Durante a década de 1950, a Guerra Fria entre as duas superpotências às vezes esquentava bastante: não apenas tentando se superar em termos de proezas militares, mas também na corrida espacial. Sabe-se que os mísseis ganhavam atenção quando se tratava de tirar o rival do mapa com o simples apertar de um botão. O espaço, por outro lado, era mais uma questão de prestígio: estar no controle dos céus (e além) e flutuar acima do território do inimigo era uma conquista incalculável.
Houve um tempo, no entanto, em que esses dois objetivos se tornaram um: quando cientistas soviéticos consideraram seriamente bombardear a Lua. Mais tarde, porém, eles descobriram que os americanos estavam planejando quase a mesma coisa.
Corrida pela Lua
Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a pisar no satélite natural da Terra. Depois de alcançar a Lua a bordo do módulo Apollo 11, ele desembarcou no chamado Mar da Tranquilidade em 1969 (embora algumas pessoas ainda duvidem disso). A URSS nunca chegou a realizar esse feito. No entanto, uma década antes, os soviéticos haviam assumido a liderança na corrida espacial.
Em 14 de setembro de 1959, a sonda automática Luna 2 pousou pela primeira vez na superfície da Lua – em uma viagem de ida apenas. A sonda foi (literalmente) disparada do Cosmódromo de Baikonur e, após um voo de 33 horas, chegou ao solo lunar, para ali permanecer por toda a eternidade. Em 1959, os Estados Unidos nem sequer sonhavam em fazer algo do tipo. O primeiro administrador da Nasa, T. Keith Glennan, elogiou a União Soviética por enviar a sonda não tripulada à Lua.
Semanas depois, o líder soviético Nikita Khruschov visitou os Estados Unidos e orgulhosamente presenteou seu homólogo norte-americano Dwight Eisenhower com uma cópia do objeto que os russos haviam deixado na Lua (e que ainda pode ser visto em um museu na cidade natal de Eisenhower, no Texas).
Prova irrefutável de poder
O Luna 2 foi resultado de diversos testes falhos e projetos rejeitados. O físico atômico Iákov Zeldóvitch esteve por trás do mais ambicioso deles, apenas um ano antes de os soviéticos lançarem a sonda em 1958. Zeldóvitch propôs à agência soviética algo supostamente melhor do que enviar a simples sonda: armá-la com uma ogiva nuclear.
Os soviéticos avaliaram seriamente a ideia por uma questão bastante curiosa: era pequena. Tão pequena que Moscou temia que não chamasse atenção suficiente ao colidir com a Lua – algo fácil de evitar se carregasse-a com uma bomba nuclear.
“A ideia era que, quando a explosão ocorresse, seria acompanhada por um flash tão grande que qualquer observatório espacial com mira na Lua pudesse registrá-lo”, explicou o cientista e engenheiro soviético Borís Tchertok em seu livro “Foguetes e Humanos”. Tchertok era um dos assessores mais próximos de Serguêi Koroliov, um dos diretores do programa espacial soviético.
Não era uma grande ideia
Mas a Lua sobreviveu. Tchertok e Mstislav Keldich, outro diretor do programa espacial, conseguiram dissuadir Koroliov, e depois Zeldóvitch, de prosseguir com o plano. Os riscos eram grandes demais. Se a sonda se desconectasse, ela poderia colidir com a Terra, juntamente com sua carga, e a URSS sofreria as consequências. Se isso ocorresse no espaço e a sonda não queimasse na atmosfera, a bomba poderia cair em qualquer lugar do planeta, e uma nova Guerra Mundial seria certeza.
Moscou conseguiu que a trajetória de voo da Luna 2 fosse registradas pelos radares ocidentais sem recorrer ao uso de uma bomba nuclear: o diretor de um observatório britânico foi informado para que supervisionasse as etapas finais da viagem. Isso confirmou o sucesso soviético para os EUA – e ninguém duvidaria dos soviéticos.
Enquanto isso, nos EUA...
É curioso como, apesar de toda a rivalidade, os soviéticos e os americanos eram parecidos de tantas maneiras. E ainda mais bizarro que a ideia de bombardear a Lua fosse um exemplo desse padrão de pensamento semelhante. Só que, nos EUA, esse plano foi elaborado pelos militares. Sua existência veio à tona no final dos anos 90.
De acordo com o projeto A119, criado há cerca de 50 anos, a Nasa deveria bombardear a Lua pelo mesmo motivo pensado pelos soviéticos.
“Era evidente que o principal objetivo da detonação proposta era um exercício de relações públicas e uma demonstração de superioridade. A Força Aérea queria uma nuvem de cogumelo tão grande que fosse visível da Terra”, disse Leonard Reiffel, um dos cientistas do projeto A119, ao jornal “The Guardian” em 2000.
“Eu deixei claro na época que seria um custo enorme para a ciência destruir um ambiente virgem como a Lua, mas a Força Aérea dos Estados Unidos estava preocupada principalmente com o desenrolar da explosão nuclear sobre a Terra.”
Como se sabe hoje, o bom senso prevaleceu. A ciência conseguiu convencer os militares, fazendo-os enxergar que o bombardeio do nosso único satélite natural não era apenas perigoso para a humanidade, mas uma ideia obviamente tola.