaram sintetizar rubis e coríndon.

A União Soviética teve muito sucesso na produção em massa de pedras sintéticas: praticamente todas as pedras preciosas vermelhas na joalheria eram sintéticas. Como ocorreu com a zircônia cúbica, as pedras vermelhas seriam utilizadas na indústria de relógios e lasers.

A cantora de ópera Bibigul Tuleguenova com brincos de rubi artificial soviético.

O primeiro coríndon soviético surgiu em 1939, no Instituto de Cristalografia de Moscou. Em 1947, os químicos Aleksêi Chubnikov e Savva Popov desenvolveram um método que permitiu a produção em massa do coríndon, e por isso eles ganharam uma premiação estatal.

Mais tarde, a União Soviética aprendeu a produzir alexandritas artificiais: pedras capazes de mudar a cor de esmeralda para rubi, dependendo da luz. Elas são extraídas somente em alguns lugares da Terra, e as pedras Urais são consideradas uma referência.

As alexandritas de fabricação soviética também eram buscadas entre os joalheiros estrangeiros, pois eram muito bem-feitas. O método desenvolvido no Instituto de Cristalografia foi chamado de cristalização direcional horizontal (ele também chamado muitas vezes de "método Bagdasarov", em homenagem ao chefe do grupo de cientistas que o criou).

De forma simplificada, ele é feito assim: uma folha de molibdênio é dobrada na forma de um barco. Uma mistura de produtos químicos é então colocada ali e enviada para uma unidade de aquecimento. Dentro de uma semana, a alexandrita cresce a partir dessa mistura.

Outros países utilizam tecnologias diferentes, porém. Nos EUA, por exemplo, as alexandritas são retiradas a partir de fundição. A alexandrita de fabricação soviética é, porém, a mais durável.

Atualmente, as pedras vermelhas sintéticas têm diferentes tonalidades e são tão populares quanto as naturais. Pode-se notar a diferença com um espectrômetro especial, já que as pedras reais e sintéticas têm diferentes espectros de absorção de luz. As pedras naturais também raramente vêm sem grânulos.

Esmeralda geotérmica

Geothermal gems.

Embora a Rússia tenha um grande depósito de esmeraldas nos Urais, a indústria também precisava de análogas mais baratas. O verdadeiro avanço na criação de esmeraldas artificiais foi realizado por cientistas do Instituto de Geologia e Geofísica de Novossibírsk no início dos anos 1970, sob a liderança de Vladímir Kliakhin.

O ponto principal de seus estudos foi a criação de um crescimento estável do cristal de esmeralda a partir de soluções geotérmicas, que se revelou muito rico em cores e sem nenhuma rachadura. No final dos anos 1980, um empreendimento conjunto com a Tailândia chamado Tairus foi estabelecido com o objetivo de produzir cristais sob a marca "Russian Emerald", inclusive para exportação. Leva cerca de um mês para produzir cem gramas de esmeralda geotérmica.

Essa produção ocorre até hoje com bastante sucesso, criando não apenas diferentes tipos de esmeraldas, mas também alexandritas, rubis e safiras. As pedras geotérmicas têm as mesmas propriedades das pedras naturais, exceto que são cultivadas pelo homem, de acordo com a Tairus.

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